Não podemos nos deixar aprisionar pela tristeza, mas ela é uma passagem necessária e real no processo da aceitação. Aceitação que não é gostar – é apenas deixar de brigar, de lutar contra o que se revela real. Quando a luta cessa, cessando a “bronca”, a raiva surda, chegamos a um espaço de quase paz, de descanso dolorido. Podemos então entrar em contacto com o desgosto, com a tristeza que resulta dos fatos, das pessoas, não serem como queríamos que fossem, não serem do modo como sonhamos – de serem como tiveram ou têm que ser.
É Tristeza o que sentimos ao acompanhar, impotentes, a decrepitude de nossos avós, de nossos pais, de nossas raízes – e o envelhecer de nós mesmos. É Tristeza sem fim (depois do horror) com a perda de nossos jovens, de nossas crianças; é o triste vazio deixado por nossos parceiros, amigos, amantes, amores...
Tudo isto trás tanta dor! Tristeza por não ter conseguido ser melhor para todos que amei... e até para quem não amei. Tristeza por não ter sido mais sensível, mais atenta, mais paciente, mais assertiva, mais verdadeira; tristeza por não ter caminhado melhor, mais amorosa, mais livre. Tristeza com minha impotência ante as dores daqueles que amo ou amei. Tristeza por já ser passado tudo de bom que vivi!
Existem as tristezas mais gerais, mas não menos doloridas, de sermos todos ainda tão pouco atentos e amorosos com a vida, a natureza, com todos os seres. E a tristeza particular de sermos também tão pouco atentos e interessados em nós mesmos: quem somos, como somos, porque assim somos... tão desatentos e pouco próximos de um Poder Maior que nos habita e sustenta, sempre.
A tristeza dói sempre. Está ligada ao passado, às fantasias (concretizadas ou não), às lembranças, à saudade, ao adeus... Está ligada também à dor de um presente diferente do desejado e sempre tão desafiador. Mas toda essa Tristeza parece drenar e depurar nossas energias pesadas, passadas, acumuladas, das nossas negações, raivas, lutas contra o indesejado. Nosso pranto triste, gritado ou escondido, nos lava a alma e nos prepara para a aceitação que nos leva a caminhar, construir, reconstruir; que nos leva para o melhor no agora. Acredito que a Tristeza nos acompanha sempre, em algum nível, como um pano de fundo, como uma sombra furtiva e dolorida, escondida em meio a tantos outros sentimentos. Ela faz parte de nossa humanidade. Precisamos aceitá-la, chorá-la, respeitá-la, mas logo, delicadamente, afastá-la, deixá-la de lado, para seguirmos adiante, continuando... e, sempre que possível, corajosamente sorrindo.
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