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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O CADEADO E A CHAVE


          Sentimo-nos, tantas vezes, cerceados, paralisados, em nossa caminhada rumo a um viver melhor!  E nos perguntamos:  Quem me prende? Quem bloqueia a amplitude do meu olhar para novos horizontes? Quem me incita a uma luta constante, que me desgasta, que me tira a “graça”?  Durante tanto tempo procurei os culpados à minha volta, até que, finalmente, pude entender que era eu mesma a carcereira, a senhora das chaves - que eu era prisioneira de mim!

            E então precisava descobrir onde estavam as algemas que me impediam de ser e estar melhor, comigo mesma e em minhas relações. Entendi que o orgulho não me permitia enxergar minhas tantas outras dificuldades. Minha presunção, minha pretensão, minha prepotência, minha vaidade, minha arrogância... mesmo quando disfarçados dos outros ou ignorados por mim mesma,  me isolavam e me  cegavam  em minhas “certezas”. Como estar “juntinho”, próxima, se estava acima, se entendia mais, se falava mais alto, se era melhor e por isso deveria orientar e controlar ?  Descobri que esse orgulho detonava a raiva que sentia por não aceitar situações de impotência ante as pessoas, ante os fatos, ante a vida, e a raiva me tornava impaciente, irritadiça, até agressiva, afastando os outros  e adoecendo meu corpo. Roubava-me também a alegria de um desfrutar suave e carinhoso com  as pessoas que amava e impedia a troca de ideias, que nos enriquecem nas relações. Pude notar que, quanto mais isolada eu ficava, deixava que meu olhar para os ganhos materiais ou afetivos dos outros se tornasse cheio de amargura invejosa, disfarçada pelo despeito. E tentava preencher o vazio de alegria acumulando, com usura, sem compartilhar, coisas, pessoas, saberes... numa gula sem fim e numa busca contínua e insaciável por prazer. Ao descobrir tudo o que me aprisionava nesse “mal viver”, descobri também que precisava vencer o desânimo, a preguiça, para iniciar as mudanças que libertam!

            Mas entendo que não devo brigar ou repudiar minha humanidade ainda tão iludida, tão defensiva, tão agressiva... tão imatura.  Preciso sim, com firmeza, honestidade, com paciência carinhosa e bem humorada, iniciar o reconhecimento e abertura dos meus cadeados, porque eu sou a chave de mim!  Preciso ir desmontando a falso/tolo autoengano de soberba e superioridade e, sem humilhação, sem precisar parecer, sem  medo, poder desfrutar a tranquilidade simples ser humilde e igual, de ser gente como qualquer gente, de poder acolher ideias e pessoas e admirá-las, sem comparações, críticas e azedumes...Preciso ir descobrindo a gostosura do com partilhar e substituir  a   disputa por cooperação, para sentir-me, realmente,  pertencendo nas relações!  Quero exercitar a gostosura do desfrutar, saboreando, com temperança, os prazeres da vida.

            Aqueles são alguns dos cadeados que nos atam à luta, ao vazio, à agonia. Essas são as chaves que podem abri-los e os ganhos que nos esperam, que a vida nos promete, se nos dispusermos a romper a inércia, a acomodação e usarmos, com boa vontade, de nossa “coragem  para mudar”. A aceitação de minha humanidade e a perseverança em libertá-la para patamares sempre melhores, me traz serenidade e libera minha capacidade de amar.