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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

RIGIDEZ



                   Rigidez é a dificuldade, e até ausência, da capacidade de nos movimentarmos, que é inerente à vida. A rigidez denuncia ou prenuncia a doença e a morte. Ela se revela nos corpos sem vida, nos objetos inanimados, nas idéias fixas/fixadas, nos sentimentos negados/bloqueados, na repetição compulsiva de comportamentos, num viver programado dentro de padrões estreitos, fixos e defendidos.

                    Rigidez é observar a paisagem por uma única janela, uma pequena janela, sempre a mesma janela; é perceber e viver a vida de uma determinada maneira que, por ser sempre igual, torna-se estreita e pobre de possibilidades. É uma “simplificação” forçada, onde tudo se rotula, tudo se castra e se poda: bom/mau, certo/errado, faça/não faça, com razão/sem razão, bonito/feio, vencedor/vencido... É ver o mundo em preto/branco, ignorando as nuances, a riqueza da mistura das cores, das trocas com os diferentes, com as diferenças, ignorando a complexidade do Ser Humano e da Criação , da qual fazemos parte.

                   Os grupos humanos (Família, Escola, Igreja, Empresas, Nações, etc) tendem à rigidez (maior ou menor) para melhor proteger, conduzir, ensinar, orientar os seus familiares, seus aprendizes, seus rebanhos, empregados, cidadãos...Nesse processo, é negado às pessoas sua individualidade, sua voz, seu olhar, suas questões. Deixamos de ser um Ser único/inteiro quando o grupo exige que sejamos apenas um pedaço, uma parte que defende, repete e reflete o grupo.

                    Quanto mais sensíveis e mais intensos somos, tendemos ao exagero no modo de perceber e lidar com o mundo. Pode, em razão disso, nos parecer mais seguro e confortável escolhermos a via estreita da rigidez onde tudo já está catalogado e rotulado, onde não precisaremos escolher, modificar, redirecionar, nos movimentar, nos sentirmos sob ameaça. Preferimos a repetição (a favor ou contra) porque não nos oferece a angústia das escolhas e nos dá a segurança do grupo que nos ensinou. Mas a rigidez torna-se opressiva quando levamos muito a sério as expectativas e idealizações de fora ( Família, etc...e as nossas próprias). Acreditamos então, rigidamente, que “temos que” atender ao que se espera de nós. Aumentam então o medo, a angústia, a frustração, a mágoa, o desespero... Com um sentimento cada vez maior de uma auto-imagem cada vez menor repetimos, repetimos e repetimos comportamentos numa tentativa desesperada de cumprirmos nossas “missões impossíveis”. A pressão é tanta que um dia quebramos, como um graveto rígido que não aprendeu a se vergar. Muitos aprendemos que “quebre mas não vergue” e acreditamos ser essa posição rígida uma virtude, uma demonstração de personalidade, quando, na verdade, era um emparedar da lógica, da inteligência, do bom senso; era uma interdição às novas idéias e percepções; era uma deslealdade conosco, com nossas possibilidades, descobertas, com nossos sentimentos, com o desafio de novos comportamentos.

                    Quebramos com o desgaste de tanta luta, com a falta de opções, com as tentativas de anestesia e alienação, com a Dor que nada alivia, a dor resultante do impasse desse modo rígido de ser.    

                     Mas essa dor afinal é que, ao nos quebrar, nos liberta da rigidez, nos oferece a percepção de um mundo novo onde temos a possibilidade de ousar, mudar, ter movimento, sermos flexíveis. Descobrimos que ainda temos medos, inseguranças mas que podemos, um dia de cada vez, dar conta dos desafios desse mundo colorido, pleno de possibilidades para conviver com pessoas, criaturas, situações, desafios... podemos lidar com tudo e todos, variados e de diferentes formas – estamos vivos.