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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

DE CORAÇÃO ABERTO - II


            Tanto ouço, vejo e falo sobre a violência, a falsidade, a maldade, nesse mundo em eterna competição, nesse mundo onde até manequins na vitrine são sérios, zangados, de punhos fechados... e os manequins vivos, desfilam duros, marchando, sem sorrisos, agressivos, distantes... Nesse mundo onde atletas comemoram vitórias, não com alegria, mas cerrando os punhos, socando, xingando... e os jovens universitários, com deboches e torturas! Mundo onde crianças brincam com bonecos/as monstros, jogos de guerra, livros com ilustrações retilíneas, estilizadas, feias, frias...  Nesse mundo tão sem curvas, sem risos alegres ou gaiatos, sem ternura, sem “fofura”, sem gostosura... Nesse mundo esquisito que não nos aquece, que parece mais nos espetar, arranhar, assombrar... Nesse mundo... acabamos por nos bloquear, defensivos, muito focados nos “perigos”, com coração fechado, sem espaço para expandir-se, para emocionar-se, impedido de soltar-se, de entregar-se e Amar!

            Minha mente aguda e analítica analisa tudo e todos, criticando, desconfiando, querendo ver através das máscaras de cada um, principalmente o “lado mau”. Caminho com a mente fechada e alerta, sem acreditar em sorrisos, em demonstrações de afeto e emoção, em nada de bom nesse mundo e até mesmo na família! Prefiro muitas vezes me dedicar aos animais, porque parecem ser menos perigosos! Assim, tento estar a salvo de me deixar atingir! Mas o preço está muito alto!

            Sinto uma aridez em meu peito, sinto meu coração secando, oprimido, opresso. Sinto falta de olhar nos olhos das pessoas, sem medo de me revelar, ainda que seja só um pouquinho. Necessito acreditar em seus sorrisos, em seus carinhos. Preciso olhá-las e procurar ver o que têm de melhor, acreditar que sob suas armaduras existe luz e emoção verdadeiras... Talvez assim consiga ir abrindo mão de minhas próprias defesas, tão cerradas! Quero sentir nos outros as emoções que também me empolgam, para me sentir mais juntinho deles.
Mesmo compartilhando uma época tão cínica, violenta e cruel, lidando com essa realidade que me leva a defesas físicas/psicológicas, preciso e quero abrir meu coração para desfrutar as doces emoções da ternura, da compaixão, da generosidade, da alegria... Na medida do possível, quero me aproximar das pessoas, acolhê-las (ainda que sem me deixar invadir), mas acolhê-las em seus medos, dores, confusões... e poder, também, usufruir seus dons únicos e maravilhosos, que me nego a ver, “por segurança”.


            Armaduras nos defendem, mas também nos aprisionam, nos isolam, nos deixam desnutridos, infelizes... Um dia de cada vez, quero começar a abrir, corajosamente, minhas defesas para poder sentir-me aquecida, viva,  e pertencendo à essa minha espécie, ainda tão complicada e tão humana!