A
insatisfação é uma “dor” sutil, manhosa, escondida, que vai minando nossa
alegria de viver, corroendo nossas relações. Ela vai gerando uma raiva surda,
sempre latente, que não conseguimos disfarçar muito tempo, que vai se revelando
através do mau humor, da irritação e da impaciência. É diferente do desespero,
que exige mudanças mais rápidas em resposta a uma dor mais explícita.
Essa insatisfação é consequência de
um olhar sempre crítico, negativo, intolerante, pessimista, com que avaliamos
as pessoas e as circunstâncias. A insatisfação contínua esconde, ou revela, a
crença de que merecíamos mais e melhor da vida e das pessoas. Sentimo-nos, de
certa forma, vítimas magoadas de tudo e todos, entediados, aborrecidos,
insatisfeitos.
Quando estamos assim insatisfeitos,
com empregos, familiares, companheiros, conosco mesmos... normalmente
atribuímos a falta de brilho e alegria em nossas vidas às circunstâncias
adversas, às pessoas “incorrigíveis”, a um deus que nos deixou numa família tão
difícil, num mundo tão torto e, no mínimo, “chato”.
Nem nos passa pela cabeça que toda
essa insatisfação possa derivar da não aceitação dos fatos, das pessoas e de
que somos responsáveis pelas nossas escolhas - e suas consequências!
“Tá ruim”? Estou sufocado? Minha vida está sem brilho, sem
graça? O que posso fazer para melhorar? Como não posso modificar o outro, o que
posso fazer por mim nas relações, em vez de “emburrar”, “espanar” minha agonia
através de agressividade, indelicadeza, grosseria, mau humor – em vez de
envenenar meu viver com uma constante impaciência? Como sair dessa prisão?
O que podemos, e precisamos, é procurar
entender como “entramos” nesse viver áspero e descolorido, para procurar depois
modificar nosso olhar e nossos papéis nas relações e na vida. Afinal, minha
insatisfação é minha! Quero ou não quero trazer leveza, alegria, bons encontros
e um bom propósito à minha vida?
Continua...