O que sabemos do Outro?
Conhecemos seu rosto, talvez
alguma coisa da sua história, de suas falas, de suas atitudes... Mas nada disso
revela, realmente ou mais profundamente, quem ele É, porque nós não somos
somente um rosto, episódios, palavras e comportamentos. Nós somos, além disso
tudo, todo um mundo interior, escondido de todos, até de nós mesmos!
Tendemos a acreditar que podemos
julgar-nos uns aos outros apenas por essa superfície revelada. Julgamos: bom, mau,
muito mau, execrável...
Na verdade, o que estamos vendo, julgando, condenando, são
suas atitudes agressivas, falsas,
mentirosas, negativas... Estamos vendo o efeito de suas defesas adoecidas,
perversas, pervertidas...
Existe a necessidade de estabelecer
limites que resguardem as pessoas. Existe a necessidade de tomarmos atitudes de
controle sobre esses comportamentos lesivos aos grupos onde estiverem. E os
limites vão desde a advertência verbal até ao afastamento do grupo (familiar,
religioso, profissional, social...), às vezes para sempre, daqueles que julgamos
representar perigo, por seus comportamentos.
Julgamos e precisamos condenar o que é do mundo – as
atitudes negativas no mundo.
No entanto,
a cada momento de indignação e revolta com esses comportamentos, preciso
lembrar de separar o Ser que É daquilo que ele está sendo, premido pelas
distorções de seu mundo interior adoecido, desamoroso, agressivo...
Preciso lembrar que nada sei dos medos, angústias, ódios,
decepções, ressentimentos... que esconde em si.
Preciso lembrar que o que realmente sei é que, escondido sob
tanta escuridão, cinismo e maldade, existe uma centelha divina igual àquela que
nos habita a todos!
Certamente
por isso nós fomos alertados - “Não julgueis...” a criatura que todos somos,
ainda que esteja, no momento, perdida de sua própria luz.
Na relação com ela, é preciso ser assertivo, firme, realista,
até duro...
Mas para a Criatura que ela É preciso dirigir minha
compaixão, com a certeza de que, em algum momento, em alguma vida, ela
conseguirá romper a prisão de seu interior adoecido e também se libertará.