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domingo, 26 de novembro de 2017

LAMENTOS E LAMÚRIAS


            Quando me distraio do AGORA e mergulho em lembranças, sinto-me muitas vezes lamentando o que já passou e como se passou. No processo de rever minha história com um novo olhar, já mais vivida e experiente, analiso com mais isenção minhas escolhas e atitudes. Posso, assim, me arrepender e tristemente lamentar tudo que não consegui fazer melhor: meus enganos, os meus erros, as minhas covardias... São lamentos que fazem parte do meu aprendizado.

             Mas, às vezes, me distraio mais demoradamente nas dores do passado e me deixo prender na tristeza, na auto piedade, em lamúrias chorosas. As lamúrias repetidas dão voz a uma dor ainda muito inconformada com um passado que não mais volta, seja para corrigi-lo, seja para mais uma vez poder desfrutá-lo.

              Elas começam quase sempre com um pranto repetido – Eu queria...   Eu queria meus pais e avós ainda comigo para melhor cuidá-los, ouvi-los, valorizá-los, desfrutá-los...   Eu queria ter amado melhor, curtido mais minhas paixões, com mais respeito e menos cobranças, com mais carinho e menos medos e inseguranças... Eu queria ter sido menos egoísta em minha busca pela felicidade e tido mais coragem para enfrentar as consequências de algumas escolhas... Eu queria ter sido mais madura nas relações, mais tranquila e firme, para evitar o fim do ninho de meus filhos, deixando-os sofridos e confusos, um pouco à deriva...  Eu queria ter “visto”, escutado, conhecido e aceitado mais, as pessoas tão especiais que escolhi e as pessoas que recebi em minha vida, pessoas que tanto amei... Eu queria ter trabalhado e corrido menos, para poder brincar, sorrir, acarinhar, desfrutar mais os momentos com eles! Eu queria não ter deixado “tanta vida prá depois”, porque agora - já passou.

                Eu queria... Eu queria... É um choro que, quando me aprisiona repetidamente, torna-se lamúria, uma  trilha sonora e chorosa que pode me embalar e me manter enfeitiçada no tempo pela não aceitação das perdas do que se foi e por tudo como foi..  Lamúrias  me paralisam na auto piedade ou na culpa.

               Mas meus erros reconhecidos e minhas perdas precisam ser lamentados e, eventualmente, dolorosamente chorados, porque dão vazão à minha imensa dor. Esses lamentos, que trazem a marca do arrependimento, trazem também a intensão e promessa de mudança. Eles fazem parte do meu caminhar...

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

O “MINISTÉRIO” DE DEUS




           Será que fazemos parte deste “ministério” ou, pelo menos, já ocupamos algumas de suas pastas, ainda que interinamente?  É um “ministério” para o qual nós mesmos nos nomeamos, porque acreditamos sermos possuidores dos atributos necessários à “condução” das pessoas! Afinal, “mercê de Deus”, tinha a ideia enraizada que -  “eu sei mais, sou mais forte, tenho mais carisma, mais virtudes, amo mais, tenho as melhores intenções”... Sou perfeito para tomar o lugar de Deus, ajudando-O a organizar o mundo, a fazê-lo melhor e mais justo, a cuidar de minha família...

          Como “ministro” de Deus, sinto-me generoso e qualificado para defender os mais “fracos”, para orientar e dirigir aqueles que amo, para julgar e promover a justiça. Com o tempo, muitas vezes sinto isto como uma “missão divina”! Não me calo frente às divergências, porque acredito em minha missão de julgar, alertar, defender, salvar, convencer... Não quero, verdadeiramente, ouvir (nem preciso). Gosto de aparecer e me sentir assim: um paladino do bem e da justiça.

            Descobri que, quando detecto em mim essas atitudes, internas ou externas, eu preciso ficar atenta ao meu orgulho e minha vaidade. Quanto de pretensão, presunção, perfeccionismo.. .carrego comigo? Quanto de prejulgamentos e preconceitos crio à minha volta?  Preciso flexibilizar minha onipotência, minha escuta e meu olhar. Preciso de humildade para entender e reconhecer partes das razões dos outros e deixar meu posto de super/herói/heroína, salvadora da pátria e da minha família, para permitir que os mais “fracos” possam começar a crescer, a se posicionar, a fazer suas próprias escolhas e a assumirem suas consequências.  

