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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

O PODER DO AGORA


           Festas natalinas, final de ano e início de outro... datas emblemáticas que nos emocionam e chamam à reflexão. Elas costumam nos levar, nostalgicamente, ao passado ou nos remeter, ansiosos, às possibilidades  desconhecidas do futuro. E esses chamados do passado e do futuro são tão poderosos, que nossos momentos passam sem que, muitas vezes, possamos vivê-los intensamente no presente, no Agora!

            Somos chamados ao passado pela mídia em contínuas retrospectivas do ano que passou... E fazemos as nossas próprias, de natais antigos, do ano que termina. Ficamos relembrando entes queridos, no momento ausentes de nossos olhos, do nosso convívio. Estão viajando, são viajantes... em outros lugares, em outras dimensões. Relembramos tristezas, mágoas, expectativas frustradas... discussões, separações...
Lembramos também alegrias, mas já então esmaecidas pela saudade do que se foi, nubladas pelo tempo, muitas vezes pelas lágrimas...

            Ou nos deixamos arremessar para o futuro, para o próximo Natal, para o próximo Ano...  Como será? Quantos de nós ainda estaremos aqui? Conseguiremos mais ganhos? Teremos mais perdas? Quantas predições, quantos “profetas”...
Se o passado nos aprisiona na tristeza, o futuro nos assombra pelo medo do desconhecido! A incerteza que ele traz nos tira qualquer fantasia de controle, de segurança!

            Essas datas acabam por trazer, escondidas, muita dores. Talvez por isso precisemos rir muito, beber muito, comer muito, comprar muito... Fazemos, muito, muitas coisas, talvez para afugentar e disfarçar esses fantasmas incômodos do passado e do futuro. Só não nos lembramos de viver essas datas no presente, de curti-las verdadeiramente no Agora!

            Não fomos educados/condicionados para aproveitar o momento, sem lembranças ou projeções, para viver o único tempo/lugar que realmente temos – o Agora.  Nesse tempo não nos entristecemos ou assombramos, porque estamos ocupados - vivendo o momento.

            No Agora não há distância nem tempo a nos separar, no Agora estamos juntos!
Podemos nos falar, pensar, ouvir, sentir, sorrir, aceitar, perdoar, abençoar...
 - no Agora, exercitamos viver o real, o que É, o que se pode, o que somos...
 - no Agora, estamos protegidos da agonia do desconhecido, das expectativas, das incertezas do futuro, que nos drenam a coragem e a energia, para simplesmente vivemos da melhor maneira que pudermos.
 - no Agora, o Natal pode ser realmente uma celebração do Amor em nossas vidas e a “virada” do ano pode ser simplesmente o anúncio de mais um momento de alegria, de confiança na Vida, se assim escolhermos que seja.

            A vida é Agora... é uma sucessão de agoras! Cabe a mim estar atenta a eles, aos momentos que me são oferecidos e cuidar de cada um deles com a firme intenção de aproveitá-los ao máximo nessa caminhada em direção à minha liberdade interior, para realmente poder usufruir a alegria de estar  com as pessoas que passam por minha vida. Sou frágil e sofrida quando me deixo levar pelas distorções que criamos no tempo – o passado e o futuro. Mas é aqui, no Agora, que está todo o meu poder. É aqui, no Agora que decido ser quem sou e como vou lidar com meus desafios. É aqui, no Agora, que posso decidir ser feliz.  Esse é o Poder do Agora.

domingo, 22 de dezembro de 2013

O HOMEM DE NAZARÉ


            Povos em todo o mundo comemoram nessa época o advento desse “Homem de Nazaré”. A que veio esse enviado tão especial de uma Luz Maior? Por que sua mensagem tão diferente, “revolucionária” em sua mansidão, tem servido a quaisquer homens, de quaisquer culturas ou tradições, através dos tempos?

            Talvez porque ele tenha apontado um caminho novo à nossa humanidade aguerrida! Ele nos mostrou uma nova possibilidade para a velha busca do homem pela felicidade, da busca para atingir as delícias de um Reino de Deus tão prometido.

