Rigidez é a dificuldade, e até
ausência, da capacidade de nos movimentarmos, que é inerente à vida. A rigidez
denuncia ou prenuncia a doença e a morte. Ela se revela nos corpos sem vida,
nos objetos inanimados, nas idéias fixas/fixadas, nos sentimentos
negados/bloqueados, na repetição compulsiva de comportamentos, num viver programado
dentro de padrões estreitos, fixos e defendidos.
Rigidez é observar a paisagem por uma única janela, uma pequena
janela, sempre a mesma janela; é perceber e viver a vida de uma determinada
maneira que, por ser sempre igual, torna-se estreita e pobre de possibilidades.
É uma “simplificação” forçada, onde tudo se rotula, tudo se castra e se poda:
bom/mau, certo/errado, faça/não faça, com razão/sem razão, bonito/feio,
vencedor/vencido... É ver o mundo em preto/branco, ignorando as nuances, a
riqueza da mistura das cores, das trocas com os diferentes, com as diferenças,
ignorando a complexidade do Ser Humano e da Criação , da qual fazemos parte.
Os grupos humanos (Família, Escola, Igreja, Empresas, Nações, etc)
tendem à rigidez (maior ou menor) para melhor proteger, conduzir, ensinar,
orientar os seus familiares, seus aprendizes, seus rebanhos, empregados,
cidadãos...Nesse processo, é negado às pessoas sua individualidade, sua voz,
seu olhar, suas questões. Deixamos de ser um Ser único/inteiro quando o grupo
exige que sejamos apenas um pedaço, uma parte que defende, repete e reflete o
grupo.
Quanto mais sensíveis e mais intensos somos, tendemos ao
exagero no modo de perceber e lidar com o mundo. Pode, em razão disso, nos
parecer mais seguro e confortável escolhermos a via estreita da rigidez onde
tudo já está catalogado e rotulado, onde não precisaremos escolher, modificar,
redirecionar, nos movimentar, nos sentirmos sob ameaça. Preferimos a repetição
(a favor ou contra) porque não nos oferece a angústia das escolhas e nos dá a
segurança do grupo que nos ensinou. Mas a rigidez torna-se opressiva quando
levamos muito a sério as expectativas e idealizações de fora ( Família, etc...e
as nossas próprias). Acreditamos então, rigidamente, que “temos que” atender ao
que se espera de nós. Aumentam então o medo, a angústia, a frustração, a mágoa,
o desespero... Com um sentimento cada vez maior de uma auto-imagem cada vez
menor repetimos, repetimos e repetimos comportamentos numa tentativa
desesperada de cumprirmos nossas “missões impossíveis”. A pressão é tanta que
um dia quebramos, como um graveto rígido que não aprendeu a se vergar. Muitos
aprendemos que “quebre mas não vergue” e acreditamos ser essa posição rígida
uma virtude, uma demonstração de personalidade, quando, na verdade, era um
emparedar da lógica, da inteligência, do bom senso; era uma interdição às novas
idéias e percepções; era uma deslealdade conosco, com nossas possibilidades,
descobertas, com nossos sentimentos, com o desafio de novos comportamentos.
Quebramos com o desgaste de tanta luta, com a falta de
opções, com as tentativas de anestesia e alienação, com a Dor que nada alivia,
a dor resultante do impasse desse modo rígido de ser.