Nunca os
espaços entre pessoas e povos estiveram tão divididos e defendidos como agora!
Parece que vamos, cada vez mais e mais, perdendo nossa capacidade de estarmos
juntos de modo aberto e desarmado e de compartilharmos espaços, paisagens,
natureza, horizontes... Vemos o paradoxo de cidades, onde se acotovelam
multidões em prédios, em ruas ou vielas, cada vez mais altos ou colados, mas com
todos seus moradores fechados e aferrolhados em seus espaços. Altos muros,
guaritas, portões, seguranças que garantam nosso isolamento... As aproximações
forçadas em espaços comuns geram constrangimento , mal estar, mal entendidos...
Dentro das casas e locais de trabalho, divisórias também garantem nossa
“privacidade”!
Mesmo em ambientes mais abertos, nos campos e praias,
assistimos espantados e agoniados todos se fechando, encastelando, em
verdadeiras fortalezas de concreto, defendendo suas “riquezas” materiais,
enquanto bloqueiam seus próprios horizontes... Ruas que se tornaram corredores murados,
feios, sem vida, onde o vento já não pode se espalhar e brincar com folhas de
árvores já abatidas pela concretagem dos espaços. Tudo e todos fechados, guardados,
emparedados... reféns dos próprios medos, das desconfianças, inseguranças!
Na verdade, o que vemos nessa triste
realidade reflete, e é também reflexo, do que vivemos em nossa intimidade e em
nossas relações. (e reflete nossas prioridades tão materiais!) Por que tento
tanto me proteger? Por que tenho tanto medo de proximidade, de intimidade? Será
que aprendi que se eu facilitar serei invadida, desrespeitada, magoada?
Muitas vezes temos tanta dificuldade
de estabelecer nossos limites nas relações, que, confusos e zangados, acabamos
por nos isolar atrás de muros, muralhas... Ou divisórias, que são “delicadas” e
práticas, friamente confortáveis, mas nos mantém isolados, sem calor... Preciso entender e sempre lembrar, que amar,
e bem me relacionar, não é misturar! Preciso de cercas baixas, claras, honestas e
firmes que me permitam ver/olhar as pessoas, sorrir para elas, respeitá-las
e aceitá-las em sua alteridade, poder até tocá-las, comunicar-lhes quem
sou/estou e o meu interesse em estar com elas. Essas cercas, estabelecidas com
assertividade, garantem o respeito às nossas diferenças e às nossas
necessidades individuais. Elas é que impedem a progressiva construção de muros
e muralhas – entre pessoas e povos.
Fico analisando como estão minhas
relações mais queridas, e as outras também. Como estou me posicionando em cada
uma: respeitando cercas ou atrás de muralhas? Se estiver muito defendida, como
posso ir “retirando pedras” dessas muralhas que tanto me isolam? Nesse castelo
está tão frio! Talvez só possa, no momento, ir treinando ser honesta e
assertiva; talvez possa, um dia de cada vez, dar um sorriso, um aceno...
Acredito que vale a
pena começar abrir meus espaços interiores e a derrubar os muros de concreto à minha
volta. Quero aprender a cumprimentar sorrindo os meus vizinhos, a plantar
árvores na minha rua, a gramar o meu jardim...
Quero abrir espaços em mim! Quero manter minhas cercas baixas, mas
firmes, para que garantam o meu desfrutar desses espaços abertos – em mim e à
minha volta!
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