O vigilante
não pergunta, ele interroga! Não ouve respostas que não sejam as já esperadas
por ele. Ele desconfia sempre. Não conversa, não troca, não compartilha...
Apenas dá instruções e toma conta dos resultados.
Tira toda a espontaneidade, a naturalidade, do pensar, do
sentir, do agir...Faz as pessoas viverem sob suspeita, ansiosas, com eterno
medo de errar, de decepcionar, de magoar...
Sentimo-nos
revoltados, melindrados, com qualquer tipo de vigilância social, seja pelos
órgãos de segurança e repressão, seja pelo boicote de nossas opiniões, de
nossas idéias, de nossos ideais. Mas, a pior violência que sofremos é a
contínua vigilância em nossas relações afetivas.
Chamam isso de Amor, de cuidados pelo “bem do outro”.
Sofremos todos, em maior ou menor intensidade, esse tipo de vigilância dos
pais, avós, companheiros, amantes, amigos... e dos filhos! Na verdade, nos
inibem e até nos atormentam, porque nos tratam como objetos, ainda que objetos
do seu amor. Não percebem que esse tipo de “cuidado”, invasivo e desrespeitoso,
agride nossa dignidade, nossa liberdade de escolha.
Na verdade, não querem sofrer perdas e acreditam que, por
isso, precisam controlar e dominar. Mas por ironia, quanto mais vigiam e
policiam, mais desejamos fugir de sua companhia, de sua presença – queremos
apenas nos sentir livres!
Dessa
percepção, entendo que é muito importante, também, não trazer esse clima de
vigilância para a minha relação primeira – a de mim para comigo. Que eu não
pense ou diga: “Preciso me policiar, me vigiar!”.
Se a vigilância dos outros, do mundo, já é tão invasiva,
desamorosa, desrespeitosa – quanto mais essa atitude mental, interior e
contínua.
Se insistirmos, acabaremos por desistir dessa nossa relação,
nos alienando de nós mesmos e jamais poderemos nos libertar de nossas prisões
interiores para ir desfrutando a gostosura da auto-estima.
Em
quaisquer de nossas relações, internas e externas, é melhor substituir a agressão
e angústia da vigilância por uma atenção cuidadosa; atenção de quem quer
entender, conhecer, participar... de quem sabe esperar pelo melhor de nós
mesmos e dos outros. Atenção, também, de quem é leal a si mesmo e, com
assertividade, faz respeitar seus espaços.
Ame-os ou deixe-os – mas respeite-os, não os vigiem!
Ame-se – cuide-se com carinho!