            Ele chegou, simples e manso, demonstrando que nossa condição humana também abriga nossa origem divina. Sua vida e doçura mostraram o caminho que pode nos orientar nossa jornada do Humano ao Divino.

            Sua mensagem foi e, infelizmente, ainda é, revolucionária porque é a do aprendizado do Amor, num mundo ainda tão materialista. É uma mensagem que nos convoca à atenção interior, amorosa, honesta, gentil e corajosa; uma atenção que possibilita a descoberta de nossa luz sob nossa sombra. E dessa caminhada interior saímos humildes, humanizados, prontos a entender e amar nossos semelhantes, sem disputas, sem comparações, com aceitação, respeito, cooperação, partilha...

            Ainda somos, em grande parte de nós mesmos, surdos à essa “Boa Nova” e teimosos em nosso orgulho, em nossas certezas e hábitos mundanos. Admiramos e louvamos, aplaudimos e até queremos levar a Mensagem, mas não a vivemos para provar a nós mesmos o quanto é verdadeira, o quanto pode nos levar à felicidade. Mas, esse Homem de Nazaré, esse que nos trouxe a mensagem melhor, sabe que o “Amor é paciente e é generoso”. Ele ainda, e para sempre, espera o tempo de cada um de nós... porque a chegada, ainda que demorada, é certa para nós, herdeiros desse testamento de Amor, herdeiros da Luz Maior.
  
            Mas o poeta nos chama, porque não vale a pena mais tempo a perder!
- Ei, irmão! Vamos seguir com fé, tudo que ensinou o Homem de Nazaré...



terça-feira, 17 de dezembro de 2013

DEFENDA SEMPRE O AUSENTE !


           Existe o mau hábito, quando nos reunimos, sem assunto, de tornarmo-nos maledicentes – dizermos mal das pessoas ausentes. Nesses momentos, queremos contar “novidades” que ouvimos de outros, “fofocar” e tecer juízos sobre pessoas que não podem se defender ou esclarecer tudo que foi levantado sobre elas ou suas vidas.

            No afã de nos sentirmos leais e pertencendo àquele grupinho do momento, queremos “mostrar serviço”, “estar mais informados”, fazer graça, sermos críticos das atitudes do ausente, querendo demonstrar que jamais seriam as nossas, que somos melhores...
Na verdade, sem nos darmos conta, invadimos e julgamos, com irresponsabilidade, com insensibilidade, com crueldade e desrespeito, a vida e a personalidade das pessoas. Repassamos o que ouvimos, com veracidade ou não, de pessoas, públicas ou não! E dificilmente repassamos elogios!!!
Nossa vaidade nos faz acreditar estarmos sendo os escolhidos pelo grupo, os admirados e os aplaudidos, escolhidos para dizermos e ouvirmos as críticas e confidências sobre os outros. Sentimo-nos protegidos por essa escolha, por essa “confiança”, por fazermos parte do grupinho.
Então, achamos engraçado ironizar o ausente. Sentimo-nos defensores “do bem”. Parece que, enquanto falarmos dos outros, evitaremos que façam o mesmo conosco. No entanto, atenção! Isso não nos garante a lealdade de pessoas que já se mostram desleais e insensíveis... Será que seremos nós os criticados quando formos nós os ausentes?

            A maledicência alimenta a desconfiança e traduz luta latente nas relações. Ela mina a unidade dos grupos, na família ou não, porque pressentimos a falta de generosidade e lealdade entre as pessoas.
Por que usarmos a oportunidade de estarmos juntos e o poder das palavras para criticar, julgar, condenar e punir gratuitamente as pessoas, próximas ou não?
Por que não aproveitarmos para o elogio, a lembrança carinhosa ou a desculpa generosa? Por que não, ao menos, o silêncio, o respeito?

