Quando insisto em julgar, criticando, as atitudes dos outros, estou certamente desfocada de
mim; estou num “descaminho de mim”. É perda de tempo na vida e revela uma
dificuldade de cuidar do próprio caminhar, de estar focado em minhas próprias
falhas e virtudes. Além disso, preciso reconhecer que jamais saberei como é
caminhar com os “sapatos” do outro.
A crítica,
quando uma opinião não solicitada, gratuita, reveste-se de acidez (mesmo
disfarçada) e da arrogância de nos sentirmos melhores e mais certos. Analisar
situações e atitudes faz parte de nossa capacidade de pensar, de raciocinar, de
fazer escolhas... No entanto, quando carregamos nossa análise com o peso da
crítica, da reprovação ácida, da ironia rascante, da raiva, do desamor... ela
revela nossa prepotência, nossa soberba, nossa vaidade, nossa onipotência, nossa
arrogância, nossa insensibilidade... e nossa falta de humildade! Tão
acostumados estamos em olhar para fora, brigando, defendendo idéias e pontos de
vista, defendendo nossa própria pele, atacando “adversários”, vivendo neste
mundo tão crítico e competitivo, que nem nos damos conta disso!
Toda
crítica demonstra carência de foco interno, de um olhar interior atento,
compreensivo e amoroso com nossas
próprias dificuldades. Se não estou ocupado com meu caminho, com a
aceitação das minhas descobertas (bonitas e feias) e das minhas possibilidades...
Se não reconheço as dificuldades que tenho em tentar mudar e melhorar; se não
me trato com amor e paciência, como posso ter uma disponibilidade generosa e
justa ao analisar o Outro? E então, critico!
Claramente ou o faço de forma sutil, desmerecendo suas escolhas e decisões,
diferentes das minhas. Critico com “alegria maldosa!” o modo como levam suas
vidas em trocas/fofocas. Critico políticos, administradores, prestadores de
quaisquer serviços, amigos, inimigos, parentes, os “mais chegados”, até os mais
amados... Critico suas falsidades, incompetências, fraquezas, ganâncias, ingratidões,
prepotências, teimosias... Critico suas falhas e sua humanidade, simplesmente
porque não estou devidamente em contacto com minha humanidade, ainda tão cheia
de falhas! E enquanto me detenho em
críticas improdutivas, que contaminam minha “boa energia” e me fazem rejeitar
os “errados”, acabo por fazer opções muitas vezes parciais ou não tomo
atitudes, apenas critico!
Desde
tempos muito antigos somos alertados para seguirmos nosso próprio caminho, para
estarmos cuidadosos e atentos conosco mesmos.
Enviados de uma Sabedoria Maior nos convocavam nesse sentido.
Parábolas nos sinalizavam para a necessidade de atenção e compaixão, conosco e
(a partir daí) com os outros... ao querer “atirar a primeira pedra”, ao não
perceber “uma trave no próprio olho”, ao julgar, criticando, o pai que recebe
um “filho pródigo”, e tantas mais...