As rotinas,
mesmo tão mal faladas, nos oferecem “zonas de conforto”. Elas nos oferecem uma
sensação de previsibilidade, trazem uma ilusória, mas confortável, sensação de
segurança. E, na busca contínua de
conforto e segurança, tendemos a criar e nos acomodar às rotinas em nossas
vidas, individuais e de relação.
Culpamos o tempo, o trabalho, as necessidades afetivas, físicas e
financeiras, os sistemas, os outros... Tudo é desculpa para estabelecermos
nossas rotinas, desde o despertar até ao dormir, passando por eventuais
momentos fora do usual que, mesmo assim, tentamos vivê-los criando novas e
especiais rotinas. Aonde, com quem, de que modo, como... Situações novas, mesmo
quando nos excitam, nos metem medo!
Tentamos transformar nossas relações mais queridas em doces
rotinas, mas mesmo quando já azedaram ou amargaram, ainda assim, temos
dificuldade de abandonar ou desistir da “segurança” dessas rotinas. De modo ideal, queríamos manter nossos
mundinhos rotineiros e previsíveis e nós, dormindo (em sonhos ou pesadelos) ou
em “stand by” como tristes mortos/vivos.
Mas a vida não deixa! Estamos vivos para viver! Ela nos
sacode (docemente ou não), ela nos empurra para acordarmos. E tudo muda, se desarruma, nos desacomoda...
Envelhecemos, nossos amigos (e até os inimigos!) também, novas pessoas chegam e
outras se vão... Nossos amores mais queridos crescem, criam suas próprias
rotinas, separadas das nossas... É tão doído sentir que já não fazemos parte do
seu dia a dia! Agora somos visitas, intromissões, mesmo que queridas, em suas
rotinas...
Algumas vezes nos apaixonamos
por pessoas, por ideias, por atividades que nos fazem “perder a cabeça”,
abandonarmos a segurança de nossas rotinas, e então ousamos viver o novo, o
diferente! Sentimos medo, mas somos empurrados pela força de nossa paixão.
Contudo, logo nos vemos estabelecendo rotinas no que era novo. Queremos ser
livres, mas temos tanto medo! É tão desconfortável!
As rotinas nos tiram um pouco da
alma, nos robotizam. É importante estarmos atentos: Até que ponto cada momento
do meu dia e das minhas relações são dirigidos pelo automatismo das rotinas? Estou
pensando/escolhendo, sentindo e fazendo “tudo sempre igual”? Preciso libertar-me! Esta é uma luta
perdida com a impermanência na vida, com
a mudança constante de tudo e todos!
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