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sábado, 19 de maio de 2012

VIGILÂNCIA


             Como é ruim nos sentirmos vigiados! Como é triste sermos os vigilantes! A perda da liberdade se inicia aí! São olhos que seguem, esperando sempre o pior da outra parte. Parecem estar constantemente se antecedendo, adivinhando as más intenções. Não esperam jamais o melhor, os acertos... não estão preparados para isso! Esperam sempre um erro, um vacilo...

            O vigilante não pergunta, ele interroga! Não ouve respostas que não sejam as já esperadas por ele. Ele desconfia sempre. Não conversa, não troca, não compartilha... Apenas dá instruções e toma conta dos resultados.
Tira toda a espontaneidade, a naturalidade, do pensar, do sentir, do agir...Faz as pessoas viverem sob suspeita, ansiosas, com eterno medo de errar, de decepcionar, de magoar...

            Sentimo-nos revoltados, melindrados, com qualquer tipo de vigilância social, seja pelos órgãos de segurança e repressão, seja pelo boicote de nossas opiniões, de nossas idéias, de nossos ideais. Mas, a pior violência que sofremos é a contínua vigilância em nossas relações afetivas.
Chamam isso de Amor, de cuidados pelo “bem do outro”. Sofremos todos, em maior ou menor intensidade, esse tipo de vigilância dos pais, avós, companheiros, amantes, amigos... e dos filhos! Na verdade, nos inibem e até nos atormentam, porque nos tratam como objetos, ainda que objetos do seu amor. Não percebem que esse tipo de “cuidado”, invasivo e desrespeitoso, agride nossa dignidade, nossa liberdade de escolha.
Na verdade, não querem sofrer perdas e acreditam que, por isso, precisam controlar e dominar. Mas por ironia, quanto mais vigiam e policiam, mais desejamos fugir de sua companhia, de sua presença – queremos apenas nos sentir livres!

            Dessa percepção, entendo que é muito importante, também, não trazer esse clima de vigilância para a minha relação primeira – a de mim para comigo. Que eu não pense ou diga: “Preciso me policiar, me vigiar!”.
Se a vigilância dos outros, do mundo, já é tão invasiva, desamorosa, desrespeitosa – quanto mais essa atitude mental, interior e contínua.
Se insistirmos, acabaremos por desistir dessa nossa relação, nos alienando de nós mesmos e jamais poderemos nos libertar de nossas prisões interiores para ir desfrutando a gostosura da auto-estima.

            Em quaisquer de nossas relações, internas e externas, é melhor substituir a agressão e angústia da vigilância por uma atenção cuidadosa; atenção de quem quer entender, conhecer, participar... de quem sabe esperar pelo melhor de nós mesmos e dos outros. Atenção, também, de quem é leal a si mesmo e, com assertividade, faz respeitar seus espaços.
Ame-os ou deixe-os – mas respeite-os, não os vigiem!
Ame-se – cuide-se com carinho!

Comentários / Contato : mariatude@gmail.com