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sexta-feira, 11 de abril de 2014

TROPEÇOS, TROMBADAS E TOMBOS


           Como eternas crianças em nossa constante busca de felicidade, nos entregamos a desejos, a “certezas” e sonhos, perigosamente entrelaçados dentro de nós, conscientemente ou não.

            Nossos desejos mais imediatos costumam gerar expectativas, que tanto nos machucam com agonia e ansiedade, acabando tantas vezes em frustrações, irritação, raiva... São tropeços, às vezes, muito doídos, mas que podem me ensinar a fazer a minha parte em direção ao que desejo, viver o momento e entregar o resto à Vida...

            Formamos também algumas “certezas” em relação a nós mesmos e às pessoas com quem nos relacionamos com maior ou menor afeto. Essas certezas estão ligadas aos nossos anseios mais caros. Estão ligadas à nossa auto-imagem e à importância que damos à valorização ou ao amor que recebemos dos outros. Por serem “certezas”, nós nem temos consciência delas. Parecem tão óbvias! Em nossas relações funcionam como nosso chão! Gostamos também de enfeitar nossas vidas com sonhos, fantasias, idealizações... e tanto os desejamos, que passamos a acreditar neles como fatos concretos! São o nosso sonho dourado, o nosso céu.

            Essas “certezas”, só entendemos que eram ilusões, quando elas se esfumaçam diante de nós, sopradas pelos fatos reais de nossa vida.
 - certeza de que não iríamos falhar com quem amávamos...
 - certeza que eles também não iriam falhar conosco
 - certeza de que éramos admirados, queridos, até especiais, por quem tanto amávamos e agradávamos
 - certeza de que seriam reconhecidos os nossos esforços, nossas renúncias, nosso amor...
 - certeza de que seríamos plenamente compreendidos em nossos valores, sentimentos e atitudes...
 - certeza que jamais seríamos traídos, rejeitados, preteridos ou abandonados
 - certezas, tantas certezas...

            Na verdade, todas nossas “certezas” sobre a infalibilidade das pessoas, sobre a “perfeição” das relações que atendam aos nossos ideais, são ilusões que geram expectativas falsas, decepções, desilusões...
E, sempre que nossas “certezas” são confrontadas e derrubadas pelos fatos, nós nos desestabilizamos, despencamos, ficamos muito confusos... Afinal, tiraram nosso chão e perdemos nosso “céu” dourado! “Meu mundo caiu...”
            Depois do susto sentimos tanta mágoa! As decepções, as desilusões, sempre nos parecem tão maldosas, tão gratuitas... Nós nos sentimos enganados, menos admirados, menos queridos...  Sobrevém um sentimento de menos valia...
“_ Afinal, por quê?  Onde eu falhei?  Eu não merecia isso! Eu pensava que estava agradando! Nunca esperei isso de vocês!...”
Depois, sentimos muita raiva. Raiva de quem falhou, de quem nos decepcionou, nos desiludiu...  E raiva e vergonha de mim que acreditei demais, criei tolas certezas...

            Decepções, grandes ou pequenas, nos sacodem e machucam porque sacodem nosso modo de ver e crer quem somos, quem são os outros e como são as nossas relações. Com o passar do tempo podemos, ou não, entender racionalmente o nosso engano ao “criar certezas” e devemos assumir nossa responsabilidade pelas nossas frustrações, decepções ou desilusões. Contudo, a dor da lembrança dessas feridas permanece por muito tempo, talvez para sempre!

            Quando nos decepcionamos conosco mesmos, quando vemos ruir tristemente as “certezas” de nosso valor superdimensionado, quando falhamos sem poder culpar os outros, sentimos a princípio vergonha e humilhação, mas, aos poucos, podemos caminhar para a aceitação de nosso real tamanho em cada momento de nossa vida e começarmos a substituir esses sentimentos, que tanto nos ferem, pelo despertar da Humildade. Quando isso acontece já conseguimos “entender e sentir” melhor as falhas e as dores dos outros. Então, perdoamos e nos sentimos mais serenos, mais próximos, mais humanos...