            Uma atitude amorosa, leal e gentil faz muito bem a nós mesmos e ao grupo. Quando estou tentada a participar do triste festim de esquartejar pessoas pela maledicência, procuro lembrar-me de um mestre que sugeriu:

                        DEFENDA SEMPRE O AUSENTE !


quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

CARÊNCIA E APARÊNCIA


           Vivemos hoje, ainda, sob o poder de nossa mente condicionada por um modelo, por um paradigma, racional/materialista. É um modelo de luta e força, de eterna competição: material, afetiva, psicológica, intelectual, técnica, religiosa, política, esportiva... Será bom, respeitado, imitado, poderoso, quem tem/possui mais: poder, saber, prestígio, estética (da moda), status, seguidores, coisas e pessoas/coisas! Nesse modelo, ninguém quer Ser,Ter ou Parecer Menos!

Ansiosos, necessitados de sermos Mais para sermos vencedores, merecedores de aplauso, de atenção, de valorização e afeto, nos obrigamos a uma corrida sem fim para disfarçar nossas imperfeições ou nossas carências físicas/materiais/afetivas. Lutamos todo o tempo para, ao menos, parecer tudo que já não somos ou que ainda não somos.

Fisicamente, “malhamos”, nos plastificamos, nos colorimos/ descolorimos, nos maquiamos, nos marcamos, nos furamos, ingerimos químicos, variados químicos para variadas finalidades... Tudo, enfim, pela aprovação social que nos exige força, eterna juventude, estética perfeita...

 Nossa mente condicionada, nosso ego, exige também sucesso, e precisa de toda essa aparência de beleza e força para tentar suprir nossa carência psicológica e afetiva.  Nossa mente acredita que precisamos Parecer, Aparecer, Sobressair para sermos queridos e valorizados, que precisamos disfarçar e esconder sentimentos, que não podemos demonstrar “fraquezas”, que precisamos parecer fortes, indiferentes às dificuldades. Ou  que precisamos nos fazer de fracos , parecer vítimas, para buscar afeto e valorização como sofredores!

 Na verdade, tanta carência de cuidados, atenção, verdade e carinho conosco mesmos, aumenta nossas dores e demanda mais esforço para Parecer! Tentamos nos anestesiar com trabalho, alimentos, químicos, gastos, desgastes, rezas, paixões... Tentamos inutilmente enganar a nós e ao mundo. Parecer custa muito e anestesias custam ainda mais, porque nos mantêm encalhados na vida, impedem nosso contacto com a única dimensão que pode nos nutrir afetivamente e nos libertar da escravidão aos dogmas do ego mundano.

Nossa dimensão espiritual, certamente nossa dimensão, hoje, mais desconhecida e descuidada, só pode ser nutrida por nós mesmos, com Cuidados, Carinho, com Verdade e Aceitação. Esses cuidados não requerem luta ou esforço para parecermos quem não somos. Precisamos apenas nos descobrir (com atenção e honestidade), acolher nossos sentimentos, nos apaziguarmos, aceitando quem somos, gerando assim forças para as mudanças libertadoras, e entusiasmo para a descoberta dos nossos caminhos para a felicidade.

Carências internas se transformam em um buraco sem fundo quando tentamos alimentá-las com materialidade, aprovação e afetividade externas, do mundo, buscando o consolo de pelo menos “parecermos” bem e felizes.

            Carência interna é o chamado, o grito de nossa alma, dizendo-nos que precisamos aprender a nos ouvir, a nos dar voz, a sermos eternamente verdadeiros conosco e leais à nossa felicidade.


sábado, 7 de dezembro de 2013

UM VELHO TIO


            Ele era um tio “emprestado”. Era muito querido, alegre, generoso, brincalhão...
Ele se foi! Já não o via há algum tempo. Morávamos distantes e ele estava muito idoso. Mas como doeu saber que ele se fora! Agora já não estaria ao meu alcance físico! Agora seriam só lembranças...
Lembrança gaiata da última vez em que nos vimos, quando o abracei com entusiasmo e força e ele, velhinho e fraquinho, gemeu: ai, ai! E nós nos rimos!

            Sinto que estou chorando mesmo é por uma fase muito boa da minha vida que já passou - dias de risos e brincadeiras passados com aqueles tios e primos... Ele era o último elo com a memória daqueles pedacinhos maravilhosos da minha infância!

