Resguardar
limites é o que garante respeito à dignidade e à individualidade de cada um de
nós em quaisquer relações. Mas, quanto mais próximas essas relações,
estabelecer e resguardar esses limites, revela-se muito difícil e até muito
doloroso!
Queríamos poder ser pais, mães, avós,
irmãos, amigos... perfeitos e heroicos, abraçando e protegendo aqueles que
tanto amamos. Desejávamos ser para eles o sustento, a direção, a condução...
Mas, hoje aprendemos que eles precisam caminhar sozinho, e nós também! Mesmo quando temos destinos próximos, todos somos
únicos e, quando tudo se mistura e embaralha, sentimo-nos aleijados,
dependentes, presos e lutamos, instintivamente, pela necessidade de nos
desvencilhar uns dos outros.
Até chegarmos a esse entendimento e
optarmos por estabelecer esses limites, quantas experiências, quantos erros,
quantas decepções, quantas culpas, quantas tentativas, quantas idas e vindas
tão dolorosas! Parece ter que ser assim. Só aprendemos e avançamos aos trancos,
no “tranco”, na dor!
Estabelecer e resguardar limites,
quaisquer limites, é abrir mão da tentativa de poder, de controle do outro. É a
retomada de poder sobre nós mesmos e do nosso espaço; é o aprender a viver a
própria vida, sem se escorar naquele que pretendíamos controlar; é abrir mão do
laço apertado de apego, ao qual nos acostumamos ao amar. Exige uma revisão do
que é “amor”, do que é amor a nós mesmos e do que é amor aos outros. Exige,
também, muita honestidade com meus propósitos, com meus sentimentos, meus
medos, minhas próprias dependências, com o limite do que posso, do que ainda aguento,
nesse embaralhar de vidas e caminhos. Exige, sobretudo, coragem para olhar o Outro,
suas mágoas e espanto, quando nos negamos a aceitar seus hábitos invasivos e suas
expectativas em relação a nosso espaço e disponibilidade, antes tão dedicados a
ele. Exige, também, coragem e perseverança para resistir às culpas, ao medo de
perder, de ser rejeitado, às manipulações e às tentativas contínuas de volta
aos velhos hábitos e apegos. Exige abrir mão de nossa imagem de “legal, de
bonzinho, de herói”!
Nossos medos e apegos é que nos
levaram a aceitar mentiras, desculpas arranjadas, manipulações tolas, promessas
repetidas de mais respeito na relação... Eles nos levaram a acreditar no
inacreditável, para adiar ou rever a tomada de atitudes que resguardassem
nossos limites. “É a última vez...” “Você promete?...” Tudo é tão difícil! Dói Tanto!
Em qualquer desligamento de nossas simbioses,
como num desmame, um chora porque se sente abandonado e injustiçado e o outro
sofre porque se sente culpado e esvaziado. É muito doloroso, mas é
necessário. É o preço que temos que
pagar pela Liberdade, pela Verdade, pela Dignidade, pelo Direito de sermos o
que somos, de sermos o que podemos e queremos ser e para permitirmos que o
Outro siga de seu jeito, ainda que a princípio reclame e não queira.
Respeitar regras estabelecidas e
atualizadas, ser assertivo, estabelecer, comunicar e resguardar meus limites é
o que garante o respeito a mim e ao Outro; é o que faz valer a pena nossas
relações.
Perfeito! Muito obrigado, Abraço Fraterno.
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