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quinta-feira, 26 de outubro de 2017

REPARAÇÃO




          O processo de gradativa tomada de consciência do que fomos e de nossa história, nos leva a uma revisão de nossas crenças, pensamentos, sentimentos e atitudes. Traz lembranças boas e positivas e também nos leva ao reconhecimento de nossos erros e à descoberta de alguns de nossos defeitos. E não é fácil admitirmos erros sem logo tentar justificá-los com as atitudes dos outros. Foi assim que aprendemos a nos defender e contra atacar! Mas a tomada de consciência é um processo totalmente interior, que requer Honestidade e Aceitação.

            A princípio, ficamos relutantes e humilhados pelo que de “ruim” reconhecemos em nós. Afinal, gostaríamos de ser melhores, sem mesquinharias, sem covardias ou maldades. Mas, para podermos avançar em nosso processo de auto conhecimento, precisamos parar de lutar, negando, e aceitar o que é real, mesmo sem gostar.

Acabamos por admitir, envergonhados e “escondidos”, para um  Deus amoroso, os nossos erros! Depois, encorajados pela força da Verdade e da necessidade de sermos verdadeiros, admitimos esses erros, compartilhando-os, também com outras pessoas de nossa confiança.  “A Verdade vos Libertará” – podemos sentir isso em nós, em nossa mente e em nosso coração! 

Mas, a Verdade em ação pede Reparação. É necessário então admitir nossos erros para aqueles a quem prejudicamos, a quem magoamos...  Esse momento é muito difícil para nosso orgulho. É o momento em que precisamos caminhar da humilhação para o aprendizado da Humildade. E como nos sentimos inseguros de nos expormos, de “quebrar” nossa imagem de o mais certo, o mais forte, o superior...! Preferíamos ser, nós mesmos, a nos julgar, nos condenar, sem contudo ter que nos expor à mágoa e indignação  dos prejudicados.

Nesse processo é muito importante estarmos atentos a nós, porque o mais importante é a nossa tomada de consciência e a nossa mudança! O que me leva à reparação, a buscar reparar erros e me transformar? Como estão minha vaidade, meu orgulho, minha culpa, minha raiva e meu medo ao me expor? Entendo e aceito que podem não me desculpar? Quero apenas me aliviar? Até parecer “superior”? Procuro mudar somente minhas atitudes, porque ainda tenho muita dificuldade de me desculpar por palavras? Tudo isso acontece em mim... 

               Esses questionamentos fazem parte do meu processo de me descobrir, reparar e transformar, antes de mais nada, quem eu fui e quem eu estou buscando ser como indivíduo e em minhas relações.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

SOLIDÃO CRESCENTE




          Em geral, quando nascemos somos cercados de pessoas e cuidados. Com o passar do tempo, ainda na infância e juventude, ocupamos  familiares, que acompanham nossas necessidades e cuidam de nosso desenvolvimento. Com eles, e também com colegas e amigos, curtimos essas fases alegres e aventureiras de nossas vidas.  Mais tarde nos apaixonamos, escolhendo  companhias novas para novas etapas. Casamos, muitas vezes até recasamos, e preenchemos ainda mais nossas vidas com filhos, enteados, depois com netos...  Tínhamos uma vida ocupada por todos eles e por trabalho, muito trabalho. Cuidávamos de tudo e de todos:  foram sustos, desafios, momentos alegres, outros tristes, mas estávamos sempre acompanhados (às vezes até demais!)...  A vida era cheia e nos sentíamos fortes e úteis! 

Mas o tempo não para, e passando, foi levando de nossa companhia aqueles que primeiro nos amaram e cuidaram... Foram perdas muito dolorosas, mas estávamos muito ocupados, chamados pela vida, e só mais tarde pudemos avaliar melhor o tamanho do vazio que nos deixaram aquelas perdas.

            Depois, os filhos casaram e se foram... Nos agarramos aos netos, buscando ainda ser úteis, mas também eles cresceram e se foram, no processo natural da vida. A casa ficou grande, sobraram vazios... Vazio deles e de suas vozes tão queridas! Buscamos pretextos para nos encontrarmos, tentando estar com eles em eventos familiares, onde, cada vez mais, fomos nos sentindo  meros observadores, algo deslocados e nostálgicos...E ficava  uma gritante sensação de sermos incômodos, mesmo queridos, e ainda trazendo “culpa” aos mais jovens... 

