O luto
sobrevém às perdas e é sempre tempo de confusão, desamparo e Dor. “Perdemos” o que nos era amado e básico ou, ao
menos, o que era conhecido e nos parecia muito importante... Coisas, posições, expectativas, ilusões, pessoas/amores...
Formavam o nosso mundo, bom ou mau. Eram
o nosso mundo.
Precisamos de um tempo para buscar um
novo equilíbrio, para podermos “digerir” a perda do que se foi, para “viver”
essa dor. Dói tanto digerir as perdas! Mas, como se não fosse bastante, nosso
ego inconformado, duro, insensível, nos cobra punitivamente. Ele nos enche de
culpa por não termos sido perfeitos em nossas relações, principalmente as mais
especiais. Ele nos culpa por termos permitido a vida prosseguir, levando nossos
amores mais queridos, transformando tudo/todos em passado...
É preciso atenção, cuidado e
generosidade conosco mesmos nesses momentos de luto, de fragilidade emocional, para
não sermos presas fáceis da culpa, tão enraizada em nós pela família, pela
religião, pela cultura...pelo absurdo da crença na perfeição e da crença em
nosso poder sobre as pessoas e seus destinos. De forma cruel, nos açoitamos e
torturamos com pensamentos recorrentes trazidos pela culpa: Por que falhei? Por que não fui diferente, por
que não fui mais e melhor? Por que não cuidei mais, com mais gentileza e
ternura? Por que não ouvi mais, com mais atenção e respeito? Por que não
“enxerguei” mais, com mais sensibilidade? Por que não sorri mais, curti mais? Por
que não amei ainda mais? Como posso,
agora, comer, sorrir, desfrutar prazeres... Como ter direito de viver e pensar
em ser feliz?
O luto então, e também, serve para
atravessarmos a agonia desses questionamentos maldosos e absurdos, dessa culpa
que aprendemos a nos impor. Mas quaisquer
travessias, mesmo as mais difíceis, têm um tempo para acabar. Não podemos ficar
remoendo a culpa, tentando através dela manter o passado vivo. Querendo apagar
o que fomos, ou o que não pudemos ser... Numa tentativa insana de reescrever a
história, transformamos e eternizamos a dor em sofrimento, castigo e punição!
O passado não volta! A perfeição,
ainda, nos é impossível! Forjamos nosso
destino através de nossas escolhas e de como conseguimos vivê-las, nós e os
outros. Fomos o que pudemos ser no passado.
Hoje, no presente, preciso ir transformando as culpas pelos meus erros( os
reais e reconhecidos), em tristeza, em arrependimento e na responsabilidade em
estar mais atenta para tentar fazer diferente, para mudar.
A tristeza pelas perdas e a dor por
nossas falhas nos acompanharão sempre. Elas estão impressas em nós e sempre que
acionamos o gatilho das lembranças, sempre que voltamos a evocar esse passado,
elas se fazem gritantemente presentes. Mas,
quanto menos o evocarmos, mais esmaecidas elas ficarão pelo processo de
aceitação da vida com seus novos desafios, pela humilde compreensão de nossa
humanidade e pelo perdão a nós mesmos.
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