Preciso me enxergar, abrir mão da prepotência desse lugar de poder exterior e usar meu poder sagrado, interior, para ser uma pessoa mais amorosa, mais simples, mais igual... Somos todos Centelhas Divinas desse Poder Maior de Pura Sabedoria e Amor. Temos todos o mesmo potencial sagrado. Esse Poder Superior não precisa de “ministros”. Ele nos cuida e espera o tempo de cada um. 

 

terça-feira, 14 de novembro de 2017

SURPRESAS




           Quantas surpresas poderemos ter a cada dia? Na verdade, são incontáveis, porque elas nos chegam a cada instante! Cada momento é único! Nós os apreciamos, ou rejeitamos; nós é que os “colorimos”.  Mesmo os momentos mais rotineiros, são absolutamente únicos. Talvez não percebamos, porque estamos com o olhar míope, viciado na rotina, nos rótulos, nas “certezas”...  A capacidade de nos surpreendermos com o milagre constante de cada momento, decorre de nosso grau de abertura para a Vida. As surpresas não nos chegam somente de fora, mas de estarmos sensíveis ao momento.

            A cada instante posso “auscultar-me”: Como estou? O que me cerca agora (coisas, natureza, pessoas...)? Como estou pensando, sentindo, agindo, sobre o que vejo? O que posso “ver”, sentir e me surpreender? Por mais corriqueiro que sejam as paisagens, sabores e pessoas, memórias... o desafio interno é como vê-los de forma única, sempre nova. 

            Não são apenas as notícias, o inesperado dos fatos externos, que podem nos surpreender, mas também como reagimos a eles! As surpresas mais incríveis são as que temos conosco mesmos – boas ou más! Fazem parte de um “olhar” limpo, aberto, honesto, que vamos apurando em nosso processo de descoberta interior. 

            A Vida é movimento e estar vivo é se surpreender com esse movimento infinito, eterno...  “Estou vivendo muitos dias ou vivo  o mesmo dia sempre?”  Somos mutantes num mundo em constante mutação, onde tudo/todos estamos  e  nada é! Como não nos surpreendermos a cada instante?  Podemos “viajar” por nossas vidas, sonolentos, entediados, repetitivos, ou viajarmos, com o olhar de uma criança, atentos e entusiasmados com a paisagem sempre nova!...
Assim somos, assim é a vida. Um eterno e rico caleidoscópio que a cada instante se movimenta e modifica, trazendo-nos novas e incríveis figuras e surpresas. Vamos apreciá-las! 

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

NÃO OLHES PARA TRÁS




            Uma história muito antiga nos conta da recomendação feita pelo Senhor a um bom e justo homem e sua família: que  fossem embora para que pudessem ser salvos da destruição, para que pudessem sobreviver, mas que seguissem sem olhar para trás!... Eles que ficassem atentos à recomendação ou poderiam se transformar em estátuas de sal, sem vida. Sua esposa, no entanto, não conseguiu deixar de olhar para trás! Não por curiosidade, acredito, mas pela dificuldade de deixar pessoas queridas, sua cidade, suas lembranças... Ficou olhando tudo aquilo que se transformava em passado e, conforme predito, transformou-se em uma estátua salgada, sem vida... Essa é uma história muito antiga que, como tantas outras, nos permite diferentes leituras e entendimentos, mas me parece que o básico está na recomendação: Não olhes para trás!

            Como foi recomendado àquele bom homem e sua família, para seguirmos adiante, não poderemos ficar aprisionados no passado.      Não olhes para trás! O passado nos enfeitiça! Ficamos eternamente querendo modificá-lo, consertá-lo, fazê-lo melhor...  Querendo modificar os abusos, traições, maldades, que sofremos e que ainda nos trazem tanta raiva, humilhação, mágoa, tristeza, rancor, ressentimento... Querendo modificar os fatos cruéis que transformaram nossas vidas e parecem nos manter hipnotizados, revivendo o horror daqueles momentos... Querendo modificar nossos erros, omissões, que nos açoitam em culpas e vergonhas eternas...

