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terça-feira, 14 de junho de 2011

PERDÃO


A idéia do perdão está sempre ligada ao erro e à culpa. Culpado é quem erra ou falha, transgredindo uma crença irreal de que a perfeição é possível, que temos que ser perfeitos Aqui, Agora, Sempre! Isto é uma idealização. Precisamos ter metas e ideais de perfeição a nos nortear, mas hoje, agora, só podemos viver o real, o que é possível a cada um de nós.
Internalizamos essas crenças através das cobranças “educativas” diárias e, pela vida afora, sempre que erramos nos sentimos culpados, maus, fracos, humilhados, fracassados... Muitas vezes passamos a carregar essas culpas
(mea culpa), tornamo-nos subservientes, deixando-nos vitimar por toda a vida pelos nossos sensores. Outras vezes, como defesa, nos damos desculpas com raciocínios que explicam, mas não justificam, nossos atos, banalizando-os, tornando-nos algo cínicos e insensíveis (É assim mesmo! Sempre foi assim! Todos fazem! Estou só revidando!...) Sofrendo esse assédio da culpa, aprendemos também a contra-atacar, repartindo culpas.
Assim como nos julgam e nos julgamos, também exigimos perfeição nos outros. Quando falham, eles nos decepcionam, nos desiludem. Ficamos frustrados, com raiva, magoados... E “damos o troco”, criticando, humilhando, manipulando, culpando. Nessa visão/crença distorcida do ser humano, acreditamos que não devemos falhar porque o erro trás culpa e exige punição.
Acostumamo-nos também a ficar remoendo os erros (nossos e dos outros) que nos trouxeram tanta dor, eternizando-a, transformando-a em sofrimento e, paralisados, ficamos aprisionados e aprisionamos os outros a esse passado imperdoável.
Tudo se torna ainda mais complicado quando nos dizem que “tem que perdoar”! O que é perdoar? É esquecer? E quando lembrar, nem deve doer? É bonito, é generoso? É cristão, é religioso?
Perdoar é atitude orgulhosa, complacente, condescendente, com os mais fracos, os errados? E se eu não conseguir perdoar? Serei má, errada? Devo sentir-me culpada por não conseguir perdoar?
Hoje estou entendendo que somos seres em processo, ainda não acabados, perfeitos. Minhas falhas, que tanta dor causam a mim e aos outros, trazem oportunidade de aprendizado, de mudança. Como tudo mais, o perdão precisa começar em mim. Sob esse novo olhar, o perdão está ligado à minha capacidade de aceitar o que sou/somos, hoje/agora, o que conseguimos ser a cada momento. Esta idéia me liberta da humilhação por não ser quem “deveria ser”, sempre certa, e vou aprendendo a ser humilde, a aceitar meu tamanho durante meu caminhar; livra-me também, em conseqüência, da arrogância de julgar e condenar os outros.
Perdoar/aceitar não é se acomodar. A culpa é que nos mantém presos ao erro e ao passado.O Perdão trás a idéia de entender e Aceitar, com a responsabilidade de mudar, toda nossa história. Erros não devem acarretar condenações eternas, punitivas, vingativas, mas compromissos nossos com nossa mudança. Quando começo a ter esse entendimento comigo, passo a ver as falhas alheias do mesmo modo. Isto me trás mais compaixão e tolerância. O contacto com minha humanidade faz-me ficar mais sensível à humanidade do outro. Vivemos em relação e como não tenho o poder, nem tampouco a responsabilidade, de modificar alguém, cabe a mim a responsabilidade de estabelecer, comunicar e honrar meus limites às pessoas, em vez de culpá-las por me invadirem. É minha também a responsabilidade de não idealizar os outros para não acusá-los depois de me decepcionarem.
Não quero ser machucada pelas falhas dos outros, não quero ter que julgá-los, culpá-los com mágoa e depois ainda ter o problema de “ter que perdoar”. Estou procurando, um dia de cada vez, substituir minhas culpas por responsabilidade em mudar. E lembrar-me: o perdão começa por perdoar a mim mesmo e então, humilde e humanizado, perdôo ao Outro e, enfim, nos libertamos para continuarmos muito mais comprometidos com um melhor caminhar.


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