Quando um casal acaba por desistir do casamento, isso marca
o fim de um longo e doloroso processo, que se iniciou num sonho de amor e
acabou numa triste realidade de desamor. Tudo começou com fantasias e expectativas
douradas, inconscientes e irreais.
Não paramos para pensar, e muito menos dizer, o que buscávamos um no Outro. E
de como era sua história e sua lealdade à sua origem, às suas crenças
familiares. Não queríamos saber de nada, só interessava a paixão que nos
empolgava ou a novidade que representávamos um para o outro.
Mas o tempo, senhor das verdades e da realidade, foi nos
revelando realmente um ao outro. Poderíamos aproveitar, aceitar e aprender, mas
apenas nos revoltamos e magoamos com as transformações do sonho em realidade. E
usamos a natural intimidade que advém de uma vida em comum como arma para jogos
de poder e posse na relação. Estávamos zangados, culpávamos, cobrávamos, queixávamos,
nos comparávamos... Quem era o pior? Quem mudou mais?... Carinhos e palavras de amor foram acabando... A atenção, a boa vontade, a gentileza, ficaram guardadas para os de fora, era só
para “uso externo”. Já não havia confiança: manipulávamos, nos defendíamos,
escondíamos nossos verdadeiros sentimentos para parecermos fortes e depois nos
ressentíamos por não sermos entendidos em nossas carências! Sobravam gritos e
ironias rascantes ou um silêncio teimoso de amuos e acusações mudas...
Alguns acontecimentos nos distraíram durante esse processo,
retardando-o um pouco: a chegada dos filhos, a construção do ninho, ganhos
materiais que propiciaram viagens, compras, festas... Mas quando vêm as perdas materiais, diminuem
as distrações... Os filhos trazem
alegrias mas fazem aparecer, também, confrontos pelas diferenças familiares
quanto ao cuidado e educação. Sua chegada obrigou a novas organizações, novas
prioridades... Quando os eles crescem,
aumentam os desafios e as diferenças de opinião. E quando eles se vão, sobram
silêncio e solidão...
Durante todo esse processo de alegrias e dores, muitas vezes
não percebemos o quanto fomos nos afastando. Ainda estávamos chorando sonhos
traídos, acreditando em recomeços nas mesmas bases irreais, buscando saídas...
até que, finalmente, acordamos para o fato de que aquele casamento sonhado –
acabou.
É uma pena que para muitos, acabou o sonho, mas continuam as
brigas, as mágoas, as cobranças, as disputas... E que os filhos de um amor tão
intenso sejam continuamente assediados pelos ódios e ressentimentos dos pais. O
fim de um sonho é sempre muito doído, mas não invalida o que tivemos em nossa
vida de gostosura e beleza. Não podemos ficar somente com o prejuízo, Com o
tempo, se deixarmos as feridas cicatrizarem, poderemos guardar com carinho
lembranças doces e o aprendizado com a experiência, nos preparando melhor para
nos relacionarmos, em quaisquer relações, olhando a nós mesmos e aos outros com
menos fantasia e mais realidade.
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