            Meu companheiro, meus filhos e netos, pouco o conheceram, não viveram nada disso. Não posso compartilhar com eles as lembranças, nem tão pouco essa perda. Não consigo me sentir “entendida” em minha tristeza. Na verdade, nossos momentos são quase individuais! Quanto mais o tempo corre, menos temos parceiros que possam, realmente, sorrir e chorar conosco as nossas memórias. Essa é uma das faces da solidão que nos ameaça na velhice.

            Nessa perda, fui me despedindo dessa fase de minha infância, que já se fora há muito, mas que, com ele, eu me enganava que ainda estava ali.
Nesse luto, revi alguns primos, conheci novas gerações da família...
Agora, vou enxugar as lágrimas, honrar sua memória, sua passagem pela minha vida, sorrir das boas lembranças...

É isso! É a Vida continuando, passando, renovando experiências, em todas as suas dimensões - para mim, para ele, para todos nós!


segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

DE CORAÇÃO ABERTO - II


            Tanto ouço, vejo e falo sobre a violência, a falsidade, a maldade, nesse mundo em eterna competição, nesse mundo onde até manequins na vitrine são sérios, zangados, de punhos fechados... e os manequins vivos, desfilam duros, marchando, sem sorrisos, agressivos, distantes... Nesse mundo onde atletas comemoram vitórias, não com alegria, mas cerrando os punhos, socando, xingando... e os jovens universitários, com deboches e torturas! Mundo onde crianças brincam com bonecos/as monstros, jogos de guerra, livros com ilustrações retilíneas, estilizadas, feias, frias...  Nesse mundo tão sem curvas, sem risos alegres ou gaiatos, sem ternura, sem “fofura”, sem gostosura... Nesse mundo esquisito que não nos aquece, que parece mais nos espetar, arranhar, assombrar... Nesse mundo... acabamos por nos bloquear, defensivos, muito focados nos “perigos”, com coração fechado, sem espaço para expandir-se, para emocionar-se, impedido de soltar-se, de entregar-se e Amar!

            Minha mente aguda e analítica analisa tudo e todos, criticando, desconfiando, querendo ver através das máscaras de cada um, principalmente o “lado mau”. Caminho com a mente fechada e alerta, sem acreditar em sorrisos, em demonstrações de afeto e emoção, em nada de bom nesse mundo e até mesmo na família! Prefiro muitas vezes me dedicar aos animais, porque parecem ser menos perigosos! Assim, tento estar a salvo de me deixar atingir! Mas o preço está muito alto!

            Sinto uma aridez em meu peito, sinto meu coração secando, oprimido, opresso. Sinto falta de olhar nos olhos das pessoas, sem medo de me revelar, ainda que seja só um pouquinho. Necessito acreditar em seus sorrisos, em seus carinhos. Preciso olhá-las e procurar ver o que têm de melhor, acreditar que sob suas armaduras existe luz e emoção verdadeiras... Talvez assim consiga ir abrindo mão de minhas próprias defesas, tão cerradas! Quero sentir nos outros as emoções que também me empolgam, para me sentir mais juntinho deles.
Mesmo compartilhando uma época tão cínica, violenta e cruel, lidando com essa realidade que me leva a defesas físicas/psicológicas, preciso e quero abrir meu coração para desfrutar as doces emoções da ternura, da compaixão, da generosidade, da alegria... Na medida do possível, quero me aproximar das pessoas, acolhê-las (ainda que sem me deixar invadir), mas acolhê-las em seus medos, dores, confusões... e poder, também, usufruir seus dons únicos e maravilhosos, que me nego a ver, “por segurança”.


            Armaduras nos defendem, mas também nos aprisionam, nos isolam, nos deixam desnutridos, infelizes... Um dia de cada vez, quero começar a abrir, corajosamente, minhas defesas para poder sentir-me aquecida, viva,  e pertencendo à essa minha espécie, ainda tão complicada e tão humana!