Meu Deus, quantos choros escondidos, reprimidos...
Choros que acabava por liberar, aos pouquinhos... Choros que
só marejavam meus olhos, doendo, ardendo... quando a garganta contraída, doendo
tanto, já não conseguia reprimir toda a emoção. E eu olhava para outro lado,
falava qualquer outra coisa, tentava rir, desconversar, não pensar, não
sentir...
E fica a
pergunta: Por que me sufocar tanto?
- é meu orgulho atuando,
fazendo-me sentir vergonha de demonstrar fragilidade, sentir vergonha de
parecer descontrolada ou mesmo fraca, boba?
É ainda esse orgulho que me faz vaidosa de querer
parecer/ser superior, forte... E como tal, precisar ter o cuidado de preservar
e poupar os “mais fracos”? Ou o cuidado de não querer “incomodar” os outros?
- são os ditames
familiares, culturais, que me condicionaram a não demonstrar emoções? Um pudor
absurdo de ser eu mesma?
- é a insegurança, o
medo de parecer “chata”, o medo de não ser aceita, de não ser amada?
- é o medo irracional
de começar a chorar e nunca mais conseguir parar, de me acabar...
- é um pouco de tudo
isso?
Quantos
choros não chorados! E quantas vezes não fui acolhida e melhor compreendida
pelas dores que não demonstrei e até pelas emoções mais doces e bonitas que
disfarcei... por tudo que tranquei em meus olhos, minha garganta, em meu peito,
em mim... Nessas ocasiões, engoli o choro, escondi sentimentos, reforcei a
máscara e continuei caminhando, pisando duro, reta, seca, desumanizada,
superficial, trivial, quando não, ameaçadora ou agressiva, na defensiva, cada
vez menos próxima de outros, também “defendidos”. Quantas dores pelas
desilusões, pelo fim de uniões, pelos afastamentos... pelos filhos que
cresceram e se foram e pelos filhos que se foram, sem nem ao menos acabarem de
crescer... Dores, enfim, de despedidas, quaisquer despedidas... A dor maior do confronto com minha impotência
ante situações limites em minha vida. E parece que quanto maior a dor,
tornava-se maior a necessidade de segurar as lágrimas, ser forte...
Em alguns momentos,
sinto-me cansada! Para que? Por que?
A troco de “parecer” para mim mesma e para o mundo?
Preciso me cuidar com mais ternura e carinho, respeitando
meus limites e minhas emoções. Preciso aguar minha vida com as lágrimas
permitidas pela minha própria humanidade. Preciso ser forte o suficiente para
me permitir expressar meus sentimentos pelas palavras, gestos e pelo pranto.
Hoje, nesse momento, eu só
preciso chorar!