Como eternas crianças em nossa constante busca de
felicidade, nos entregamos a desejos, a “certezas” e sonhos, perigosamente
entrelaçados dentro de nós, conscientemente ou não.
Nossos
desejos mais imediatos costumam gerar expectativas, que tanto nos machucam com
agonia e ansiedade, acabando tantas vezes em frustrações, irritação, raiva...
São tropeços, às vezes, muito doídos, mas que podem me ensinar a fazer a minha
parte em direção ao que desejo, viver o momento e entregar o resto à Vida...
Formamos
também algumas “certezas” em relação a nós mesmos e às pessoas com quem nos
relacionamos com maior ou menor afeto. Essas certezas estão ligadas aos nossos
anseios mais caros. Estão ligadas à nossa auto-imagem e à importância que damos
à valorização ou ao amor que recebemos dos outros. Por serem “certezas”, nós
nem temos consciência delas. Parecem tão óbvias! Em nossas relações funcionam
como nosso chão! Gostamos também de enfeitar nossas vidas com sonhos,
fantasias, idealizações... e tanto os desejamos, que passamos a acreditar neles
como fatos concretos! São o nosso sonho dourado, o nosso céu.
Essas
“certezas”, só entendemos que eram ilusões, quando elas se esfumaçam diante de
nós, sopradas pelos fatos reais de nossa vida.
- certeza de que não
iríamos falhar com quem amávamos...
- certeza que eles
também não iriam falhar conosco
- certeza de que
éramos admirados, queridos, até especiais, por quem tanto amávamos e
agradávamos
- certeza de que
seriam reconhecidos os nossos esforços, nossas renúncias, nosso amor...
- certeza de que
seríamos plenamente compreendidos em nossos valores, sentimentos e atitudes...
- certeza que jamais
seríamos traídos, rejeitados, preteridos ou abandonados
- certezas, tantas
certezas...
Na verdade,
todas nossas “certezas” sobre a infalibilidade das pessoas, sobre a “perfeição”
das relações que atendam aos nossos ideais, são ilusões que geram expectativas
falsas, decepções, desilusões...
E, sempre que nossas “certezas” são confrontadas e derrubadas
pelos fatos, nós nos desestabilizamos, despencamos, ficamos muito confusos...
Afinal, tiraram nosso chão e perdemos nosso “céu” dourado! “Meu mundo caiu...”
Depois do
susto sentimos tanta mágoa! As decepções, as desilusões, sempre nos parecem tão
maldosas, tão gratuitas... Nós nos sentimos enganados, menos admirados, menos
queridos... Sobrevém um sentimento de
menos valia...
“_ Afinal, por quê?
Onde eu falhei? Eu não merecia
isso! Eu pensava que estava agradando! Nunca esperei isso de vocês!...”
Depois, sentimos muita raiva. Raiva de quem falhou, de quem
nos decepcionou, nos desiludiu... E raiva
e vergonha de mim que acreditei demais, criei tolas certezas...
Decepções,
grandes ou pequenas, nos sacodem e machucam porque sacodem nosso modo de ver e
crer quem somos, quem são os outros e como são as nossas relações. Com o passar
do tempo podemos, ou não, entender racionalmente o nosso engano ao “criar certezas” e devemos assumir nossa
responsabilidade pelas nossas frustrações, decepções ou desilusões. Contudo, a
dor da lembrança dessas feridas permanece por muito tempo, talvez para sempre!
Quando nos
decepcionamos conosco mesmos, quando vemos ruir tristemente as “certezas” de
nosso valor superdimensionado, quando falhamos sem poder culpar os outros,
sentimos a princípio vergonha e humilhação, mas, aos poucos, podemos caminhar
para a aceitação de nosso real tamanho em cada momento de nossa vida e começarmos
a substituir esses sentimentos, que tanto nos ferem, pelo despertar da
Humildade. Quando isso acontece já conseguimos “entender e sentir” melhor as
falhas e as dores dos outros. Então, perdoamos e nos sentimos mais serenos,
mais próximos, mais humanos...