A galinha é a mãe dos pintinhos e eu, desde sempre, ouvia
dizer que “pé de galinha não mata pinto”! Não sei se isto é verdade com as
aves, “mas com gente é diferente”! Até onde a ansiedade amorosa exagerada no
desempenho desse papel maior e mais significativo, que é o de nidar e cuidar do
desenvolvimento físico, mental, intelectual, afetivo e espiritual de “nossas
crias”, poderá nos levar ?
Cuidamos
obsessivamente, possessivamente, de suas vidas com o medo sempre presente de
perdê-las para o mundo e até mesmo para Deus. Ao mesmo tempo, sentimos a
necessidade de valorização social, de “mostrar serviço”, mostrar que somos
eficientes, que sabemos ser mães, que somos boas mães, que somos super mães!
Nós os alimentamos, banhamos, levamos à escola, ao médico, ao dentista... Ficamos
atentas ao vestuário deles ser adequado às situações e ao clima (mesmo quando
eles já estão adultos e até “coroas”!). Brigamos e choramos por eles e, quantas
vezes, os fizemos saber que “morremos para o mundo por eles”, para cuidar de
suas vidas (porque eles não nos pareciam aptos para vivê-las do melhor modo!)
Tomamos decisões por eles, ficamos “sempre alerta” para
criticá-los e corrigi-los, para que crescessem retos porque “é de pequeno que
se torce o pepino”. Mesmo adultos, damos conselhos, palpites, orientações não
solicitadas, invasivas e que, na verdade, traduzem “Sozinhos, vocês não são
capazes”.
Nós os criticamos com verdades, com uma falta de cerimônia
que não teríamos com estranhos (que respeitamos), porque acreditamos que são
nossos, que somos íntimos e que, “por amor”, vale tudo!
Quantas
vezes acreditamos que agimos como as galinhas valentes e guerreiras, capazes de
tudo por suas ninhadas, mas, muitas vezes, não sabemos, como elas, prepará-los
para caminharem sozinhos, libertando-os dos cuidados excessivos, que abrandam
nossa angústia à custa de lhes transmitir uma mensagem de insegurança, de incapacidade...
de transmitir a impressão de que, sem nossa força e direção eles não
conseguiriam, eles se perderiam...
Pé de
galinha talvez não mate pinto, mas o peso do amor materno, quando desorientado,
possessivo, equivocado, da forma que nos foi ensinado e exaltado, pode machucar
e até aleijar as “nossas crias”.
“Com gente é diferente...” Ser mãe de gente é tão mais
complicado, tão mais complexo! Além da proteção física, existe um “ego” a ser
orientado na infância e respeitado pela vida afora; existem responsabilidades a
serem entregues aos próprios donos, existem potenciais e dons únicos a serem
incentivados e valorizados e existe o nosso exemplo pessoal de busca do caminho
para o despertar da espiritualidade.
A galinha
cuida da ninhada ensinando lhe o que sabe. Precisamos descobrir, aprender, talvez
reaprender, um novo modo de cuidar da nossa ninhada sem pisá-la, sufocá-la,
aleijá-la... por amor!