         “Não olhes para trás”, porque o passado também guardou momentos maravilhosos, de puro enlevo, alegria, sucessos, amores e camaradagem e, muitas vezes, enfeitiçados, não queremos mais deixá-los, preferindo viver num limbo de lembranças, numa “vida de faz de conta”, sendo e vivendo em meio a fantasmas de nossa própria história...  

Não negaremos os amores, as dores, as injustiças, os sucessos, os erros, mas tudo ficou para no passado... Se insistirmos na recusa chorosa e teimosa de olhar para trás, ficaremos, como a esposa da história, paralisados, secos, salgados... Na verdade, trazemos em nós as marcas de tudo o que se foi. O passado está vivo em nós, mas não pode viver por nós. Não podemos acessá-lo em todo momento, paralisados, distraídos da Vida, de todas as possibilidades que um Poder Maior nos oferece a cada instante.

Quando o passado gritar, querendo por momentos emergir e explodir no peito, descansa e chora... Depois , levanta, olha em frente e em volta e Vive.  Os fatos negativos que nos marcaram e machucaram, irão ficando perdidos no tempo na medida em que nos distanciamos de suas memórias. 

             Mas o Amor que trouxemos e compartilhamos em nossa história é diferente! Somos feitos dessa Essência, independente de fatos, espaços e tempos. Podemos acessá-lo em todo momento ligando-nos a quem amamos no Agora!. Não precisamos voltar, olhar para atrás... Podemos atualizá-lo a cada instante, podemos manter contato com o quê e com  quem amamos no Agora, além do tempo e do espaço. O Amor não se detém, nem nos detém. Ele nos impulsiona a seguir... “O Amor é uma ponte para o sempre!”, transpõe quaisquer distâncias, mesmo as dimensionais...  Portanto, Não olhes para trás, disse o Senhor!   Apenas, ama e caminha!

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

RENÚNCIA E LIBERTAÇÃO




        Renunciar é abrir mão dos nossos apegos.  É soltarmo-nos  do que achávamos ser a base necessária à nossa vida. – nossas certezas, nossas verdades, nossas posses materiais, nossas fantasias do Outro, nossa própria auto imagem idealizada, nossas crenças e amores possessivos...

         A Dor  de nossas perdas materiais e intelectuais nos ensina a transitoriedade desses bens e nos leva a renunciar à agonia da busca desesperada pelo acúmulo de bens, títulos, excessos intelectuais, status, “sucesso” e poder... que nos envaidecem, mas não nutrem nossa dimensão maior e mais sutil e não nos livram do estresse e da depressão.Só a Dor de um vazio interior, só a aridez dessas posses, pode nos lembrar que precisamos renunciar aos excessos e descobrir a alegria do compartilhá-los

         Só a dor maior, que nos abate quando somos confrontados com  nossa impotência perante os outro;  só a dor de alguns desafios e perdas maiores da vida em nossas  relações afetivas (“mortes”, abandono, traições...) , pode nos levar a reconhecer que tudo aquilo a que nos apegamos não foi suficiente ou capaz de evitá-las.Eu queria garantir a posse das pessoas mais queridas para garantir minha felicidade de tê-las para sempre! Queria orientá-las, direcioná-las, decidir o que era bom para nós, cerceá-las por amor e cercá-las de cuidados. Mas, aprisionando-as no meu apego, fui perdendo-as e me tornando, eu mesma, prisioneira, carcereira, em nossa relação!   

           Só essa dor maior pôde me fazer perceber que não podemos possuir pessoas. Elas são Centelhas Vivas do Sagrado, únicas em sua individualidade, não são coisas, não podem ser possuídas!...  O Universo é paradoxal e, só renunciando à sua posse é que poderei atrair aqueles que amo para mim! Preciso libertá-las da minha  agonia e luta, para melhor amá-las e ser amada.

            Renunciar é um ato de Libertação. É um ato de Amor a nós mesmos e aos outros, por isso é um ato espiritual!  Um ato que nos liberta das lutas e traz em troca, para ocupar esses vazios, a entrega a sentimentos, pensamentos e comportamentos de um nível mais sutil e amoroso.   Precisamos caminhar leves, para ter alegria no caminhar e descobrir a alegria do compartilhar.