Ainda
acreditamos/pensamos e sentimos que nossa felicidade depende de sermos amados e
valorizados pelo mundo em geral e pelas pessoas mais significativas de nossa
vida, em particular. Mesmo quando achamos que já entendemos e pensamos
diferente, ainda assim, sentimos da forma antiga! Precisamos, por isso, ser os escolhidos e
possuir esses “objetos” tão queridos (ou não!) que constituem o nosso mundo
afetivo, que nos dão a impressão de segurança e completude. Queremos ser os mais amados, os escolhidos, por esses “objetos” : pais, filhos, irmãos, amantes,
companheiros, amigos, até animais... Diante
de qualquer ameaça ao “sucesso” junto a eles ou à posse desses “objetos”, um
alerta soa, um gatilho é acionado dentro de nós, despertando o Ciúme! Ciúmes que vão mudando com nossa idade, com a
importância dos “objetos” de nosso amor em cada fase de nossa vida. Pequenas
ameaças a pequenos apegos – pouco ciúme. Grandes ameaças e grandes apegos -
grandes ciúmes!
O ciúme nasce, então, desse apego
assustado, ameaçado, apaixonado, sem medida. Infelizmente, traz com ele a
agonia de uma luta, de antemão perdida, pela posse do que não pode ser possuído
– o Outro. E até mesmo pela posse de coisas e status, de tudo que é finito, em
um universo de contínuas impermanências, mudanças, mutações...
É um sentimento derivado de uma
crença equivocada e detonado pelo Medo: medo de perda, medo do abandono, medo
da rejeição, medo de ser preterido,
medo da menos valia, medo do
desamor... E esses medos do ciúme nos levam a um estado de contínua e agoniada
atenção e vigilância sobre o Outro, sobre seus passos, suas preferências... E nos vemos envolvidos em uma constante
comparação, com medo de perdermos a competição pela posse do outro. E,
dominados pelo ciúme, vemos crescer dentro de nós a raiva, a tristeza, a
inveja, o despeito... um turbilhão de emoções dolorosas, até o desespero! E
passamos a ter atitudes coerentes com a “ameaça” da perda: tentamos controlar, até
adivinhar, de todas as maneiras, os pensamentos, os sentimentos e os
comportamentos do Outro, com cobranças, manipulações, lamúrias, mentiras... Tudo
é usado nessa luta louca: coação, coerção... Instala-se uma falta total de espontaneidade
e alegria na relação! E tanta luta acaba por nos afastar e
levar à perda do que mais temíamos – a valorização pelo Outro e o amor do
Outro!
O ciúme se revela em pessoas de qualquer classe social,
qualquer nível intelectual, em qualquer tempo, em qualquer cultura e até em
animais. Acredito que seja por um crer/pensar ainda tão primitivo, primário,
que nos leva a olhar sempre para fora, um olhar sempre competitivo e defensivo,
que luta pela “presa” preciosa. Um olhar
equivocado por não termos, ainda,
aprendido a trazer o foco para nós, por não nos termos habituado a um olhar interior ao buscar Amor e Valor.
A saída para conseguirmos “abrir mão” do que nunca foi nosso
passa pelo tormento das dores, dos diferentes matizes das dores causadas pelo
ciúme. Depois dessa noite escura e tempestuosa, amaciados e quebrados em nossa
luta inglória, no vazio de nossa perda, poderemos, gradualmente, descansar e
aprender a cuidar de nós mesmos, afinal, o único amor que jamais
perderemos! Essa, como outras, é uma
travessia que precisamos fazer em busca da liberdade, da felicidade. Essa liberdade requer atenção contínua à
realidade de que nada, nem ninguém, nos pertence, de que tudo e todos apenas passam
por nós! Requer paciente atenção para não nos deixarmos aprisionar por novos
apegos e voltar a sofrer pelo ciúme. Requer paciente exercício de nos valorizar
e amar, de nos cuidar!
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