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segunda-feira, 16 de junho de 2014

QUEM CORRE NÃO SABOREIA


           Sinto-me, muitas vezes, arrastada por uma corrente desordenada que me envolve, me empurra, me cobra, me exige... e eu vou!

            Corremos para saber mais, ter mais, parecer mais, nos distrair mais, controlar mais, dar conta de coisas demais! Vivemos e fomos educados sob a crença de que “tempo é dinheiro” e o dinheiro é que compra coisas, estudos, títulos, “respeito”... valorização do mundo. Então, precisamos correr à frente e atrás desse tempo! Não podemos perder tempo! É correr, correr, correr...

            Mas, vou descobrindo por mim, em mim, que correr tanto cansa e quem cansa desanima, perde o foco, se desgasta, se esvazia de alegria e até do próprio sentido da corrida! Apenas corremos! Por que corro tanto? Para que? Para quem? O que busco tanto se, quanto mais corro, menos saboreio?

            Tenho observado que essa correria frenética libera adrenalina, dá um “up” químico, artificial, ao nosso caminhar. Faz-nos sentir ocupados, importantes, úteis e até imprescindíveis... Nossa vida parece plena de saberes e afazeres... mas vamos nos sentindo cada vez mais vazios das alegrias simples, de gozos internos, de descobertas gostosas, de tranqüilidade, de serenidade...

            Fomos convidados (ou convocados?) a essa passagem nesta vida.
E um banquete está servido! Mas corro tanto de um “prato” para outro, que nem os saboreio! Corro meus olhos por todos, avaliando, criticando, provando-os sem alegria, querendo modificá-los...
Não paro para saborear a roupa (corpo) adequada que recebi para aqui passar. Eu o forço, não o respeito, reclamo, quero sempre modificá-lo...
Não paro para saborear a natureza à minha volta. Não tenho tempo! E quando posso, tento modificá-la!
Não paro para saborear o que faço, o meu trabalho, qualquer trabalho... Não me dou tempo para observá-lo, curti-lo, desfrutar da alegria de fazê-lo bem feito. Virou obrigação e uma rotina enfadonha, apressada. Gostaria sempre de trocá-lo!
Não paro para saborear meus amores: amigos, companheiros, familiares... a doçura e curiosidade das crianças, a irreverência dos jovens, a sabedoria dos idosos... Sem perder tempo, falo muito, ouço pouco, quero orientá-los, quero modificá-los.
Não me permito desfrutar de momentos de puro ócio, de apenas parar...

            Buscando coisas, pessoas, informações, novidades... eu corro. Não aprendo, realmente, porque não tenho tempo para transformar tantos saberes em sabedoria! Sou e faço tantas coisas... Sinto-me num carro em alta velocidade, onde pouco vejo, pouco desfruto ou saboreio dessa incrível viajem! Corro insatisfeita, cansada, frustrada... e culpo “essa vida tão complicada”, mas só eu posso descomplicá-la! Preciso de coragem e perseverança para reduzir essa aceleração.

            Quero saborear cada “prato” que a vida me tem oferecido.
Os doces, gostosos, de puro deleite... e até os azedos e amargos que tanto podem me ensinar com seu sabores estranhos. Repito para mim:

Quando corro não saboreio a vida e tudo que ela tem a me oferecer.