Ele era um tio “emprestado”. Era muito querido, alegre,
generoso, brincalhão...
Ele se foi! Já não o via há algum tempo. Morávamos distantes
e ele estava muito idoso. Mas como doeu saber que ele se fora! Agora já não
estaria ao meu alcance físico! Agora seriam só lembranças...
Lembrança gaiata da última vez em que nos vimos, quando o
abracei com entusiasmo e força e ele, velhinho e fraquinho, gemeu: ai, ai! E
nós nos rimos!
Sinto que
estou chorando mesmo é por uma fase muito boa da minha vida que já passou - dias
de risos e brincadeiras passados com aqueles tios e primos... Ele era o último
elo com a memória daqueles pedacinhos maravilhosos da minha infância!
Meu
companheiro, meus filhos e netos, pouco o conheceram, não viveram nada disso.
Não posso compartilhar com eles as lembranças, nem tão pouco essa perda. Não
consigo me sentir “entendida” em minha tristeza. Na verdade, nossos momentos
são quase individuais! Quanto mais o tempo corre, menos temos parceiros que
possam, realmente, sorrir e chorar conosco as nossas memórias. Essa é uma das
faces da solidão que nos ameaça na velhice.
Nessa
perda, fui me despedindo dessa fase de minha infância, que já se fora há muito,
mas que, com ele, eu me enganava que ainda estava ali.
Nesse luto, revi alguns primos, conheci novas gerações da
família...
Agora, vou enxugar as lágrimas, honrar sua memória, sua
passagem pela minha vida, sorrir das boas lembranças...
É isso! É a Vida continuando, passando,
renovando experiências, em todas as suas
dimensões - para mim, para ele, para todos nós!