Na medida em
que nos distanciamos no tempo, na medida em que aprendi a me “desligar” daquela
simbiose doentia e mortal, que nos aprisionava, onde nos debatíamos, nos
agredíamos e acusávamos, sempre
agarrados, sem aceitarmos um distanciamento que permitisse ver, sentir, entender
a nossa humanidade enlouquecida, aprisionada em tanta confusão e dor, posso,
cada vez melhor, avaliar e me penitenciar por minha cega insensibilidade ante a dor e o horror da
doença que o torturava.
Hoje, “desplugados” pela vida, pela
morte e pelo entendimento de que somos seres individuais, com escolhas e suas
consequências individuais, com dons e doenças individuais, com responsabilidade
de aprendizado individual, posso, enfim, ver, chorar e respeitar a Dor de quem
tanto sofreu, de quem tanto quis se libertar, de quem tanto quis ter mais
força, brilho, ser mais amado,
valorizado... e dor de quem se
desesperou ao se descobrir, cada vez
mais, julgado, condenado, aprisionado, sem saída...
Um dia, parei de falar e pude ouvir
e “ver”, em meio a tanta agonia, um brilho de esperança em seu olhar tão
humilhado e machucado... E você conseguiu dizer “ Eu tenho fé que vou ficar
bom!” Apesar disso, quantas idas e
vindas, caminhadas, descaminhos, caídas, recaídas... Quanta dor, quanta humilhação, quantas
raivas, tristezas, culpas e vergonhas escondidas, desespero, desesperança... E,
apesar de tudo, quanta coragem e persistência! Sempre em novas tentativas,
novos recomeços...
Hoje, cada vez mais, pressinto, e
até ouso pensar que sinto, sua dor!
Antes, eu só sentia a minha dor! Dor
pela perda dos meus sonhos e expectativas com sua vida, dor pela vergonha e
culpa por ter falhado em minha “missão impossível” de moldá-lo, modificá-lo e
“salvá-lo”, pela minha incapacidade de ouvi-lo, de acolhê-lo com suas dificuldades, de amá-lo como você
era... Só sentia frustração, raiva, mágoa, ao me ver arrastada naquele
turbilhão, que eu negava me pertencer. E eu só me debatia, acusava, cobrava...
aumentando a confusão e a agonia de todos nós!
Hoje, respeito cada vez mais a
coragem necessária para, apesar de tudo, não desistirmos. Sua coragem para insistir,
um dia de cada vez, buscando sua liberdade física, emocional e mental, ancorado
em uma aliança espiritual com sua Luz de Origem e em seus Companheiros Anônimos.
Hoje, respeito e me compadeço daqueles que ainda não encontraram, ou
mesmo buscaram, um caminho de libertação.
Hoje, respeito as marcas eternas,
as cicatrizes deixadas nos familiares que, mercê de tantas dores, aprenderam um
novo modo de amar, vivendo e deixando viver, deixando florescer, aqueles que tanto sofriam.
Hoje, respeito, com compaixão, a imensa dificuldade dos familiares que
ainda não conseguiram se libertar e libertar (para deixar crescer) aqueles que
amam com tanto desespero, aqueles todos os que estão se afogando nesse
turbilhão de dores e ainda não sabem como sair!
Toda Dor tem um propósito em nossa
caminhada. Para nós, em quaisquer papéis, que vivenciamos a agonia, o horror, a
Dor da dependência química, fica a certeza que nos foi oferecido um desafio e
uma oportunidade. Fica a certeza que um
Poder Maior nos acompanha em nossa luta e Sua Luz em nós nos fará ir superando
os obstáculos e transformando nossa humanidade, ainda tão menina.
Hoje, quando sou invadida pela lembrança de nossas agonias
e lutas, quando sinto e revivo as suas
dores, ainda sofro tanto! Mas procuro me consolar com nosso amor, agora tão livre,
real e bonito... E por nossa coragem e persistência nessa caminhada que nos
levou, a todos, bem mais longe e mais alto.
Te amo...
Linda!
ResponderExcluirObrigada, Claudia! Beijos.
ExcluirLinda!
ResponderExcluirLINDA MENSAGEM! Só mesmo com a ajuda de um Poder Superior podemos suportar tantas idas e vindas, tanta agonia e o horror da dependência Química.
ResponderExcluirObrigada, Célia, por compartilhar nossos sentimentos. Beijos.
ExcluirLinda e profunda mensagem.
ResponderExcluirOlá, Paulo! Obrigada por me entender nesse texto! Abraços.
ExcluirMuito bom o que a Sra. Escreve.
ResponderExcluirIsso me emociona. Todo D.Q quer houvir isso do familiar. Expressar sentimentos compreedendo a dor dele. E preciso tbem encontrar uma trinca no ego.
Talvez falar de sentimentos seja um caminho.
Até breve. E que o P.S. nos abençoe