Sentimo-nos,
tantas vezes, cerceados, paralisados, em nossa caminhada rumo a um viver
melhor! E nos perguntamos: Quem me prende? Quem bloqueia a amplitude do
meu olhar para novos horizontes? Quem me incita a uma luta constante, que me
desgasta, que me tira a “graça”? Durante
tanto tempo procurei os culpados à minha volta, até que, finalmente, pude
entender que era eu mesma a carcereira, a senhora das chaves - que eu era
prisioneira de mim!
E então precisava descobrir onde
estavam as algemas que me impediam de ser e estar melhor, comigo mesma e em
minhas relações. Entendi que o orgulho não
me permitia enxergar minhas tantas outras dificuldades. Minha presunção, minha
pretensão, minha prepotência, minha vaidade, minha arrogância... mesmo quando
disfarçados dos outros ou ignorados por mim mesma, me isolavam e me cegavam
em minhas “certezas”. Como estar “juntinho”, próxima, se estava acima,
se entendia mais, se falava mais alto, se era melhor e por isso deveria
orientar e controlar ? Descobri que esse
orgulho detonava a raiva que sentia por não aceitar situações de impotência
ante as pessoas, ante os fatos, ante a vida, e a raiva me tornava impaciente,
irritadiça, até agressiva, afastando os outros
e adoecendo meu corpo. Roubava-me também a alegria de um desfrutar suave
e carinhoso com as pessoas que amava e
impedia a troca de ideias, que nos enriquecem nas relações. Pude notar que,
quanto mais isolada eu ficava, deixava que meu olhar para os ganhos materiais
ou afetivos dos outros se tornasse cheio de amargura invejosa, disfarçada pelo
despeito. E tentava preencher o vazio de alegria acumulando, com usura, sem
compartilhar, coisas, pessoas, saberes... numa gula sem fim e numa busca
contínua e insaciável por prazer. Ao descobrir tudo o que me aprisionava nesse
“mal viver”, descobri também que precisava vencer o desânimo, a preguiça, para
iniciar as mudanças que libertam!
Mas entendo que não devo brigar ou
repudiar minha humanidade ainda tão iludida, tão defensiva, tão agressiva...
tão imatura. Preciso sim, com firmeza,
honestidade, com paciência carinhosa e bem humorada, iniciar o reconhecimento e
abertura dos meus cadeados, porque eu sou a chave de mim! Preciso ir desmontando a falso/tolo
autoengano de soberba e superioridade e, sem humilhação, sem precisar parecer,
sem medo, poder desfrutar a tranquilidade
simples ser humilde e igual, de ser gente como qualquer gente, de poder acolher
ideias e pessoas e admirá-las, sem comparações, críticas e azedumes...Preciso
ir descobrindo a gostosura do com partilhar e substituir a disputa por cooperação, para sentir-me,
realmente, pertencendo nas relações! Quero exercitar a gostosura do desfrutar,
saboreando, com temperança, os prazeres da vida.
Aqueles são alguns dos cadeados que
nos atam à luta, ao vazio, à agonia. Essas são as chaves que podem abri-los e
os ganhos que nos esperam, que a vida nos promete, se nos dispusermos a romper
a inércia, a acomodação e usarmos, com boa vontade, de nossa “coragem para mudar”. A aceitação de minha humanidade
e a perseverança em libertá-la para patamares sempre melhores, me traz
serenidade e libera minha capacidade de amar.