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sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Culpa
Acreditamos e pensamos que não deveríamos nem podíamos errar, falhar em nossas atitudes e comportamentos, no desempenho de nossos papéis familiares, escolares, religiosos, profissionais, etc! Acreditamos e pensamos porque nos foi ensinado, reforçado, condicionado, assim. Se fizéssemos certo ganharíamos elogios, carinhos e valorização. Quando não conseguíamos, éramos considerados culpados pela decepção, tristeza, frustração das expectativas dos outros sobre nós. Não importa se essas expectativas, ainda que por Amor, estivessem fora de nossos desejos e possibilidades no momento – ainda assim nos sentíamos culpados. Desde cedo, sempre que acontecia algo “errado” nos ouvíamos: Quem fez isso? Quem foi o culpado? Você foi o culpado! Assumida perante os outros, ou não, a culpa nos maltrata demais e vem acompanhada de outros sentimentos afins: gera remorsos, vergonha, raiva auto-destrutiva pelo que fiz, baixa auto-estima, desvalia pelo que não consegui fazer, por não conseguir atender ao que se esperava de mim. É um sentimento devastador, desgraçado, que nos humilha e agonia porque não fomos como devíamos ser. E culpados, humilhados, somos facilmente manipulados, “Por Amor’’, pela Família, Religião, Cultura, etc”...
Na verdade, tudo parte de uma crença falsa e utópica de que a Perfeição é possível hoje/agora e quando falhamos somos os Culpados
O que parece bom, bonito e elevado, na verdade é irreal, arrogante e humilhante com nossa imperfeição humana. A perfeição é um mito, um Ideal a nos orientar os passos e a busca, mas só podemos viver o aqui/agora, o que é Real, do nosso exato tamanho, só por hoje. O sentimento da culpa nos trás uma luta interna constante, obsessiva: “devíamos ter feito/ou não ter feito’’...; é uma cobrança destrutiva que nos humilha, envergonha, pune, aprisiona, sem prazo de acabar. Nossos comportamentos e atitudes tornam-se coerentes com esse estado interior: punimo-nos de muitas formas, nos sabotamos, não ousamos ser criativos, não conseguimos ser assertivos...
Quando tudo fica muito difícil, doloroso, às vezes, nos revoltamos, arranjando desculpas, jogando culpa nos outros: “mas também ele/ela...” ou adotando uma atitude cínica, defensiva, agressiva. “Fiz sim, sou mau e daí?’’...
Na verdade todos esses comportamentos nos mantém prisioneiros da crença de que se não fomos perfeito, não atendemos a expectativa de outros, então somos maus, fracassados, culpados, não temos valor.Gastamos toda nossa energia nessa luta sem fim, ficamos paralisados, desgastados, cansados, desestimulados, e o pior é que, por tudo isso, não mudamos.
Hoje aprendi que para mudarmos precisamos de paz interior – precisamos cessar a luta que nos desgasta e consome toda a energia. Parece um paradoxo, mas precisamos aceitar, mesmo do que não gostamos, para mudar. Aceitar o que ainda sou e o que ainda não sou; aceitar meu tamanho, só por hoje. Aceitar que não sou quem os outros queriam que fosse e mesmo o que eu queria ser mas sou alguém que aceita a responsabilidade de mudar, melhorar.
Acredito e busco substituir culpa por responsabilidade. Se a culpa me aprisiona e corrói, a responsabilidade de melhorar me impulsiona a mudar. Enquanto a culpa paralisa e humilha, a aceitação do que somos, com a responsabilidade de mudar, é construtiva, nos torna humildes, nos liberta e impulsiona nosso processo de crescimento, nossa felicidade. É minha responsabilidade descobrir e desenvolver os dons únicos que possuo; procurar, um dia de cada vez, aceitar honestamente, sem medo ou vergonha, meu passado, meus defeitos, atitudes egoístas, competitivas, sem amor e ter o compromisso íntimo, corajoso, de ir modificando o que posso a cada momento. O sentimento das culpas antigas, impregnado dentro de nós, ainda nos acompanhará, atormentará. O compartilhar nos grupos ajuda a ir liberando a dor desse passado que nos agonia, cheio de culpa e vergonha. Abrimos nosso coração tão ferido, somos acolhidos pelo amor do grupo, vamos aceitando nossa humanidade espelhada na dos companheiros. É muito doída a lembrança de termos falhado com quem amamos, de termos sido pequenos, mesquinhos, medíocres quando gostaríamos de parecer grandes;de termos fugido quando deveríamos ficar, de não termos sido melhores ou perfeitos. Mas cabe a nós a responsabilidade de aceitarmos nosso passado, e nos perdoamos porque fomos o que pudemos ser e o importante é renovarmos a cada dia, hoje, onde a vida acontece, o compromisso de buscarmos ser melhores. O perdão, como tudo mais, começa em mim e vai acontecendo, é um processo. Perdoar é aceitar para prosseguir e mudar.
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hoje tenho a graça de viver sem a dor da culpa,sinto-me livre,graças a bondade do nosso poder superior e o amor das companheiras.
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