Vivemos hoje, ainda, sob o poder de nossa mente condicionada
por um modelo, por um paradigma, racional/materialista. É um modelo de luta e
força, de eterna competição: material, afetiva, psicológica, intelectual,
técnica, religiosa, política, esportiva... Será bom, respeitado, imitado,
poderoso, quem tem/possui mais: poder, saber, prestígio, estética (da moda),
status, seguidores, coisas e pessoas/coisas! Nesse modelo, ninguém quer Ser,Ter
ou Parecer Menos!
Ansiosos, necessitados de sermos
Mais para sermos vencedores, merecedores de aplauso, de atenção, de valorização
e afeto, nos obrigamos a uma corrida sem fim para disfarçar nossas imperfeições
ou nossas carências físicas/materiais/afetivas. Lutamos todo o tempo para, ao
menos, parecer tudo que já não somos ou que ainda não somos.
Fisicamente, “malhamos”, nos
plastificamos, nos colorimos/ descolorimos, nos maquiamos, nos marcamos, nos
furamos, ingerimos químicos, variados químicos para variadas finalidades... Tudo,
enfim, pela aprovação social que nos exige força, eterna juventude, estética
perfeita...
Nossa mente condicionada, nosso ego, exige
também sucesso, e precisa de toda essa aparência de beleza e força para tentar
suprir nossa carência psicológica e afetiva.
Nossa mente acredita que precisamos Parecer, Aparecer, Sobressair para
sermos queridos e valorizados, que precisamos disfarçar e esconder sentimentos,
que não podemos demonstrar “fraquezas”, que precisamos parecer fortes,
indiferentes às dificuldades. Ou que precisamos
nos fazer de fracos , parecer vítimas, para buscar afeto e valorização como
sofredores!
Na verdade, tanta carência de cuidados,
atenção, verdade e carinho conosco mesmos, aumenta nossas dores e demanda mais
esforço para Parecer! Tentamos nos anestesiar com trabalho, alimentos,
químicos, gastos, desgastes, rezas, paixões... Tentamos inutilmente enganar a
nós e ao mundo. Parecer custa muito e anestesias custam ainda mais, porque nos
mantêm encalhados na vida, impedem nosso contacto com a única dimensão que pode
nos nutrir afetivamente e nos libertar da escravidão aos dogmas do ego mundano.
Nossa dimensão espiritual,
certamente nossa dimensão, hoje, mais desconhecida e descuidada, só pode ser
nutrida por nós mesmos, com Cuidados,
Carinho, com Verdade e Aceitação. Esses cuidados não requerem luta ou esforço
para parecermos quem não somos. Precisamos apenas nos descobrir (com atenção e
honestidade), acolher nossos sentimentos, nos apaziguarmos, aceitando quem
somos, gerando assim forças para as mudanças libertadoras, e entusiasmo para a
descoberta dos nossos caminhos para a felicidade.
Carências internas se transformam
em um buraco sem fundo quando tentamos alimentá-las com materialidade, aprovação
e afetividade externas, do mundo, buscando o consolo de pelo menos “parecermos”
bem e felizes.
Carência interna é o chamado, o grito de nossa alma,
dizendo-nos que precisamos aprender a
nos ouvir, a nos dar voz, a sermos eternamente verdadeiros conosco e leais à
nossa felicidade.