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sexta-feira, 20 de outubro de 2017

SOLIDÃO CRESCENTE




          Em geral, quando nascemos somos cercados de pessoas e cuidados. Com o passar do tempo, ainda na infância e juventude, ocupamos  familiares, que acompanham nossas necessidades e cuidam de nosso desenvolvimento. Com eles, e também com colegas e amigos, curtimos essas fases alegres e aventureiras de nossas vidas.  Mais tarde nos apaixonamos, escolhendo  companhias novas para novas etapas. Casamos, muitas vezes até recasamos, e preenchemos ainda mais nossas vidas com filhos, enteados, depois com netos...  Tínhamos uma vida ocupada por todos eles e por trabalho, muito trabalho. Cuidávamos de tudo e de todos:  foram sustos, desafios, momentos alegres, outros tristes, mas estávamos sempre acompanhados (às vezes até demais!)...  A vida era cheia e nos sentíamos fortes e úteis! 

Mas o tempo não para, e passando, foi levando de nossa companhia aqueles que primeiro nos amaram e cuidaram... Foram perdas muito dolorosas, mas estávamos muito ocupados, chamados pela vida, e só mais tarde pudemos avaliar melhor o tamanho do vazio que nos deixaram aquelas perdas.

            Depois, os filhos casaram e se foram... Nos agarramos aos netos, buscando ainda ser úteis, mas também eles cresceram e se foram, no processo natural da vida. A casa ficou grande, sobraram vazios... Vazio deles e de suas vozes tão queridas! Buscamos pretextos para nos encontrarmos, tentando estar com eles em eventos familiares, onde, cada vez mais, fomos nos sentindo  meros observadores, algo deslocados e nostálgicos...E ficava  uma gritante sensação de sermos incômodos, mesmo queridos, e ainda trazendo “culpa” aos mais jovens... 

            Nosso tempo de trabalho ativo passou, fomos  aposentados. Agora, sobrava tempo, mas faltaram as amizades que, aos poucos, foram ficando na distância e nos contentávamos com pequenos encontros, em repetido compartilhar de lembranças...  E, como aconteceu com a perda de nossos pais e avós, agora víamos, algo assustados, “nossa turma”, ser “chamada” ... e nos deixar! Procuramos outras atividades que pudessem nos manter ativos, mas até elas foram, aos poucos, diminuindo pelo nosso próprio declínio físico. Já não cuidávamos, agora tínhamos “cuidadores” ! Queríamos falar, trocar ideias, mas, impacientes, já não queriam nos ouvir, porque estávamos “ultrapassados”... 

Nossos companheiros foram nossos testemunhos e parceiros. Quando os perdemos o silêncio cresceu ainda  mais e um terrível sentimento de abandono passou  a gritar à nossa volta... Então, só restam lembranças, tantas lembranças... Da infância, da juventude, da mocidade, onde tudo era vida, possibilidade e movimento. Agora, só por companhia essas lembranças de uma vida perdida no  passado e as limitações cada vez maiores ocupando um presente muito solitário. 

            Nossa vida parece ser um processo de contínua preparação para a solidão final quando, sozinhos, partimos e aqui deixamos tudo e todos. É um processo pelo qual todos estamos passando, ou passaremos. Mas essa Solidão Crescente pode ser percebida com sensibilidade pelos mais moços, ainda hoje, menos solitários, Pode ser preenchida o quanto pudermos por nossa presença, nossas vozes, pelo nosso toque físico carinhoso, pela nossa escuta respeitosa com a sabedoria dos mais vividos, com valorização e gratidão pelos que, até aqui, nos acolheram e acompanharam.

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