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quarta-feira, 5 de abril de 2017

OS FILHOS




         Sempre admirados pelo mistério que todos somos, olhamos para nossos filhos, questionando: Quem são? De onde vieram? Porque vieram parar aqui, conosco? A quem “puxaram”?  Às vezes tão parecidos, ou tão diferentes, de nós! E mesmo quando fisicamente parecidos, conosco ou com os irmãos, são tão únicos, tão diferentes entre si! Ainda que estejamos unidos por laços tão intensos, eles se mostram ora mais agarrados, devotados, ternos, parceiros, gaiatos, cuidadosos, sérios, rígidos, confiantes, confiáveis... ora mais rebeldes, desligados, depressivos, exultantes, “secos”...  Cada um trouxe um temperamento! De onde vieram?  Que bobagem acharmos que são nossos e que sabemos tudo deles!  Quem são eles?

            Estabelecemos relações intensas, com doação total, mas teimamos em esquecer que são únicos, que crescerão, que necessitarão, cada vez mais, de espaço e liberdade para voarem para longe de nós, para poderem curtir a vida a seu modo, errando. aprendendo, crescendo! Quando os recebemos, doces “pacotinhos de gente”, tão frágeis e dependentes, nós os amamos, e ainda mais, esquecemos que não são nossos! Estão tão pertinho, tão juntinho de nós, tão engraçadinhos, que fica difícil entendermos que são outras pessoas, que forjarão outras histórias, outros destinos.  Não queremos ver e sofrer com suas “dores de crescimento”. Para acalmar nossos medos e nossos corações agoniados, tentamos fazer com que sejam seguros “repetidores” da experiência dos mais velhos. Mas, para nosso desespero, a vida os seduz e os empurra para seus desafios. Tudo que pudemos, de certo ou errado, passamos a eles, mas os resultados de suas escolhas são absolutamente particulares. Eles trazem uma bagagem e há um propósito sagrado para cada um deles. Afinal, esse é o sentido de estarmos aqui! .

            A natureza nos fez cuidadores e protetores de nossos filhos. O que nos une a eles é um instinto básico, de amor e responsabilidade, maior que nós mesmos, Fomos criados e cuidados com todo esse amor por nossos pais, mas são nossos filhos, o nosso amor maior! O fato de sermos “seres superiores e racionais” na Natureza, não muda esse instinto. Ele é pré-existente a nós e, se mantém para além do inicial sobreviver dos filhos.  Acrescentamos cuidados mais específicos, em tempo mais prolongado, para atender à sua especial capacidade racional/intelectual e para o desabrochar de suas complexas possibilidades de seres espirituais.  Nesse longo e difícil caminhar humano, contrariando o próprio instinto, sobrepondo-se a ele, alguns filhos foram abandonados, esquecidos, até brutalizados! No entanto, essa forma antinatural decorre de circunstâncias extremas  de graves desequilíbrios psicológicos e afetivos dos pais.

            Estamos aqui de passagem. Aqui, todos nos encontramos, certamente, como filhos e, às vezes, como pais de nossos filhos. Essa é uma grande oportunidade. Nesse especial encontro humano, acertamos e falhamos. Muitas vezes, confusos, culpados, amedrontados, até desesperados, quisemos, escapar de algo tão intenso e grande para nossa humanidade, ainda tão trôpega e frágil, como criar os filhos e cuidar dos velhos pais. Acredito que um Poder Maior de Puro Amor e Sabedoria apostou em nós ao decidir esse Encontro. Acho importante lembrar-me sempre que há nesse encontro um Propósito Maior, um Sentido Maior, do que nossos  transitórios laços e apegos físicos.

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