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domingo, 14 de setembro de 2014

RÓTULOS


           Até mesmo antes de nascermos, já começamos a ser rotulados – por gênero, pela filiação, pela cor, pela origem social... Outros rótulos vão-se seguindo, a princípio simplesmente impostos. Somos “carimbados” pelos que nos recebem e acompanham... Esses rótulos trazem, implícitos, todo um roteiro de como devemos ser (pensar, sentir, agir) para um bom desempenho e nos negam as possibilidades diferentes.  Os rótulos tentam nos uniformizar, calando e sufocando nossa individualidade, nossa unicidade, nossas possibilidades de indagar, criar, modificar, inovar... Eles esperam e exigem uma lealdade, uma obediência, que nos empareda, nos rouba a lealdade primeira – a nós mesmos.

            Os rótulos de nossos vários papéis vão se multiplicando, pormenorizando, cada vez mais nos aprisionando, exigindo, vedando nosso olhar e nosso coração a outras possibilidades. Cada vez mais nos exigem “vestir camisas”, ter discursos e paixões fechadas e lutar contra as diferenças e os diferentes. Tornamo-nos seres repetidores, soldados perfilados num mundo de pode/não pode, de papéis pré moldados que nos dizem, e cobram, como ser homem/mulher/gay, jovem/velho, preto/branco/mestiço, “fiel” religioso/ateu, “fiel” partidário político/apolítico, “fiel” torcedor de qualquer esporte, “fiel” familiar em qualquer laço, “fiel”...

            Assim, somos domados e cerceados por muitos rótulos. Alguns foram recebidos à nossa revelia e outros nós mesmos vamos escolhendo, mas todos nos aprisionam na medida em que acreditamos neles e permitimos que nossa lealdade a eles seja maior que à nossa individualidade, à nossa capacidade de forjarmos nosso próprio estilo de ser e estar.

            Temos dificuldade de nos libertarmos dos rótulos que recebemos por acomodação, por preguiça, por medo de mudanças, de ousar o novo, de falharmos, de sermos acusados de infidelidade às expectativas dos grupos. Há um patrulhamento social dos grupos aos quais “pertencemos”! É muito importante resguardar a liberdade de fazermos escolhas sem que fiquemos emparedados por nossas próprias escolhas!  Mas, também temos dificuldade de nos libertar dos rótulos que escolhemos, ou não, por teimosia, orgulho, arrogância, vaidade...

            Somos seres em aberto, mutantes, caminhantes... Precisamos de abertura interior para estarmos sempre observando, duvidando, refletindo, reafirmando, reavaliando, ousando, mudando, criando nosso próprio momento. Precisamos desse espaço interior sempre disponível para uma nova escuta e um novo olhar para o mundo e para nós mesmos, para irmos criando nosso próprio caminho em vez de apenas seguirmos ou aceitarmos caminhos que nos indicaram.

            Rótulos são inanimados, fechados, diretivos...  Mas oque valida a vida é o movimento e eu quero ser autora do meu estilo, do meu movimento na vida.