            Nosso tempo de trabalho ativo passou, fomos  aposentados. Agora, sobrava tempo, mas faltaram as amizades que, aos poucos, foram ficando na distância e nos contentávamos com pequenos encontros, em repetido compartilhar de lembranças...  E, como aconteceu com a perda de nossos pais e avós, agora víamos, algo assustados, “nossa turma”, ser “chamada” ... e nos deixar! Procuramos outras atividades que pudessem nos manter ativos, mas até elas foram, aos poucos, diminuindo pelo nosso próprio declínio físico. Já não cuidávamos, agora tínhamos “cuidadores” ! Queríamos falar, trocar ideias, mas, impacientes, já não queriam nos ouvir, porque estávamos “ultrapassados”... 

Nossos companheiros foram nossos testemunhos e parceiros. Quando os perdemos o silêncio cresceu ainda  mais e um terrível sentimento de abandono passou  a gritar à nossa volta... Então, só restam lembranças, tantas lembranças... Da infância, da juventude, da mocidade, onde tudo era vida, possibilidade e movimento. Agora, só por companhia essas lembranças de uma vida perdida no  passado e as limitações cada vez maiores ocupando um presente muito solitário. 

            Nossa vida parece ser um processo de contínua preparação para a solidão final quando, sozinhos, partimos e aqui deixamos tudo e todos. É um processo pelo qual todos estamos passando, ou passaremos. Mas essa Solidão Crescente pode ser percebida com sensibilidade pelos mais moços, ainda hoje, menos solitários, Pode ser preenchida o quanto pudermos por nossa presença, nossas vozes, pelo nosso toque físico carinhoso, pela nossa escuta respeitosa com a sabedoria dos mais vividos, com valorização e gratidão pelos que, até aqui, nos acolheram e acompanharam.

sábado, 14 de outubro de 2017

EM NOME DO BEM




             Atenção! Que “bem” é esse? Que bandeira é essa? Esse “bem” assim invocado é um fim em si mesmo ou um meio de alcançarmos outros fins? 

              O Bem Maior é a vivência pessoal da Verdade, da Justiça, da Compaixão, do Respeito...  do Amor, enfim. É uma vivência  intransferível, mas que se esclarece, fortalece, transborda e encontra maior sentido no compartilhar espontâneo e respeitoso com os Outros.   Essa “bandeira” precisa ser coerente com esses valores ou corre o risco de se perder, sem percebermos, e se transformar em um meio a serviço de outros fins, num meio de controle de pessoas adultas. 

              “Em nome do bem” pode esconder  nossa ansiedade, prepotência e vaidade de nos sentirmos, ou nos intitularmos, os melhores, os mais bem preparados, os que sabem mais, os mais virtuosos, os defensores dos “fracos” ou  daqueles que são oprimidos  “por outros”, que carregam, também, outras bandeiras. Antes de empunhar bandeiras, que atropelam  em “nome de bem”, preciso me observar : sinto-me superior intelectualmente, mais “generoso”, mais poderoso, com mais razão e mais preparado para dirigir outras pessoas adultas? Consigo entender que chegar, mesmo com bons propósitos, “em nome do bem”, para tutelar os outros é profundamente desrespeitoso? Que sob essa bandeira pessoas, povos, nações...  foram “ensinados”, catequizados, subjugados pela “supremacia” dos “defensores do bem”? 

                  Pessoas adultas precisam ser respeitadas. Têm direito de escolha, ainda que más ou confusas escolhas. Só através das consequências de nossas escolhas podemos ter algum aprendizado. Atrás de bandeiras com dizeres “Eu sei o que é melhor para eles” , É para seu bem... É por Amor... esconde-se profundo desrespeito pelo caminhar de um outro adulto.

                   O fato de estarmos no “mesmo barco”, familiar ou não, e sofrermos “respingos” pelas escolhas alheias, não nos dá o direito de resolvermos por eles. Precisamos, sim, resguardar nossos espaços, segurarmos nossos anseios de superioridade e dominância, compartilharmos opiniões (quando solicitadas), cuidarmos de nossa paciência, de nossa capacidade de amar, de nossa impotência perante o outro e aprendermos a ser assertivos com nosso espaço e nossas escolhas. É o que vigora em nome do bem – do nosso bem e do bem do outro.

domingo, 8 de outubro de 2017

O QUE FAZER ?




Tudo parece tão confuso! Nessa confusão, fica maior o medo e maior a agressividade...  Quando tudo vai mudar? Como mudar?  Quem deve mudar? O que mudar? O que fazer?!

Mudanças são eternas. Existem desde sempre em cada um de nós e em todo o universo do qual fazemos parte. Não dá para entender e enumerar esse sempre, esse tempo eterno.  Chegamos num mundo em mudanças, passaremos rapidamente por ele e o tempo e as mudanças continuarão. Nossa passagem aqui é tão curta! Como querer entender e assistir as grandes mudanças  que ocorrem em pessoas, grupos, sociedades... na humanidade?  Apesar de nossa ansiedade e desejo de ver resultados, tudo segue um tempo, um longo tempo. Tudo continua em eterna transformação... E então, o que fazer hoje?

