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sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

TÃO DE REPENTE !



         Mesmo aquilo que já se esperava, quando finalmente acontece, traz impacto e toma as cores fortes do inesperado! Parece que, agora, de repente, aconteceu! Antes, já havia a suspeita de algo que não se desejava, que se temia – diagnósticos ruins, traições, perdas várias... Até o fim esperado de relações que se arrastavam, fim que até desejávamos, mas que, quando acontece a separação física, quando um se vai, parece que foi agora que, de repente,  aconteceu! Viagens anunciadas para longas distâncias, por tempos longos, quando chega o momento da despedida, nos sentimos sacudidos pelo “inesperado” choque da nova realidade.

           E existem fins, realmente, inesperados, que nos chegam num doloroso repente. A morte física, o afastamento “definitivo”, sempre se reveste de um maior impacto. A “morte” de crianças, de jovens, dos mais moços... sempre nos parece  inesperada, repentina, inaceitável, inacreditável! Ficamos impactados, paralisados, com o choque de uma realidade possível, mas nunca esperada!   É o confronto com  uma nova realidade, que nos parece absurda e irreal. Sentimo-nos paralisados, anestesiados... A “ficha” levará um tempo variado para cair. Sentimo-nos num limbo entre o antigo e o novo. Onde estamos? Que realidade nova é essa onde é gritante o vazio! O que? Como? Quem se foi?

           E o luto se inicia quando tropeçamos a cada instante em lugares, conversas, coisas, lembranças do mundo antigo, vazio de quem se foi. Lembranças pequenas, grandes, boas, engraçadas, ruins, antigas, recentes... Lembranças, recorrentes e repetitivas, das últimas conversas, dos últimos momentos e de como, de  repente, o horror nos chegou... Lembranças que nos martirizam com culpas, cobranças, desculpas... do que foi, do que poderia ou deveria ter sido.
            Mas, em sua crueza, uma nova realidade nos empurra, um dia de cada vez, para novas tarefas, trabalhos, rotinas modificadas, pessoas, conversas... É a vida que continua, sem piedade, mas piedosamente, e nos aponta o caminho a seguir - . Aceitação dessa nova realidade, que não podemos modificar, Entrega a um Poder Maior e Amoroso, que sabe os porquês, e Paciência comigo, com meu assombro tão doloroso, nesse contínuo caminhar.


sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

SEGREDOS




      Segredos nascem do medo. Medo de sermos censurados, de sermos rejeitados, de sermos execrados, ridicularizados, prejudicados... Fazemos segredo de pensamentos, emoções e atitudes para o mundo e, muitas vezes, até para nós mesmos. Não queremos que outros vejam o que muitas vezes nem mesmo nós queremos ver. São verdades não ditas, não vistas, não reveladas. Segredos se criam pela omissão e buscam se perpetuar pelas mentiras. Tentam nos defender da censura social, mas acabamos reféns deles.

      Existem segredos em todas as nossas relações, das mais íntimas às mais mundanas: segredos entre nações, segredos profissionais, religiosos, políticos, segredos de amor...   Existem segredos na “vida pública” que escondem atos prejudiciais ao bem comum ou às pessoas.  Existem segredos de Família, que atravessam gerações e tentam nos livrar do desprezo e vergonha perante os preconceitos da sociedade. Existem os segredos dentro da Família, entre os mais próximos e queridos, entre aqueles que mais nos assustam quanto à sua possível rejeição. Existem segredos que afetam diretamente a vida de outras pessoas, queridas ou não, e ao mantê-los nos posicionamos como donos do destino do outro, roubando-lhes sua história e suas escolhas.

      Segredos nascem do medo e nos mantém prisioneiros da eterna angústia de vê-los revelados. Maquiamos a nós mesmos e à nossa história com segredos e omissões, mas existe a necessidade de uma transparência mínima em quaisquer relações. Quando nas relações existem muitos segredos, lacunas, elas tornam-se, forçosamente mais superficiais, sem possibilidade de se aprofundarem, sempre ameaçadas, num eterno suspense, que a todos tanto maltrata.

      Os segredos mais íntimos são estritamente pessoais. São aqueles que escondemos com mais cuidado na intimidade de nosso “armário”. São aqueles mais difíceis de revelarmos porque fazem parte da máscara que fazemos acreditar sermos nós. “Só a Verdade nos libertará”,  mas só posso revelar os meus segredos e, mesmo assim,  há um tempo e um processo para essa libertação.  Revelar os segredos pessoais, íntimos, das outras pessoas é profundamente maldoso e desrespeitoso. De modo inconsequente e insensível, aderimos ao mau hábito social da maledicência e da “fofoca”, quando trocamos “confidências dos outros”, revelando o que tanto tentam esconder. Nem lembramos que isso é como desnudar alguém, deixando-o exposto ao mundo, sem que esteja pronto para isso.

