Quando me distraio do AGORA e
mergulho em lembranças, sinto-me muitas vezes lamentando o que já passou e como
se passou. No processo de rever minha história com um novo olhar, já mais
vivida e experiente, analiso com mais isenção minhas escolhas e atitudes.
Posso, assim, me arrepender e tristemente lamentar tudo que não consegui fazer
melhor: meus enganos, os meus erros, as minhas covardias... São lamentos que
fazem parte do meu aprendizado.
Mas, às vezes, me distraio mais demoradamente nas dores do passado e me deixo prender na tristeza, na auto piedade, em lamúrias chorosas. As lamúrias repetidas dão voz a uma dor ainda muito inconformada com um passado que não mais volta, seja para corrigi-lo, seja para mais uma vez poder desfrutá-lo.
Elas começam quase sempre com um pranto repetido – Eu queria... Eu queria meus pais e avós ainda comigo para melhor cuidá-los, ouvi-los, valorizá-los, desfrutá-los... Eu queria ter amado melhor, curtido mais minhas paixões, com mais respeito e menos cobranças, com mais carinho e menos medos e inseguranças... Eu queria ter sido menos egoísta em minha busca pela felicidade e tido mais coragem para enfrentar as consequências de algumas escolhas... Eu queria ter sido mais madura nas relações, mais tranquila e firme, para evitar o fim do ninho de meus filhos, deixando-os sofridos e confusos, um pouco à deriva... Eu queria ter “visto”, escutado, conhecido e aceitado mais, as pessoas tão especiais que escolhi e as pessoas que recebi em minha vida, pessoas que tanto amei... Eu queria ter trabalhado e corrido menos, para poder brincar, sorrir, acarinhar, desfrutar mais os momentos com eles! Eu queria não ter deixado “tanta vida prá depois”, porque agora - já passou.
Eu queria... Eu queria... É um choro que, quando me aprisiona repetidamente, torna-se lamúria, uma trilha sonora e chorosa que pode me embalar e me manter enfeitiçada no tempo pela não aceitação das perdas do que se foi e por tudo como foi.. Lamúrias me paralisam na auto piedade ou na culpa.
Mas meus erros reconhecidos e minhas perdas precisam ser lamentados e, eventualmente, dolorosamente chorados, porque dão vazão à minha imensa dor. Esses lamentos, que trazem a marca do arrependimento, trazem também a intensão e promessa de mudança. Eles fazem parte do meu caminhar...