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sexta-feira, 7 de outubro de 2016

DESDOBRAMENTOS DA TRAIÇÃO




         Quando somos confrontados com a traição em nossas relações nosso mundo interior, alicerçado em nossas “certezas”, desmorona. Ficamos, literalmente, no chão, desequilibrados, confusos, perdidos, em meio a uma enorme dor. A autoconfiança, um dos pilares de nossa autoestima, desaba, desaparece...  O abalo é maior, na proporção direta do quão maiores foram nossas expectativas na honestidade da relação.  Quanto mais próximos e intensos os laços (de sangue, familiares, de amizade, de paixão...) mais acreditávamos que seríamos para sempre verdadeiros uns com outros. Quanto maior a entrega e o envolvimento afetivo, com amantes e amados, maior nossa expectativa idealizada de um compromisso total de amor e lealdade.

            Temos dificuldade, ou nos é até impossível, olhar quem amamos sob uma perspectiva real, como seres que falham, que têm medo da verdade, que mentem, que traem os compromissos e as nossas “certezas”. Temos também dificuldade de reconhecer o quanto nós, da mesma forma, não somos sempre “de verdade” sob nossas máscaras, em nossos papéis, mesmo que não tenhamos chegado a comportamentos de “traição explícita”!  Mas essas são reflexões só deverão nos ocorrer mais tarde, com o auxílio do tempo... No momento do confronto com a traição só existe a dor que, se desdobrando como as águas de um lago em ondas após o choque, fazem explodir nossas emoções confusas e se refletem em atitudes agressivas de revide.

            Ficamos inseguros, medrosos... Uma raiva imensa, intensa, misturada a uma mágoa ainda maior e a uma grande auto piedade...  Também, como após um abalo na Terra, passado o primeiro choque, as emoções vão se espalhando, modificando, transformando... Instala-se uma raiva surda, um ressentimento amargo...  Descobrimos uma vergonha horrível por termos acreditado, por termos tanto nos dedicado... Vergonha e culpa por termos, de algum modo, falhado. E voltamos nossa raiva também contra nós mesmos!  A princípio não há perdão para o Outro. Mais tarde, nem para nós!  Talvez  a fase mais demorada e difícil desse perdão seja a descoberta e aceitação do nosso orgulho e vaidade tão feridos! Admitir que não fomos para o Outro tudo aquilo que acreditávamos ser e merecer, admitir nossas fraquezas e carências  ao fazer nossas escolhas, admitir que somos todos apenas pessoas que sonham e falham...

            As atitudes de retaliação acompanham essas emoções tão dolorosas e poderosas. Queremos magoar tanto quanto nos sentimos feridos. São momentos convulsos e confusos que nos levam a comportamentos muito equivocados! Comportamentos que   não apagam nossa dor e tumultuam ainda mais a todos os envolvidos conosco. Podem tornar-se uma larga e poderosa onda de choque, que fere cada vez mais longe... E podem se eternizar em jogos sutis, perversos, que tanto ferem a todos nós.

            Para alguns, o confronto com a traição pode ser tão doloroso, que se defendem com a negação da realidade. Preferem não ver e não acreditar... Ou preferem desqualificar a traição e perdoar “só dessa vez”... 

            E então? O que fazer? A princípio, é hora do não fazer, porque ainda estamos muito presos ao que se passou (passado) e ao Outro. E não temos o poder de modificar nem um, nem outro!! Ainda estamos com o foco fora de nós, no Outro – lamentando que acreditamos demais, demos poder demais, esperamos demais, confiamos demais... Estamos obcessivamente crucificando o Outro, porque falhou, por não ser o que esperávamos, pelo que prometeu e não cumpriu... Estamos até mesmo buscando um Outro!

            Então, é hora de trazer o foco para mim. A saída está em mim! Preciso me acolher nesse momento, com aceitação e carinho. Isto é me nutrir. Indagar dos meus porquês, da minha vulnerabilidade, das minhas carências, das minhas idealizações... Entender e rever minhas escolhas, às vezes tão cegas e equivocadas! Aprender com minha experiência tão doída.  Aos poucos, com esse cuidado gentil e generoso comigo mesma, deixando fechar minhas feridas, vou adquirindo auto confiança, serenidade e alegria no caminhar.  Após a terrível tempestade, as águas começam a se acalmar... Já estou me perdoando.  Já posso perdoar o Outro. Já posso desistir de ficar relembrando tudo que ainda me faz sofrer.  Estou aprendendo a amar sem idealizar e busco seguir em frente mais firme, sem amargura, mais lúcida e serena.  

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