      Abrir mão de nossos segredos é uma atitude pessoal, decorrente do  processo gradual de auto descoberta, de auto aceitação e auto valorização. A intimidade amorosa e acolhedora que resulta desse contato contínuo conosco mesmo nos fortalece, superando a necessidade de aprovação, espantando nossos medos, fazendo-nos caminhar, enfim, mais livres...

sábado, 13 de janeiro de 2018

TANTO AMOR DESPERDIÇADO...



         Às vezes, nos pegamos pensando... Que pena! Era um amor tão bonito! A vida era tão maravilhosa! E havia a promessa de que seríamos felizes assim, para sempre... O que houve com esse Amor?
         Aos poucos, devagarinho, sem que sequer pudéssemos perceber, tudo foi modificando-se, perdendo a magia, o brilho, o frescor e, como uma flor, foi murchando... Confusa, sem entender, ficava zangada, magoada, com o Outro, que falhara e queimara meu sonho. Hoje, com a perspectiva do tempo e das perdas, tento analisar de forma mais isenta o processo doloroso do desamor que nos afasta...
          Acredito que, desde o início, esse “sonho de amor”, vivido em “lindos palácios” criados por nossa imaginação, era instável, sujeito a desmoronar, porque se baseava em fantasias. Para nos atrairmos, para seduzirmos um ao outro, nos manipulamos, nos colorimos, nos maquiamos, para muito além do que éramos...   Criamos, assim, expectativas irreais que nos mantinham ansiosos, lutando para que  nossos sonhos se mantivessem vivos e reais.    Acreditávamos que possuíamos aquele que amávamos e para ele seríamos para sempre sedutores, teríamos paciência, boa vontade, generosidade, compreensão, tolerância, que respeitaríamos seus valores e a sua humanidade... mas esquecemos de ver e dizer que tudo isso estaria condicionado a recebermos do Outro tudo na mesma proporção!
           Foi assim o início da comparação, da competição... Quem era o melhor? Mas vieram as desilusões, as pequenas e constantes desilusões, porque ideais são ideais, mas pessoas são pessoas... Os sonhos foram se transformando lentamente, dia a dia, envenenados pela mágoa, pelos queixumes, pela impaciência e irritação, pela raiva, pelas acusações e cobranças, pelos confrontos...  Por que o Outro estava traindo nosso ideal?
           Sentíamo-nos desconfiados, inseguros... A  relação já então foi ficando envenenada pelo mau humor, pelas reações agressivas, pela implicância, pelas ironias que humilham, pelo desrespeito aos valores do Outro... Cada um se sentindo ultrajado e traído, fechando-se na mente e no coração. Já não havia possibilidade de uma comunicação pacífica em busca de um acerto.  Apenas persistia  viva  a luta, a competição ..Já agora, quem era o pior?. Finalmente, cansados e desiludidos, acabam por desistir daquele Amor, já sem sal e sem doçura, murcho e amargo. Abandonam o campo de batalha ou abandonam-se, embora muitas vezes permaneçam juntos, “como pedras, que choram sozinhas no mesmo lugar.” Que pena! Quanto amor desperdiçado...
          Às vezes iniciamos uma nova relação de amor, mas se estivermos baseados nos mesmos pressupostos, é apenas uma questão de tempo para tudo se repetir e, mais uma vez, sofrermos com a agonia do fim do amor. Sem entendermos, amargurados, acaba sobrevindo em nós a descrença nas pessoas e no amor.
          Seremos condenados a uma solidão afetiva escolhida ou  finalmente escolheremos ver nossa relação amorosa com pessoas reais,  crenças realistas, honestidade e  respeito mútuo?

domingo, 7 de janeiro de 2018

OBEDIÊNCIAS



         Somos seres sociais e em qualquer grupo a que pertençamos somos cobrados e cobramos obediência às regras de comportamento, às ideias e ao saber daqueles mais antigos, que nos precederam nos grupos.  Como lidamos com a Obediência?

          Existe uma Obediência forçada, forçosa, para defesa dos objetivos de cada grupo. Na Infância, quando estamos submetidos à força e cuidado da Família, por necessidades afetivas e de sobrevivência, somos forçados a ouvir e obedecer. Também ao pertencer a grupos sociais mais extensos, ficamos sob a supervisão e vigilância da justiça, da polícia, atentos à obediência a leis e regras sociais daquela cultura.

