Até mesmo antes de nascermos, já começamos a ser rotulados – por gênero,
pela filiação, pela cor, pela origem social... Outros rótulos vão-se seguindo,
a princípio simplesmente impostos. Somos “carimbados” pelos que nos recebem e
acompanham... Esses rótulos trazem, implícitos, todo um roteiro de como devemos
ser (pensar, sentir, agir) para um bom desempenho e nos negam as possibilidades
diferentes. Os rótulos tentam nos
uniformizar, calando e sufocando nossa individualidade, nossa unicidade, nossas
possibilidades de indagar, criar, modificar, inovar... Eles esperam e exigem
uma lealdade, uma obediência, que nos empareda, nos rouba a lealdade primeira –
a nós mesmos.
Os rótulos de nossos
vários papéis vão se multiplicando, pormenorizando, cada vez mais nos
aprisionando, exigindo, vedando nosso olhar e nosso coração a outras
possibilidades. Cada vez mais nos exigem “vestir camisas”, ter discursos e
paixões fechadas e lutar contra as diferenças e os diferentes. Tornamo-nos
seres repetidores, soldados perfilados num mundo de pode/não pode, de papéis
pré moldados que nos dizem, e cobram, como ser homem/mulher/gay, jovem/velho,
preto/branco/mestiço, “fiel” religioso/ateu, “fiel” partidário político/apolítico,
“fiel” torcedor de qualquer esporte, “fiel” familiar em qualquer laço,
“fiel”...
Assim, somos domados e
cerceados por muitos rótulos. Alguns foram recebidos à nossa revelia e outros
nós mesmos vamos escolhendo, mas todos nos aprisionam na medida em que
acreditamos neles e permitimos que nossa lealdade a eles seja maior que à nossa
individualidade, à nossa capacidade de forjarmos nosso próprio estilo de ser e
estar.
Temos dificuldade de
nos libertarmos dos rótulos que recebemos por acomodação, por preguiça, por
medo de mudanças, de ousar o novo, de falharmos, de sermos acusados de
infidelidade às expectativas dos grupos. Há um patrulhamento social dos grupos
aos quais “pertencemos”! É muito importante resguardar a liberdade de fazermos
escolhas sem que fiquemos emparedados por nossas próprias escolhas! Mas, também temos dificuldade de nos libertar dos
rótulos que escolhemos, ou não, por teimosia, orgulho, arrogância, vaidade...
Somos seres em aberto,
mutantes, caminhantes... Precisamos de abertura interior para estarmos sempre
observando, duvidando, refletindo, reafirmando, reavaliando, ousando, mudando,
criando nosso próprio momento. Precisamos desse espaço interior sempre
disponível para uma nova escuta e um novo olhar para o mundo e para nós mesmos,
para irmos criando nosso próprio caminho em vez de apenas seguirmos ou
aceitarmos caminhos que nos indicaram.