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sexta-feira, 10 de julho de 2015

CIÚME


            Ainda acreditamos/pensamos e sentimos que nossa felicidade depende de sermos amados e valorizados pelo mundo em geral e pelas pessoas mais significativas de nossa vida, em particular. Mesmo quando achamos que já entendemos e pensamos diferente, ainda assim, sentimos da forma antiga!  Precisamos, por isso, ser os escolhidos e possuir esses “objetos” tão queridos (ou não!) que constituem o nosso mundo afetivo, que nos dão a impressão de segurança e completude. Queremos ser os mais amados, os escolhidos, por esses “objetos” : pais, filhos, irmãos, amantes, companheiros, amigos, até animais...   Diante de qualquer ameaça ao “sucesso” junto a eles ou à posse desses “objetos”, um alerta soa, um gatilho é acionado dentro de nós, despertando o Ciúme!  Ciúmes que vão mudando com nossa idade, com a importância dos “objetos” de nosso amor em cada fase de nossa vida. Pequenas ameaças a pequenos apegos – pouco ciúme. Grandes ameaças e grandes apegos - grandes ciúmes!

            O ciúme nasce, então, desse apego assustado, ameaçado, apaixonado, sem medida. Infelizmente, traz com ele a agonia de uma luta, de antemão perdida, pela posse do que não pode ser possuído – o Outro. E até mesmo pela posse de coisas e status, de tudo que é finito, em um universo de contínuas impermanências, mudanças, mutações...

            É um sentimento derivado de uma crença equivocada e detonado pelo Medo: medo de perda, medo do abandono, medo da rejeição, medo de ser preterido, medo da menos valia, medo do desamor...    E esses medos do ciúme nos levam a um estado de contínua e agoniada atenção e vigilância sobre o Outro, sobre seus passos, suas preferências... E nos vemos envolvidos em uma constante comparação, com medo de perdermos a competição pela posse do outro.  E, dominados pelo ciúme, vemos crescer dentro de nós a raiva, a tristeza, a inveja, o despeito... um turbilhão de emoções dolorosas, até o desespero!  E passamos a ter atitudes coerentes com a “ameaça” da perda: tentamos controlar, até adivinhar, de todas as maneiras, os pensamentos, os sentimentos e os comportamentos do Outro, com cobranças, manipulações, lamúrias, mentiras... Tudo é usado nessa luta louca: coação, coerção... Instala-se uma falta total de espontaneidade e alegria na relação!  E tanta luta acaba por nos afastar e levar à perda do que mais temíamos – a valorização pelo Outro e o amor do Outro!

O ciúme se revela em pessoas de qualquer classe social, qualquer nível intelectual, em qualquer tempo, em qualquer cultura e até em animais. Acredito que seja por um crer/pensar ainda tão primitivo, primário, que nos leva a olhar sempre para fora, um olhar sempre competitivo e defensivo, que luta pela “presa” preciosa.  Um olhar equivocado por não termos, ainda, aprendido a trazer o foco para nós, por não nos termos habituado a um olhar interior ao buscar Amor e Valor.


A saída para conseguirmos “abrir mão” do que nunca foi nosso passa pelo tormento das dores, dos diferentes matizes das dores causadas pelo ciúme. Depois dessa noite escura e tempestuosa, amaciados e quebrados em nossa luta inglória, no vazio de nossa perda, poderemos, gradualmente, descansar e aprender a cuidar de nós mesmos, afinal, o único amor que jamais perderemos!  Essa, como outras, é uma travessia que precisamos fazer em busca da liberdade, da felicidade.  Essa liberdade requer atenção contínua à realidade de que nada, nem ninguém, nos pertence, de que tudo e todos apenas passam por nós! Requer paciente atenção para não nos deixarmos aprisionar por novos apegos e voltar a sofrer pelo ciúme. Requer paciente exercício de nos valorizar e amar, de nos cuidar! 

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