De muitas direções, soam alertas nos repetindo:
- Não dá mais para
esperar! A hora é chegada! É AGORA! Mas, que hora?
A hora da virada! A hora de virar a direção de nosso olhar:
retirá-lo do mundo e trazê-lo para o interior de nós mesmos – para descobertas,
sustos, medos, deslumbramentos, mudanças, libertações...
E então me pergunto: Quem sou eu? O que sei de mim? O que revelo de mim? O que
move minhas atitudes? Por que elas, às vezes, me surpreendem e até me assustam?
“Passamos pela vida ao largo de
nós mesmos...” Tem sido assim, me exibindo e me defendendo com máscaras
variadas, flexíveis, que mantém, blindados e negados, os pedaços não aceitáveis
de mim...
Na verdade, estou
cansada de dançar conforme uma música que não é a minha. E nem ao menos o baile
está bom! Finalmente ouço que é chegada a hora, que até já passou a hora, de
abandonar essas fantasias... É a hora de buscar um outro rumo!
Mas como? Como abandonar minhas
máscaras? Ficarei nua, vulnerável? E o que haverá debaixo dessas armaduras? Que
terríveis segredos estão ali amordaçados? Que “realidades” não admitidas, nem
mesmo sonhadas, habitam em mim? Descubro, espantada e sem graça, que não tenho
nenhuma intimidade com a pessoa que eu sou! Olhei sempre o mundo através dos
óculos fornecidos pela família e pela sociedade; óculos que eternizaram esses
segredos de mim, esses distanciamento interno, que me mantém apenas na superfície
de mim mesma e das minhas relações; que me mantém a deriva, deixando “a vida me
levar” para depois, lamuriosa, acusá-la de ser responsável pelas minhas dores,
pelos meus encalhes...
A Vida e seus desafios, as dores,
têm me chamado para buscar um novo caminho, mas eu não conseguia ver outro,
senão o que me fora ensinado – o olhar para o mundo, para os outros... Agora acredito
que finalmente a hora chegou! Entendi que o caminho para qualquer resposta na minha vida passa por Mim. Passa por reconhecer
o equívoco de muitas crenças e pensamentos, passa pelo desvendar dos meus
verdadeiros sentimentos, amordaçados em zonas sombrias, incomodando, agoniando,
tirando toda a leveza natural de meu ser.
Então repito: Como libertar-me?
Descobri que preciso acreditar
que devo e posso questionar crenças
que direcionavam meus pensamentos e me dispor a “ouvir” meus sentimentos,
seguindo as pistas de minhas dores, disfarçadas e menosprezadas... A Dor, seja
uma grande dor ou aparentes pequenos incômodos, são os meus aliados, porque
sinalizam o Caminho de Mim, porque apontam os “escondidos e disfarçados” de
Mim.
Estou descobrindo também que toda essa nova
“escuta”, esse “olhar” que preciso ter nessa aventurosa viajem, precisam ser gentis, bem humorados, pacientes, generosos...
Precisam ter compaixão e aceitação...
Precisam ser amorosos! O Amor é que
poderá abrir os cadeados de defesa do meu Ego, acalmando-o, mostrando-me o que
sou, Só por hoje, o que posso mudar e, muito mais, o quanto poderei me
libertar. Ao acessarmos dessa forma nossa
dimensão amorosa, antes também blindada, quase inacessível, também direcionada
para fora, começamos a sentir o gosto da libertação, a alegria de nos sentirmos
compreendidos, acolhidos e amados por nós mesmos. E esse sentimento amoroso tem
o poder de transbordar para o mundo à nossa volta.
Esse é o Caminho de Mim. Um
caminhar que liberta; que é uma verdadeira “itinerância”, incrível e
maravilhosa, em direção ao pior e ao melhor de mim. Um caminhar que, junto com
a doçura do Amor, me exige Honestidade e Firmeza. Um caminhar que
é um “desmonte” e um resgate, um caminhar que me integra. É um cuidado e uma
responsabilidade que assumo comigo mesma - para sempre... A cada momento, uma
nova descoberta, um grande ou pequeno nó que se desfaz, um dom que se revela, uma
vergonha que se perde, uma coragem que afinal conseguimos, uma intimidade
carinhosa e tão gostosa que vai se estabelecendo...
É uma viajem maravilhosa, que não
irá nos cansar ou desanimar, se mantivermos nossos olhos abertos, atentos,
curiosos, deslumbrados... Olhos de uma criança, diante desse Mistério Maior da
Criação – Nós Mesmos!