ILUSÕES

     As ilusões nascem de nossos desejos. Desejos tão intensos e profundos, até inconscientes, que nos tiram da realidade e nos arremessam na fantasia, na utopia. A força desses desejos se alicerça em nossas carências afetivas, nossos medos e mitos, nutridos por nossas crenças aprendidas.

      Defendemos nossas ilusões com paixão, com cegueira, com parcialidade... Como toda fantasia, sua força advém da “cor” que trazem à nossa vida. Nesse “mundo dourado” somos amados totalmente, seremos sempre entendidos e atendidos por pessoas que se encaixam, com perfeição, às nossas certezas e expectativas. Poderemos acreditar, sem erro, na justiça, na honestidade, na lealdade, daqueles que tanto amamos e escolhemos: companheiros, amantes, filhos, parentes, amigos...

       Num mundo perfeito, de pessoas perfeitas, seria assim, mas embora caminhemos nessa direção, ainda somos seres e sociedades em inicio de caminhada. Nossa humanidade ainda claudica, tropeça, ainda está aprendendo a andar! Perseguimos, em nós e nos outros, amores e valores que ainda não conseguimos vivenciar e trazer para nossa realidade.

        Quando somos confrontados com a imperfeição, nossa e dos outros, nos sentimos atingidos, sem chão, e ficamos magoados, zangados, revoltados... Quebraram nossa “certeza”, mancharam nossa fantasia, nos desiludiram!  As ilusões eram nossas, as mais queridas, faziam parte do nosso mundo ideal e não souberam cuidar delas, respeitá-las! Como é doído!

 
        Mas, a desilusão também nos liberta! Dói, mas liberta! Somos então trazidos para a realidade do mundo e das pessoas. Eles não são somente “cor de rosa”, são multicoloridos! Na realidade do que são, é que somos instigados a pensar, reconhecer, escolher, aceitar, a nos colocar, a perdoar... Só nesse mundo real poderemos compartilhar relações mais verdadeiras, dentro das possibilidades de cada um... É na capacidade de desistir de pessoas e mundos perfeitos, na coragem de usufruir de pessoas e situações reais que, afinal, amadurecemos e caminhamos...