Onde me perdi da criança viva, curiosa, sempre atenta às
oportunidades, aos “ventos a favor”, que podiam me dar alegria, me levar à
felicidade? Eu nem pensava ou sabia disso, mas me entregava, alegre e solta, a
quaisquer “ventos a favor”! Criança é assim! Alegre ou triste, em momentos bons
ou difíceis, eu/criança ia caminhando ao sabor da vida, pegando carona nas boas
possibilidades, nos bons momentos. Quantas vezes, ainda com uma lágrima
pendurada no rosto, já sorria para o novo instante que se apresentasse.
Eu/criança queria simplesmente ser feliz! Não complicava! Simplesmente
aproveitava, brincava, vivia e me entregava à vida!
Então, os
mais vividos, os mais sabidos dos perigos da vida e do mundo, vieram me educar.
Eles me ensinaram a “lutar contra” quaisquer ventos contrários... Nesse
aprendizado, fiquei atenta ao mal e aos maus, aprendi a me defender sempre e
atacar quando necessário, para me defender.
Aprendi a me prevenir contra possíveis perdas e perigos, remoendo lembranças
passadas e de olho no futuro... Fui perdendo a capacidade de simplesmente
soltar-me e entregar-me ao momento, mesmo aos bons momentos, porque aprendi a estar
sempre focada e bem adestrada na luta – “Viver é Lutar!”
Fui
tornando-me um adulto/capitão bem treinado para combater e enfrentar qualquer
tempo e tempestade, mas fui perdendo o contacto com o
marinheiro/criança que sabia curtir a viagem, mesmo com os
desafios do mau tempo. Afinal, quem tanto luta nem tem tempo de ser feliz! Quem
luta fica sério e não sorri! Quem tanto luta não avança, preso que está à luta!
Quem luta fica chato e mal humorado, porque tanta luta cansa e nos tira a
alegria!
Às vezes me
dou conta de que fui “bem educada”. Aprendi a pouco brincar ou sorrir, a
encarar tudo com bastante seriedade. Criei uma “casca grossa” para me defender,
que nem me permite chorar. E ensino como lidar com esse “mundo cão” às novas
gerações e penso: É assim mesmo! Fiquei adulta!
Mas, de repente, sinto que não é nada disso
que eu quero para mim! A criança que eu amordacei, enganei e “eduquei”, ainda
vive e me diz que ainda é tempo de depor armas, relaxar e seguir os “ventos a
favor” que acontecem em todo momento à minha volta. Ainda é tempo de reaprender a “ver” qualidades
nas pessoas, boas possibilidades nas situações e me chegar à vida... desarmada e sorrindo!
Viver não é
lutar! Viver é “entender a marcha, aprender com desafios e ir tocando em
frente”, atento e aproveitando sempre qualquer vento, qualquer brisa a favor!
Quero navegar sempre a favor de pessoas, idéias, coisas... A favor do bem, a
favor do que é bom... Quero ser feliz!