E o rei gritava e chorava pelos corredores do palácio,
clamando:
- Meu filho, meu filho...!
Esse é um episódio contado num livro muito antigo. Ele fala
da dor do pai pelo filho que ele “perdera”, pelo filho que se perdera!
Ah! Meu filho, meu filho...!
É um gemido que retrata um medo continuado, um susto
constante e doloroso, uma agonia que se repete a cada momento de impotência
ante os rumos que os filhos muitas vezes tomam, ante a barreira que parece se
interpor entre os pais e o filho... São linguagens diferentes, idéias
divergentes, caminhos e atitudes “tortas” que se contrapõem aos desejos,
fantasias e valores dos pais.
Aprendemos a acreditar que tínhamos o Poder e, mais ainda, o
Dever, de cuidar do filho, consertá-lo, resgatá-lo, modificá-lo... Afinal, era
o nosso filho! E agora, tudo se mostrava impossível! O que mais posso fazer?
Onde errei? Onde estou falhando? Fracassei! Sou incompetente! Mas preciso
salvá-lo! Meu Deus, como dói tudo isso!
Ah! Meu
filho, meu filho...
Quantos sentimentos se misturam, então, ao nosso amor e nos
confundem: medo, ansiedade, frustração, raiva, culpa, vergonha, mágoa,
ressentimento, desespero, cansaço, desesperança...
Ah! Meu
filho, meu filho...
Quanta dor nessa luta inglória, luta perdida, nessa “missão
impossível” de tomar tua vida, teu caminho, teus descaminhos, em minhas mãos e
querer modificá-los!... Quantas atitudes incoerentes, controversas,
contraditórias, ora cedendo, ora negando, manipulando, escondendo, cobrando,
exigindo, culpando, implorando, me humilhando, te humilhando, agredindo... em
nome de um Amor desesperado! Toda uma luta que nos feria a todos na tentativa
de manter o controle do incontrolável – o Outro, ainda que meu filho, ainda que
meu Amor!
Ah, Meu
filho, meu filho...
Revejo o caminho da Dor: a inicial negação dos “problemas”,
a luta desorientada e desesperada, a conformação cansada, magoada,
desesperançada... até a aceitação, afinal, da verdade simples – estamos juntos,
mas não somos misturados! Os filhos têm seus próprios caminhos... Os pais não
são incompetentes, são apenas impotentes! Somos, apenas, parceiros nessa
caminhada. Uns vieram antes, outros depois, para nos amarmos e respeitarmos.
Ah, Meu filho, meu filho...
Como entendo os gritos e lamentos de dor daquele rei,
daquele pai tão antigo! Como me doeu te ver sofrer! Qualquer dor, pequenas ou
grandes! Chorei com as tuas dores! Hoje, quero estar sempre contigo (não
importam as distâncias), para te animar, te amar... mas não devo e não quero
mais chorar pelas tuas escolhas, respeitando-as e aos teus tropeços, porque eles
geram teus aprendizados...
Ah, Meu filho, meu filho... Que a
mesma doce Luz que nos habita possa nos orientar em nosso caminhar, possa nos perdoar,
consolar, fortalecer e pacificar.