O que me cabe é fazer, a cada momento, a minha parte! É uma parte ínfima, tão simples, mas é o que realmente posso, e é única e imprescindível para as grandes mudanças. Fazemos parte de um Todo e ele se transforma a partir de cada um de nós e das transformações que compartilhamos. Não adianta ter pressa, ansiedade pelos resultados. 0 tempo é eterno... mas ele não corre em vão!

A mudança em mim, em meio a tantos conflitos e disputas materiais, passa pela busca de outros valores, que não sejam só os do ego, não só os da mente racional, condicionada e intelectualizada, não só a busca incansável para saciar nosso materialismo e nossos instintos físicos... Esses valores se esgotam, nos esgotam e não nos nutrem... sem pensar que logo tudo deixaremos em nossa contínua peregrinação pela Vida.   Nossa mudança começa justamente por um anseio diferenciado e  por incorporar outros valores, que possam alimentar níveis mais altos de nós mesmos – nossa dimensão espiritual - honestidade, compaixão, justiça, alegria, beleza, solidariedade, generosidade...

Só a vivência  em  mim, e em cada um de nós, desses valores, poderá legar àqueles que amamos e àqueles todos que compartilham conosco essa “viagem”, próximos ou desconhecidos, distantes, um mundo cada vez melhor, mais amoroso. Essas tentativas de mudança individual, ainda que frágeis  e  trôpegas, mesmo ironizadas, desdenhadas, rebarbadas, tornam-se marcantes e permanecem como sementes... A princípio parecem perdidas, ainda escondidas, mas que, em algum momento cairão em “terras” mais receptivas, fertilizadas pelas dores do modelo antigo.

Somos frutos da Árvore da Vida, depositários de suas sementes sagradas. Ao cuidarmos de nós mesmos, nos transformamos em semeadores... É assim que as mudanças vão moldando-se e transformando sociedades e a própria humanidade... Humildemente, deixemos a pretensão imatura de querer apressar o tempo dos Homens, de querer consertar o Mundo ou vê-lo consertado em nosso curto período de passagem por aqui.              O que fazer?   Fazer a minha parte, o que posso, Agora e a cada momento!

domingo, 1 de outubro de 2017

UM AMOR SILENTE



            Há momentos em que nos sentimos imprensados entre a dor deixada por um passado que se foi e encurralados pela ansiedade de querer viver intensamente em direção ao futuro, enquanto também ele, vai tornando-se passado. Quando esses sentimentos se encontram, eles nos massacram o presente, invadindo-o, impedindo-nos de vivê-lo de modo real, atual, concreto. 
           E agora, nesse presente fugidio, fica a agonia de reconhecer que a vida passou e eu estava correndo!... A agonia de ter a impressão que, de tudo, de tanta vida, restaram apenas flashes...  Quero juntá-los, organizá-los em mim, revivê-los como num roteiro mais completo de minha própria vida, mas fica muito difícil, porque todo tempo eu estava correndo... 
             Foram estudos, amores, disputas, trabalhos, separações, filhos... Correndo sempre um busca de acertos e do “sucesso” em tudo no futuro. Correndo do medo, da ameaça das dores, correndo da lembrança das falhas passadas, das perdas irreparáveis... Correndo mais e mais... e a vida passando, sem que eu tivesse tido tempo de saboreá-la direito, chorando ou sorrindo!   
             Parece tudo ter se esfumaçado.. . Nesses momentos, fica a percepção de que tudo passou  e continua passando, enquanto eu choro. Nessa tentativa de retrospectiva tão confusa, doída e negativa, do caminho percorrido, às vezes, eu preciso chorar! Mas onde chorar? Com quem chorar? Onde encontrar  acolhimento, consolo, carinho e silêncio?   Aqueles que me amam, por amor, muitas vezes, fogem de ouvir minha agonia ou, tentam me consolar,  falando, aconselhando, querendo me fazer “entender”...
             Nesses momentos, tão únicos em cada um de nós, preciso de um Abraço Silencioso, de completa escuta, de compreensão amorosa, terna, suave... Abraço que acolhe um filho pequeno, medroso, tão confuso e choroso... Fecho os olhos para o mundo e me entrego, em oração e meditação, a esse Amor Silente, a esse Poder Maior  de puro amor!  Ele sabe, Ele me cuida, à espera daquele momento passar. Ele sabe que esses momentos de depressão, reflexão e avaliação, mesmo tão negativos, fazem parte do meu caminhar.  Ele sabe que ainda tenho medos, dores, distrações, fugas, tropeços, covardias...  Para isso, Ele é o doce refúgio, o ninho, a Luz que me orienta e espera, paciente e amoroso, confiante em meu ainda hesitante caminhar....