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terça-feira, 23 de setembro de 2014

INSTRUIR E EDUCAR


           Estamos acostumados a pensar nestes verbos em relação ao Outro – nós atuando sobre os outros. Mas, primeiro é importante pensá-los em relação a nós mesmos, porque tudo começa EM MIM!

            Instruir – Vivemos sob o jugo de um mundo racional, mental, egóico, onde somos instruídos para a luta, para competir por ganhos materiais e poder, para descobertas técnicas que requerem cada vez mais informação. Recebemos instruções desde que nascemos e aprendemos a valorizar tudo que possa nos abastecer de mais saberes, desde os mais simples/básicos até os mais sofisticados e eruditos. Aprendemos que quanto mais e demais “saberes” e especializações tivermos, mais seremos valorizados, teremos mais prestígio, bens materiais...  Seremos, talvez, até “amados”!  E nesse mundo tão materialista é o que parece contar. Vivemos a era da informação/instrução porque esse é o caminho que nos mantém mais aptos a “vencer na vida”!

            Esse caminho da instrução tem uma direção que vem de fora (do mundo) para dentro de mim. “Aprenda”, repita, memorize, enriqueça-se com mais técnica, mais novas informações, destaque-se, vença, seja mais, saiba mais, tente mais... tente até ser feliz! Tudo se inicia na família(com “papos” unilaterais e corridos de instrução), continua “mais formal” na Escola, pela TV, nas Igrejas, nas Empresas, nas Especializações... No entanto, atenção! Somente, e tanta, instrução acaba por criar “linhas de produção” de saberes, adestrando nossos pensamentos e comportamentos, ignorando nossos sentimentos, bloqueando nossa criatividade, fragmentando nosso olhar e percepção em infinitas especializações, querendo talvez transformar-nos em super homens, mas tão pouco humanizados, num mundo tão sofisticado, desamoroso, frio, violento... 

            Educar – tem uma direção contrária. É levar para fora as minhas potencialidades e compartilhá-las com o mundo, com ética/respeito e verdade... Para isso preciso primeiro conhecê-las e às minhas dificuldades internas que as entravam.  Educar a mim mesma é ter uma atenção amorosa comigo, valorizando quem sou e, com paciência, ir modificando as distorções agressivas-defensivas do meu ego arrogante e competitivo. É buscar os valores éticos/espirituais que podem redirecionar, humanizar e trazer respeito amoroso à minha relação comigo mesma e com o mundo.

            A partir desse meu processo interior contínuo, posso entender que Educar  -  na Família, na Escola, na sociedade em geral, é ter disponibilidade para o processo do “descobrir-se” do outro, compartilhando experiências, estabelecendo e honrando com respeito os limites de cada um em suas interações com pessoas e situações.  Educar, assim, é valorizar nossa unicidade, nossa  individualidade, querendo realmente escutar suas ideias, seus sentimentos, respeitando suas possibilidades em cada fase de sua vida, sugerindo e trocando valores éticos para que possam   vivenciá-los no mundo material com toda a instrução que estiverem recebendo. Educar é ser o exemplo, um parâmetro, em nossa interação, de auto cuidado, o que certamente favorecerá a construção de sua auto estima.

            A instrução nos traz saber, mas somente sua utilização com a  ética que é trazida pela Educação poderá nos levar a sermos mais responsáveis, respeitosos, amorosos, mais aptos a utilizar tanta informação de modo a sermos mais felizes. Tanto a Instrução como  a Educação fazem parte do desenvolvimento e da evolução humana. E elas precisam acontecer, sim, tanto na Família quanto na Escola e por consequência na Sociedade. Não adianta reconhecermos que nós mesmos recebemos mais instrução do que educação, porque, já então, restava à Família pouco tempo para se verem/ouvirem, presos que estavam todos ao sistema herdado de estudar o que mais que pudessem, trabalhar muito para ganhar muito e comprar muitas coisas uns para os outros, para terem poder e serem invejados e “respeitados”. Não adianta nos horrorizarmos com a violência de uma sociedade sem amor e valores, nutridos que fomos pela mídia materialista, abandonados que fomos num “jogo de empurra” entre a Família e a Escola! Todos reclamam e criticam, mas “Quem me Educa?”  

            Não posso mudar ninguém, nem esse Sistema equivocado que nos “engorda” de coisas e carências afetivas. Mas não quero eternizá-lo, nem passar adiante esse modelo. Só posso mudar a mim! Então, cabe a mim cuidar de mim, me educar e compartilhar – educando- levando aos outros o melhor de mim.