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quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Nossas Reuniões



O momento mais impactante que vivi, cheio de espanto e deslumbramento, foi num grupo de uma irmandade anônima de 12 Passos, onde fora convidada a assistir uma reunião aberta. Ver aquelas pessoas tomarem a palavra para partilhar comigo, uma estranha, sua história, seu momento, seus sonhos, pensamentos e sentimentos pareceu-me inacreditável, quase assustador. Era totalmente fora dos moldes da comunicação mundana, superficial, mascarada, disfarçada, defensiva, que eu conhecia. Era uma atitude cheia de coragem, de uma ação nascida naqueles corações que resolveram ser honestos e leais consigo mesmos, libertando-se do jugo de fora, dos “outros”, dando voz à pessoa aprisionada que fomos moldados a ser.
Senti que queria aquilo para mim também! Queria poder dizer de mim, tão censurada e bloqueada; queria contar e cantar a “minha pessoa”; queria falar até calar, chorar e rir para aqueles que, com seu silêncio cheio de simpatia, empatia e respeito, me aceitavam e acolhiam. Em toda essa busca para liberta-me convivo com o desafio do medo. Às vezes, estou mais fragilizada e me escondo em falas triviais, corriqueiras, repetidas. Muitas vezes são áreas mais complicadas de mim, mais mascaradas e defendidas, mais aprisionadas. Quero me libertar, mais ainda não tenho coragem nem de ver, quanto mais de dizer! Ainda bem que é “só por hoje”... Outras vezes me emociono comigo mesma ao ousar revelar cantos escondidos em mim. Nesse processo, essa ousadia advem do escutar. Estou aprendendo a ouvir, a apreender realmente os ditos e não ditos na partilha de meus companheiros. Ditos que algumas vezes se contrapõem aos não ditos (é aquilo que dizem e não combina com o que fazem ou transparecem). Até mesmo a repetição contínua de estórias, casos, lamúrias ou exageradas bravatas, hoje, com o coração mais aberto, já me dizem mais claramente da dificuldade que têm em ultrapassar aquelas etapas. Ouvir suas descobertas, os altos e baixos dos seus caminhos facilita minhas descobertas, meu próprio caminho.
Estou entendendo o quanto tudo numa reunião pode me ser tão útil e sempre ser novo! Todo meu processo é interior portanto cada reunião será para mim o reflexo de como estou participando. Tudo será novo se estiver atento, compassivo, aberto, reflexivo:
- estou receptivo na minha escuta ou repetitivo no meu olhar, no meu sentir?
- estou julgador ou acolhedor?
- busco entender ou apenas descarto impaciente?
- o que me aquece o coração: condenar ou ter compaixão?
Porque não importa tanto o que os outros dizem, importa muito como eu os ouço, como tudo ecoa dentro de mim. Se uma reunião me parecer repetida, tediosa, “sem graça”, sem espiritualidade, é importante que eu reflita:
- o que estou mesmo buscando aqui?
- como estou comigo? Perdi o interesse por mim mesmo, desisti de mim?!
Acredito que a espiritualidade de cada reunião existe dentro de cada um de nós; revela como estamos naquele momento e como interagimos. Quem estiver com coração e mente abertos, olhos e ouvidos atentos e vontade de se libertar poderá então usufruir todas as maravilhosas possibilidades que nossas reuniões oferecem.

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