           E também quando escolhemos outros grupos aos quais desejamos pertencer, nos vemos “forçados” a obedecer às suas regras: empresas, igrejas, associações esportivas e de lazer, quartéis, mosteiros... Tendemos, muitas vezes. a nos incomodar, a tentar desobedecer e até nos revoltar com essa obediência forçada. Mas é o preço do pertencimento àqueles grupos. Podemos e devemos argumentar sobre a rigidez ou lucidez de suas regras, mas quando não aceitos, nos resta obedecermos ou os deixarmos.

            Existe ainda outro tipo de obediência – a obediência cega! É uma obediência doentia, passiva, submissa, sem pensar, sem escolha... Deriva de nossa própria rigidez em acatar crenças rigidamente impostas e aceitas – crenças familiares, ancestrais, tradicionais, religiosas, ideológicas... A obediência cega é rígida e nos  torna robôs sem vida, sem pensar, manipulados por grupos igualmente rígidos, impedindo a nós e a eles mesmos de crescer e se transformar..

            Mas, amadurecendo, vamos optando por uma obediência nascida da flexibilidade, da liberdade de pensar, da inteligência de quem ouve as diferentes possibilidades, analisa e escolhe. Obediência ao que não é imposto, mas apenas sugerido pela experiência dos mais antigos e mais vividos, dos que mais erraram e mais aprenderam. É uma obediência que nasce da liberdade, da responsabilidade por nossas escolhas, da humildade que nos permite aprender e do respeito aos mais experientes.  Essa é a obediência sugerida pelas Irmandades Anônimas!


segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

A MÁSCARA QUE SORRI


        Comunicamo-nos com o mundo, ou nos disfarçamos para ele, através de nossas máscaras físicas.  São tantas máscaras que vamos criando! Na maioria, são eventuais, conforme nossas eventuais necessidades. Mas muitas de nossas criações, tornam-se repetitivas, rotineiras, contínuas... Essas refletem nossas crenças aprendidas, nossos pensamentos e suas consequentes emoções, se expressando através de nosso corpo físico. Elas nascem em nós e vão moldando-nos sem que percebamos, momento a momento, dia a dia, nas variadas circunstâncias...  Elas se sobrepõem a nós mesmos, ao nosso interior verdadeiro de alegria e luz e, sob o peso dessas máscaras, passamos a agir, reagir, a interagir com a vida.
          Quando predominam em nós crenças, pensamentos e lembranças negativas, passamos sentir constantemente tristeza, mágoa, ressentimento ou raiva e rancor, criando em nós um “manto, uma máscara” interior, que nos predispõe a nos tornarmos reativos à vida da mesma maneira.  Quando somos prisioneiros da ansiedade, do medo de terríveis possibilidades futuras, vamos construindo um manto interior pesado, angustiado, que nos prepara para o pior, que nos enrijece o interior e nos tira a abertura e a espontaneidade para vida.
           Com o passar do tempo, essas “máscaras” interiores vão se assenhoreando de nós! Muitas vezes ficamos reféns do passado e do futuro e assim nos sentimos concretados nessas máscaras/mantos interiores, que passam a funcionar como uma armadura pesada, levando-nos a pensar, sentir e agir  no presente num “piloto automático emocional negativo, sem liberdade de Ser e Estar de modo diferente, transformado, mais iluminado... E as nossas outras máscaras faciais, apenas exibidas para o mundo, quando tentam disfarçar esse nosso interior, têm um custo energético e emocional imenso e são de curta duração, logo se desmantelam.
           É importante tomar consciência desse processo que me aprisiona para facilitar minha libertação.Ao mesmo tempo em que quero tentar viver no presente, refutando pensamentos negativos e suas emoções decorrentes, preciso investir, também, na mudança de minha “máscara” física!. Se todos os nossos níveis se interconectam e se influenciam, posso escolher distender os músculos de meu rosto e sorrir. Não preciso estar alegre ou verdadeiramente cordial, apenas preciso sorrir!  Há alguns anos, fui orientada a estar atenta a esse exercício constante. Não liguei e com o passar do tempo descobri como minhas reações às dores e dificuldades da vida foram moldando em mim uma “mascara” séria, severa, pesada...  Lembrei, então, do exercício sugerido... É incrível, mas pude comprovar que não consigo manter ou alimentar tristeza ou raiva enquanto mantenho uma fisionomia distendida e sorridente! É a dimensão física influenciando minhas outras dimensões. Minhas mudanças e posteriores transformações precisam acontecer de maneira inteira e integral, de forma contínua, persistente, paciente – no crer, no pensar, no sentir, no agir, no relaxar o rosto e o corpo e Sorrir!