Em geral,
quando nascemos somos cercados de pessoas e cuidados. Com o passar do tempo,
ainda na infância e juventude, ocupamos
familiares, que acompanham nossas necessidades e cuidam de nosso
desenvolvimento. Com eles, e também com colegas e amigos, curtimos essas fases
alegres e aventureiras de nossas vidas.
Mais tarde nos apaixonamos, escolhendo companhias novas para novas etapas. Casamos,
muitas vezes até recasamos, e preenchemos ainda mais nossas vidas com filhos,
enteados, depois com netos... Tínhamos
uma vida ocupada por todos eles e por trabalho, muito trabalho. Cuidávamos de
tudo e de todos: foram sustos, desafios,
momentos alegres, outros tristes, mas estávamos sempre acompanhados (às vezes
até demais!)... A vida era cheia e nos
sentíamos fortes e úteis!
Mas o tempo não para, e passando, foi levando de nossa
companhia aqueles que primeiro nos amaram e cuidaram... Foram perdas muito
dolorosas, mas estávamos muito ocupados, chamados pela vida, e só mais tarde
pudemos avaliar melhor o tamanho do vazio que nos deixaram aquelas perdas.
Depois, os filhos casaram e se
foram... Nos agarramos aos netos, buscando ainda ser úteis, mas também eles
cresceram e se foram, no processo natural da vida. A casa ficou grande,
sobraram vazios... Vazio deles e de suas vozes tão queridas! Buscamos pretextos
para nos encontrarmos, tentando estar com eles em eventos familiares, onde,
cada vez mais, fomos nos sentindo meros
observadores, algo deslocados e nostálgicos...E ficava uma gritante sensação de sermos incômodos,
mesmo queridos, e ainda trazendo “culpa” aos mais jovens...
Nosso tempo de trabalho ativo
passou, fomos aposentados. Agora, sobrava
tempo, mas faltaram as amizades que, aos poucos, foram ficando na distância e
nos contentávamos com pequenos encontros, em repetido compartilhar de
lembranças... E, como aconteceu com a
perda de nossos pais e avós, agora víamos, algo assustados, “nossa turma”, ser
“chamada” ... e nos deixar! Procuramos outras atividades que pudessem nos
manter ativos, mas até elas foram, aos poucos, diminuindo pelo nosso próprio
declínio físico. Já não cuidávamos, agora tínhamos “cuidadores” ! Queríamos
falar, trocar ideias, mas, impacientes, já não queriam nos ouvir, porque
estávamos “ultrapassados”...
Nossos companheiros foram nossos testemunhos e parceiros.
Quando os perdemos o silêncio cresceu ainda mais e um terrível sentimento de abandono
passou a gritar à nossa volta... Então,
só restam lembranças, tantas lembranças... Da infância, da juventude, da
mocidade, onde tudo era vida, possibilidade e movimento. Agora, só por
companhia essas lembranças de uma vida perdida no passado e as limitações cada vez maiores
ocupando um presente muito solitário.
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