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segunda-feira, 27 de abril de 2015

FACES DO ORGULHO




            Nosso orgulho se baseia em crenças inconscientes que somos mais e melhores, que merecemos mais:  mais atenção, mais cuidados, mais aplausos... Merecemos que Deus cuide de nós, e dos nossos, de um modo especial.

Orgulhosos, acreditamos, ou queremos acreditar e parecer, que somos “sobre humanos”, porque temos medo de parecer ou demonstrar fraqueza, de parecer sermos menos ou de demonstrar nossa humanidade tão igual...

Quando não somos reconhecidos e valorizados, quando somos humilhados, para esconder nossos sentimentos de frustração e revolta, enganamo-nos ou tentamos enganar, fingindo indiferença (“eu nem ligo o que vem de baixo”), porque sentimos também muita vergonha de não estarmos sendo valorizados, respeitados ou reverenciados...  E nos obrigamos a seguir com nossos disfarces ou optamos por desprezar os outros, abandoná-los e nos isolar, antes que sejamos isolados e abandonados. O orgulho nos faz “deletar” ou  sermos “condescendentes” com aqueles que não têm nossos valores ou nossas opiniões, porque, afinal, as achamos  mais lúcidas, mais inteligentes, melhores enfim... O orgulho, sem que percebamos, nos faz sermos intrometidos, arrogantes, prepotentes, autoritários, presunçosos...

            O orgulho nos recobre de uma “pele fina”, por isso nos sentimos facilmente agredidos, melindrados. Os deslizes alheios conosco nos causam susto, confusão, irritação, raiva, mágoa, humilhação, ressentimento... por acharmos que não estarmos sendo bem tratados, cuidados e valorizados.

 O orgulhoso é patético no seu auto engano de ser mais, mas ele não é triste. As pessoas simples, quando vêm que se enganaram em suas expectativas ideais, se decepcionam, ficam tristes, mas acabam por aceitar que se enganaram e têm um aprendizado. O orgulhoso, irritado e ressentido, nada aprende, porque ele já sabe mais e melhor.

Em nossas relações mais próximas, sob a força de nossos afetos, ante as decepções, teimosos e orgulhosos, vemos esses sentimentos e ressentimentos nos encarcerarem. Como é difícil lidar com nossa dor pelo abandono, pela traição, pelo nosso próprio engano... Como é difícil aceitar a realidade, quando ela desmente nossas crenças delirantes, nossas ilusões de privilégios, nossos desejos mais caros...  Como é difícil ver nosso orgulho sacudido, “se espatifar no chão”!  Muitas vezes, tristemente, defensivamente, acreditamos que, para nos sentirmos valorizados, só nos resta o nosso orgulho e nos tornamos prisioneiros dele.

            O orgulho leva-nos a um impasse em nossas relações, porque não o reconhecemos em nós mesmos e nos debatemos com o orgulho dos outros.   Mas só posso cuidar do meu orgulho!  É dele que preciso me libertar para ser mais espontânea, mais natural, mais igual, mais feliz, mais simples na aceitação de minha realidade a cada dia. Só estando atenta, gentil e bem humorada no processo de auto descoberta, posso ir desfazendo crenças equivocadas e super valorizadas de mim mesma.  É preciso admitir, aceitar e me render... Essa rendição dói muito e nos faz chorar pela ilusão de poder perdida. O processo é muito longo e recorrente!  Mas, vale e pena, para ir deixando de ser um orgulhoso bobo, iludido, isolado...

Um comentário:

  1. Maria Tude, gostei muito do seu texto. Ele é de 2015, pena que só li agora. Mas me confortou muito. Escreva mais sobre o orgulho, vai ajudar muitas pessoas.

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