Muito se
fala sobre a inocência e beleza da infância, mas, na verdade, as crianças quase
sempre foram desrespeitadas por serem fracas e vulneráveis num mundo adulto
poderoso, forte, competitivo e insensível. Nesse mundo, as crianças sofrem
abusos, abusos de muitas formas... Abusos físicos em trabalhos, em
castigos/pancadas, em desnutrição... Abusos psicológicos, quando aprendem o
“certo”, mas vêm o mundo adulto fazer o “errado”... Abusos afetivos, por
desnutrição de carinho, de amor, de atenção, de valorização. Abusos, quando são abandonadas, rejeitadas,
ridicularizadas, humilhadas... Abusos, quando são mantidas desnutridas
espiritualmente por falta de valores éticos, amorosos...
Crianças abusadas são crianças
feridas! Crianças sangrando em dor, confusas, emudecidas na dor, amordaçadas
pela culpa e vergonha de crimes que não cometeram, onde foram as vítimas e
ainda se tornam reféns desses segredos.Crianças em eterno medo, com gritos
calados pela força, pela desatenção e descrença do mundo...Crianças feridas com
a dor da impotência sem solução, num mundo de
força, injustiça e poder. Crianças feridas em disputas familiares, como
objetos, em nome do amor!
Mas, ainda assim, as crianças revelam a força da vida ao sorrirem, mesmo em
meio às lágrimas, à mínima brecha no sofrimento! Elas sobrevivem à infância abusada,
transformam-se em adultos, mas trazem sequelas desse início sofrido. Algumas crescem
e muitas vezes tendem a repetir os modelos que aprenderam com tanta dor. Cuidado!
Agora a força, o poder e aquela visão de mundo estão com elas! Outras guardam,
em maior ou menor grau, as marcas daquela infância ferida, marcas que podem se
perpetuar por toda a vida...
Hoje somos, cada vez mais,
informados, alertados, sensibilizados, para essa vulnerável fase da vida – para
as nossas crianças, para as crianças em geral. Mas é também importante “ouvir”
e sentir a criança que fomos, a criança ferida que “fala” forte e insistente em
nós e, talvez, ainda tenha gritos de dor abafados pela racionalidade de nossa
mente adulta. Como está a criança que
fomos e que, mesmo adultos, ainda permanece em nós? O quanto se sentiu
oprimida, abusada, disputada, enganada, envergonhada...? O quanto tem dificuldade de acreditar? O que
é, realmente, “certo ou errado” no que nos fizeram acreditar? Quanto, ainda,
nos sentimos inseguros, carentes de amor e valorização? Quais as marcas mais profundas que carregamos
conosco? Quais atitudes, resultantes de nossas sequelas, acabamos transmitindo
para outras crianças, para as nossas crianças?
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