Muitas vezes aprendemos e alimentamos a fantasia delirante
que a vida, a felicidade, a reformulação dos outros, salvá-los, é a nossa
Missão. E nos sentimos bons, superiores, escolhidos, para tão importante
tarefa.
“Arregaçamos as mangas” e nos dedicamos, cada vez mais, em
“salvar” as pessoas de seus destinos “mal escolhidos”, mesmo à sua revelia,
mesmo que nada tenham solicitado. Como nos sentimos responsáveis pelos que
dependem totalmente de nós (as crianças, os muito jovens, os muito idosos), a
eles mais nos dedicamos. Procuramos dispensar-lhes todos os cuidados e, aos
mais novos, passamos valores, crenças, princípios (os nossos, os que entendemos
serem os melhores) e o nosso amor.
Mas, tão
imbuímos ficamos com nossa responsabilidade, que acreditamos dever monitorá-los
pelo tempo afora, pela vida inteira!
Quando, já adultos, se rebelam e decidem fazer suas próprias
escolhas, nós nos magoamos e os acusamos de ingratidão! Na verdade, eles só
querem seus destinos de volta, mesmo que seja para errarem e poderem aprender,
ainda que da forma mais dolorosa. Essa é a principal Missão de cada um! Não
temos o direito de roubá-la dos outros, mesmo que seja para que não sofram. Ou
pela arrogância de nos sentirmos mais preparados para a vida, mais “sabidos”,
vividos... Se não entendermos isso, se desrespeitarmos esse direito,
receberemos irritação, impaciência, revolta, distância, “ingratidão”!
Não se
cobra sentimentos, não se cobra Gratidão! Na verdade, não se cobra NADA! Não
adianta, incomoda, coloca o Outro na defensiva e ele, então, briga ou foge... e
ainda se sente justificado!
Mesmo quando amamos e nos doamos com respeito e sem
cobranças, cada um reage ao nosso amor de seu próprio modo, absolutamente
pessoal. Uns, com indiferença e frieza ou querendo sempre mais, como se a vida
lhes devesse tudo. Outros, com o reconhecimento racional do que receberam ou do
que se espera que façam, sentem-se na obrigação de cumprir com seu dever. Outros
ainda, com alegria, com reconhecimento
amoroso da graça, da doação recebida, sentem Gratidão!
A Gratidão é assim - “brota” naturalmente da nossa dimensão espiritual, é um “estado de
graça” que transborda para os Outros, para o Mundo...