O casamento pode ser uma forma de desgostar”.
No dia a dia, acreditando na necessidade do uso continuado
de máscaras e atitudes que demonstrem nosso valor, acabamos precisando sempre
“mostrar serviço” para provar que somos merecedores de todo amor, que temos
mais razão, que sabemos mais, que nos sacrificamos mais, que somos, enfim, os
melhores! Mas acabamos nos envolvendo, sem sentir, num processo competitivo
dentro da relação, porque o outro não quer ser o que sabe menos, o que tem
menos razão, o que é menos... o que é, enfim, o pior! A linguagem, que era
amorosa, gentil, carinhosa, vai-se modificando, tornando-se áspera, dura,
contundente... porque a linguagem da competição é a linguagem da guerra!
Como
animais enredados numa armadilha, ficamos com muito medo, ficamos confusos e
cada vez mais nos debatemos, repetindo o que sabíamos fazer – competir, tentar
controlar, lutar, tentando não nos perder um do outro. E nessa luta, tão equivocada, usamos as armas
que nossos sentimentos tão doídos e escondidos nos impeliam a usar:
- e vieram as facilitações/concessões
exageradas, manipulações para manter o controle, muitas vezes seguidas de
amargas cobranças, num jogo perverso de vítima/vitimador. Reclamações,
lamentos, críticas... por tudo o que,
pela nossa ótica, oferecíamos e já não recebíamos!
- e vieram as crises
de raiva explícita, explosões de frustrações silenciadas, disfarçadas...
- e vieram os
segredos e as mentiras, pequenos ou grandes, e os silêncios de manipulação para
“criar um clima”, distorções da comunicação que
traziam cada vez mais insegurança à relação já tão machucada e levavam a
um distanciamento defensivo cada vez maior.
- e vieram as
ironias, as “ridicularizações”, a esnobação, a indiferença aparente, mentirosa
e tão doída do “estou nem aí”.
- e vieram a
vergonha, a culpa, o sentimento de fracasso... E um grande ressentimento com o
parceiro que “não colaborou”.
Toda essa dor petrificada, transformou-se em arma e as pedras
eram constantemente lançadas um ao outro.
- e vieram tantas
mais... “São tantas coisinhas miúdas...”
até que sobreveio um grande Silêncio!
Partindo de premissas falsas,
crenças irreais, sentimentos negados e disfarçados, de tentativas contínuas de
controle, de comunicação distorcida ou calada - “se fosse resolver iria te
dizer da minha agonia...” - chegamos a
um grande impasse.
Foi um longo percurso, uma longa
agonia, disfarçada e mascarada no dia a dia. O que os une ainda? A raiva, a
teimosia, a possibilidade de “dar o troco”, de não “deixar barato”, a “família”
atormentada e “mal ensinada”, o medo, a crença de que deve ser “até que a morte
(misericordiosamente) nos separe...?
Todos estão feridos, muito
machucados. Uns se lamuriam com o mundo, cheios de auto-piedade
- a outros, uma
máscara de indiferença talvez pareça a melhor defesa. Tentam manter-se
blindados afetivamente, às vezes até cinicamente. - - alguns, tornam-se reféns de um ressentimento
imenso, analisando, sempre sob a mesma ótica, os erros e as culpas... do Outro!
E partem para novas buscas, de um novo parceiro mais adequado, perfeito para
ser enquadrado em seus mesmos velhos ideais... para começar tudo de novo!
- Outros acreditarão
em todas as culpas e fracassos que lhe foram imputados e, envergonhados,
seguirão humilhados e submissos na relação ou fugirão de qualquer outro
envolvimento afetivo.
- Mas alguns
outros...
Continua...