Aprendemos a entender renúncia, na maioria das vezes, como abrir mão da nossa alegria e felicidade em favor dos outros e pelo que entendemos ser melhor para os outros. Aprendemos que devemos renunciar muitas e muitas vezes para bem desempenharmos nossos muitos papéis em família, como profissionais, como cidadãos, enfim, em todas as nossas relações. Em meio a tantos anseios e cobranças tantas vezes antagônicos, sentimo-nos repuxados em diferentes direções, despedaçados, confusos e, apesar das renúncias, certamente culpados onde falhamos.Esse é um conceito idealizado de renúncia, que não leva em conta nosso direito de escolha, nossas limitações e trás embutida a idéia que teremos gratificações externas – das pessoas, da vida, de Deus. Quando isso não acontece, sentimo-nos frustrados, infelizes, magoados, ressentidos, amargos... e atiramos, cobrando, em algum momento, de alguma forma, tudo aquilo de que abrimos mão, toda nossa renúncia. É dar, doar, esperar, cobrar...
Não atentamos que fazer pelo outro esperando algo em troca- agradecimento, valorização, amor, mudança de atitudes... é tentativa de controle, mesmo que com a “melhor das intenções”. E porque não temos o poder de modificá-los, nos frustramos e ressentimos: “Renunciei, abri mão de minha vida, meu emprego, meus filhos, meu casamento, dos melhores anos de minha vida... por você, pela sua felicidade!”
Quando nos sacrificamos, nos vitimamos, a tudo renunciamos para facilitar a vida do outro, muitas vezes o induzimos ao egoísmo, ao costume de só receber, ficar insensível, e ao mesmo tempo lhe tiramos a oportunidade de buscar suas próprias soluções para os desafios da vida. Podemos também nos tornarmos, nós mesmos, egoístas, revoltados, cansados de tanto dar sem nada receber. Este é um conceito equivocado de renúncia, ainda que com bons propósitos, pois seu foco de retorno é externo.
Existe outro modo de entender e praticar a Renúncia. Pode começar pela renúncia às rígidas certezas do nosso ego que fecham nossa mente, não nos deixam pensar (só repetir), nos levam ao controle, aos apegos, à nossa expectativa de recompensa exterior. Não nos ensinaram que qualquer renúncia deve resultar de uma escolha lúcida, de nossa vontade e possibilidade, de nossa total responsabilidade; uma escolha que nos trará uma gratificação interior. É o resultado de um processo interno de escolha consciente, gentil, amorosa e respeitosa, que pesa nosso desejo, nossas possibilidades internas de doação ante nosso desejo de chegar às necessidades do outro. Preciso para isso de uma “escuta” atenta do que quero, a percepção da alegria generosa e gratuita que recebo (sinto) ao escolher ser solidário e a verificação que posso, só por hoje, sem culpa.
Entendo agora o que dizia Francisco de Assis: “É dando que se recebe”, que se ganha a alegria de dar, de participar amorosamente da história do outro. Não há elogios, valores, agradecimentos que possam superar o ganho de alegria, ternura, amor que essa Renúncia livre e lúcida pode nos proporcionar.
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