Nossas relações afetivas são baseadas no apego e na posse. O
Outro é nosso, pertence a nós e vice-versa. Isto porque acreditamos que somos
parte, pedaços, a serem completados pela pessoas amadas, pessoas de que
necessitamos para dar significado às nossas vidas (filhos, pais, amantes,
familiares, almas gêmeas...) A elas nos “plugamos” e acreditamos que, enquanto
estivermos juntos, seremos felizes para sempre. E pensamos, e dizemos, e
ouvimos:
- Você é tudo para
mim! Sem você, eu não sou nada, ninguém! Necessito de você para viver, para ser
feliz! Você é o ar e a luz da minha vida! ...
Desavisados,
equivocados, sem a mínima percepção de quem somos, adoramos ouvir estas
declarações daqueles que amamos. Elas nos reafirmam que somos importantes, os
mais importantes! Elas asseguram que temos um valor especial... para o Outro.
Isto nos torna confiantes de que não
seremos preteridos, rejeitados, abandonados. De que não ficaremos incompletos,
despedaçados, humilhados, sem sentido, sem rumo... Nosso grande temor dessa
perda de significado, fica momentaneamente acalmado pela presença do Outro, e
nos impõe uma necessidade compulsiva de reafirmar tudo isso, a todo momento.
Essa
necessidade, essa fome, essa “precisão”, do Outro nos mantém ansiosos,
vigilantes, reféns eternos do medo de sentir “escassear” nosso alimento – o
Outro. Estamos sempre atentos a qualquer desvio de atenção. Vigiamos, controlamos,
manipulamos e cobramos. É uma luta
contínua, disfarçada ou não, consciente ou não, em que nos enredamos porque “Só
não podemos é perder esse amor!” Bem dizem que “Amar é sofrer!”
Necessidade não é amor! Necessidade é
busca exterior, de coisas e pessoas que se tornam coisas, para suprir carências
interiores de auto estima e auto valorização. Se essa necessidade permanece
inconsciente, equivocadamente confundida com amor, estaremos condenados a
relações de conflito e dor em nome do amor, buscando sempre algo ou alguém que
nos complete.
Preciso entender que: nada, nem
ninguém, pode suprir minha carência interior de propósito, de significado, de
liberdade e de Amor. Nada, nem ninguém, pode responder às minhas questões e ir
desvendando o Mistério que sou! Nada, nem ninguém, pode ser tão íntimo,
conhecer melhor minhas dúvidas, minhas descobertas, meus recuos, meus avanços,
meu caminhar...! Todo esse processo interior de cuidados e atenção é que pode
me nutrir e construir minha auto estima.
Também não posso suprir as
necessidades dos Outros. “Aos outros, só podemos amar” – aceitando,
respeitando, não invadindo, caminhando juntos, “desplugados”, parceiros... mas
livres.