Ouço campanhas pelo desarmamento em todo o mundo. Campanhas
veiculadas por todos os meios de comunicação, embora esses mesmos meios tenham
toda uma programação (filmes, novelas, noticiários...) onde a violência é
banalizada, justificada, “purpurinada”, levando-nos à necessidade de nos
armarmos para sobrevivermos nesse mundo agressivo, violento, injusto, tão
desamoroso e hostil. Esse mundo que, na verdade, é formado do mundo particular
de cada um de nós!
Isso me
leva a pensar: Como está meu mundo? Fui aos poucos me adaptando, me armando,
para existir nesse cenário? E, se não uso armas que atiram, com qual tipo de
armas me defendo, ataco, “dou o troco”? E, se fico cada vez mais aguerrida para
me defender da violência, sinto que fico presa e retroalimento um processo maldoso,
maligno, de competição de forças, inacabável, que não traz alegria, amor,
felicidade!
Como parar esse círculo vicioso
que nos suga a gostosura da vida? Não posso desarmar ninguém, só a Mim! Enquanto
endosso campanhas e comentários sobre a violência, fico no campo das
teorizações, porque nada efetivamente estarei fazendo para trazer Paz ao mundo.
O meu poder se restringe a mim e pode se iniciar com um “olhar” honesto para
meus pensamentos, meus sentimentos e minhas atitudes –“ armadas.”
O quanto me mantenho armada,
defensiva, aguerrida... nas minhas relações, até nas mais próximas? Com a
preocupação constante de me poupar sofrimento, decepções, rejeições... posso
estar me fechando afetivamente e me isolando! Estamos juntos, até nos amamos,
mas temos dificuldade de nos desarmar, de nos relacionar sem expectativas, sem
cobranças, sem luta. O quanto tento esconder meu medo de perdas, comunicando-me
com ironia, aspereza, prepotência, arrogância...? O quanto estou presa, armada,
nesse modelo competitivo de Ser e Estar?
Como me desarmar? Devo me
entregar com inocência, de peito aberto, simplesmente acreditando que, se o Bem
é maior que o Mal, devemos esperar que o mundo seja generoso e perfeito – Hoje/Agora?
Só por Hoje, acredito que não somos perfeitos,
nós e o mundo do qual fazemos parte. Todos, países e pessoas, temos medo de
todos e o medo é que nos torna agressivos e armados ! Mas só posso cuidar do
meu medo! Preciso tentar viver cada momento com os “pés no chão”, sem a agonia
de esperar pelo pior, mas lidando com o cuidado, a atenção e a assertividade
necessários ao meu espaço físico e afetivo. Cuidar de mim com carinho,
compreensão, aceitação, me aquece, me acalma, me desarma, me aproxima das
pessoas. Pacificada, desconfio menos, tenho mais facilidade de olhar e ver o
Bem no mundo, na natureza, nas pessoas. E esse olhar mais benevolente,
certamente irá me nutrir melhor, me tranqüilizar, me tornar mais receptiva e
acolhedora. Só assim aquele círculo vicioso negativo poderá ser rompido e seu
movimento invertido numa espiral virtuosa, amorosa e libertadora.
Se eu me desarmo, o mundo fica um
pouquinho mais desarmado e certamente um pouco melhor!