Nesse modelo de mundo, competitivo e defensivo/agressivo,
onde fomos criados e “orientados” pelos grupos que nos acolheram, ouvimos
sempre que a condição para pertencermos e sermos aceitos, fosse na Família, Igrejas,
Partidos políticos, clubes esportivos, empresas, etc, seria escolhermos “um lado do muro”, vestirmos “uma
camisa” e ali permanecermos para sempre, fiéis e leais! Isto seria “ter
personalidade” e “lealdade ao grupo”. Não poderíamos jamais, “ficar em cima do
muro” e mudar... Isto seria uma vergonha, falta de caráter, fraqueza, falsidade...
Hoje
entendo que não posso, não devo e não quero abrir mão da minha liberdade de
escolha, do meu direito de modificar opiniões, pensamentos, atitudes... Esta é
uma responsabilidade que preciso ter comigo mesma – garantir minha liberdade de
escolher. Só assim garanto minha possibilidade de crescer, me transformar, ser
co-autora de mim mesma, em vez de ser mera seguidora de “um lado do muro”.
De cima do
muro é que posso ter a visão dos dois lados, dos vários lados, de qualquer
lado, da veracidade das “verdades” apregoadas como “certezas”, que um dia
escolhi ou me foram passadas, mas que já não me bastam...
Atenção! Essas “verdades”, tão defendidas
e apregoadas, me aprisionam e contaminam
sutilmente minha capacidade de ver, ouvir e refletir com isenção e liberdade sobre os vários
lados de quaisquer questões! Estar refém de um lado, de uma razão, de uma
camisa, de um rótulo, de um “partido” (familiar, religioso, político,
esportivo...) na verdade me “parte”, me mutila, me apequena... E me arma, me
“militariza”, me torna um militante combativo, guerreiro zangado ou irônico,
eterno defensor do mesmo lado, das mesmas visões... E isso me rouba a possibilidade de ser
pró-ativo em muitas questões que poderiam me parecer também justas, merecedoras
de atenção e cooperação.
Tenho
direito e necessidade de refletir com liberdade, tenho direito de mudar (ou
não) de opinião, de abandonar “lados”, “certezas”, de escutar minhas dúvidas, de
não “pertencer” a grupos, a tribos, a modismos...
Não adianta subir as mais altas montanhas, conhecer novas
pessoas, paisagens, ler os melhores livros... se minha visão estiver
condicionada, emparedada por algum “lado do muro”. Estamos vivos, somos uma
Centelha Viva e tudo que vive tem movimento, muda e se transforma. Somos
mutantes – a cada momento, precisamos adequar nossa visão e escolhas às pessoas
que estivermos sendo. E somente livres, “de cima do muro”, podemos ser leais a
nós mesmos e cumprirmos com nossos destinos em busca sempre do Melhor.