Mesmo aquilo que já se esperava, quando finalmente
acontece, traz impacto e toma as cores fortes do inesperado! Parece que, agora,
de repente, aconteceu! Antes, já havia a suspeita de algo que não se desejava, que
se temia – diagnósticos ruins, traições, perdas várias... Até o fim esperado de
relações que se arrastavam, fim que até desejávamos, mas que, quando acontece a
separação física, quando um se vai, parece que foi agora que, de repente, aconteceu! Viagens anunciadas para longas
distâncias, por tempos longos, quando chega o momento da despedida, nos sentimos
sacudidos pelo “inesperado” choque da nova realidade.
E existem fins, realmente, inesperados, que nos
chegam num doloroso repente. A morte física, o afastamento “definitivo”, sempre
se reveste de um maior impacto. A “morte” de crianças, de jovens, dos mais
moços... sempre nos parece inesperada,
repentina, inaceitável, inacreditável! Ficamos impactados, paralisados, com o
choque de uma realidade possível, mas nunca esperada! É o confronto com uma nova realidade, que nos parece absurda e
irreal. Sentimo-nos paralisados, anestesiados... A “ficha” levará um tempo
variado para cair. Sentimo-nos num limbo entre o antigo e o novo. Onde estamos?
Que realidade nova é essa onde é gritante o vazio! O que? Como? Quem se foi?
E o luto se inicia quando tropeçamos a cada
instante em lugares, conversas, coisas, lembranças do mundo antigo, vazio de
quem se foi. Lembranças pequenas, grandes, boas, engraçadas, ruins, antigas,
recentes... Lembranças, recorrentes e repetitivas, das últimas conversas, dos
últimos momentos e de como, de repente,
o horror nos chegou... Lembranças que nos martirizam com culpas, cobranças,
desculpas... do que foi, do que poderia ou deveria ter sido.
Mas, em sua crueza, uma
nova realidade nos empurra, um dia de cada vez, para novas tarefas, trabalhos,
rotinas modificadas, pessoas, conversas... É a vida que continua, sem piedade,
mas piedosamente, e nos aponta o caminho a seguir - . Aceitação dessa nova realidade,
que não podemos modificar, Entrega a um Poder Maior e Amoroso, que sabe os
porquês, e Paciência comigo, com meu assombro tão doloroso, nesse contínuo
caminhar.