Sinto-me, muitas vezes, arrastada por uma corrente
desordenada que me envolve, me empurra, me cobra, me exige... e eu vou!
Corremos
para saber mais, ter mais, parecer mais, nos distrair mais, controlar mais, dar
conta de coisas demais! Vivemos e fomos educados sob a crença de que “tempo é
dinheiro” e o dinheiro é que compra coisas, estudos, títulos, “respeito”...
valorização do mundo. Então, precisamos correr à frente e atrás desse tempo!
Não podemos perder tempo! É correr, correr, correr...
Mas, vou
descobrindo por mim, em mim, que correr tanto cansa e quem cansa desanima,
perde o foco, se desgasta, se esvazia de alegria e até do próprio sentido da
corrida! Apenas corremos! Por que corro tanto? Para que? Para quem? O que busco
tanto se, quanto mais corro, menos saboreio?
Tenho
observado que essa correria frenética libera adrenalina, dá um “up” químico,
artificial, ao nosso caminhar. Faz-nos sentir ocupados, importantes, úteis e
até imprescindíveis... Nossa vida parece plena de saberes e afazeres... mas
vamos nos sentindo cada vez mais vazios das alegrias simples, de gozos
internos, de descobertas gostosas, de tranqüilidade, de serenidade...
Fomos
convidados (ou convocados?) a essa passagem nesta vida.
E um banquete está servido! Mas corro tanto de um “prato”
para outro, que nem os saboreio! Corro meus olhos por todos, avaliando,
criticando, provando-os sem alegria, querendo modificá-los...
Não paro para saborear a roupa (corpo) adequada que recebi
para aqui passar. Eu o forço, não o respeito, reclamo, quero sempre
modificá-lo...
Não paro para saborear a natureza à minha volta. Não tenho
tempo! E quando posso, tento modificá-la!
Não paro para saborear o que faço, o meu trabalho, qualquer
trabalho... Não me dou tempo para observá-lo, curti-lo, desfrutar da alegria de
fazê-lo bem feito. Virou obrigação e uma rotina enfadonha, apressada. Gostaria
sempre de trocá-lo!
Não paro para saborear meus amores: amigos, companheiros,
familiares... a doçura e curiosidade das crianças, a irreverência dos jovens, a
sabedoria dos idosos... Sem perder tempo, falo muito, ouço pouco, quero
orientá-los, quero modificá-los.
Não me permito desfrutar de momentos de puro ócio, de apenas
parar...
Buscando
coisas, pessoas, informações, novidades... eu corro. Não aprendo, realmente,
porque não tenho tempo para transformar tantos saberes em sabedoria! Sou e faço
tantas coisas... Sinto-me num carro em alta velocidade, onde pouco vejo, pouco desfruto
ou saboreio dessa incrível viajem! Corro insatisfeita, cansada, frustrada... e
culpo “essa vida tão complicada”, mas só eu posso descomplicá-la! Preciso de
coragem e perseverança para reduzir essa aceleração.
Quero
saborear cada “prato” que a vida me tem oferecido.
Os doces, gostosos, de puro deleite... e até os azedos e
amargos que tanto podem me ensinar com seu sabores estranhos. Repito para mim:
Quando corro não
saboreio a vida e tudo que ela tem a me oferecer.