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terça-feira, 27 de janeiro de 2015

MUROS E ESPAÇOS ABERTOS


           Nunca os espaços entre pessoas e povos estiveram tão divididos e defendidos como agora! Parece que vamos, cada vez mais e mais, perdendo nossa capacidade de estarmos juntos de modo aberto e desarmado e de compartilharmos espaços, paisagens, natureza, horizontes... Vemos o paradoxo de cidades, onde se acotovelam multidões em prédios, em ruas ou vielas, cada vez mais altos ou colados, mas com todos seus moradores fechados e aferrolhados em seus espaços. Altos muros, guaritas, portões, seguranças que garantam nosso isolamento... As aproximações forçadas em espaços comuns geram constrangimento , mal estar, mal entendidos... Dentro das casas e locais de trabalho, divisórias também garantem nossa “privacidade”!

Mesmo em ambientes mais abertos, nos campos e praias, assistimos espantados e agoniados todos se fechando, encastelando, em verdadeiras fortalezas de concreto, defendendo suas “riquezas” materiais, enquanto bloqueiam seus próprios horizontes... Ruas que se tornaram corredores murados, feios, sem vida, onde o vento já não pode se espalhar e brincar com folhas de árvores já abatidas pela concretagem dos espaços.  Tudo e todos fechados, guardados, emparedados... reféns dos próprios medos, das desconfianças, inseguranças!
            Na verdade, o que vemos nessa triste realidade reflete, e é também reflexo, do que vivemos em nossa intimidade e em nossas relações. (e reflete nossas prioridades tão materiais!) Por que tento tanto me proteger? Por que tenho tanto medo de proximidade, de intimidade? Será que aprendi que se eu facilitar serei invadida, desrespeitada, magoada?

            Muitas vezes temos tanta dificuldade de estabelecer nossos limites nas relações, que, confusos e zangados, acabamos por nos isolar atrás de muros, muralhas... Ou divisórias, que são “delicadas” e práticas, friamente confortáveis, mas nos mantém isolados, sem calor...  Preciso entender e sempre lembrar, que amar, e bem me relacionar, não é misturar!  Preciso de cercas baixas, claras, honestas e firmes que me permitam ver/olhar as pessoas, sorrir para elas, respeitá-las e aceitá-las em sua alteridade, poder até tocá-las, comunicar-lhes quem sou/estou e o meu interesse em estar com elas. Essas cercas, estabelecidas com assertividade, garantem o respeito às nossas diferenças e às nossas necessidades individuais. Elas é que impedem a progressiva construção de muros e muralhas – entre pessoas e povos.
            
            Fico analisando como estão minhas relações mais queridas, e as outras também. Como estou me posicionando em cada uma: respeitando cercas ou atrás de muralhas? Se estiver muito defendida, como posso ir “retirando pedras” dessas muralhas que tanto me isolam? Nesse castelo está tão frio! Talvez só possa, no momento, ir treinando ser honesta e assertiva; talvez possa, um dia de cada vez, dar um sorriso, um aceno...

 Acredito que vale a pena começar abrir meus espaços interiores e a derrubar os muros de concreto à minha volta. Quero aprender a cumprimentar sorrindo os meus vizinhos, a plantar árvores na minha rua, a gramar o meu jardim...  Quero abrir espaços em mim! Quero manter minhas cercas baixas, mas firmes, para que garantam o meu desfrutar desses espaços abertos – em mim e à minha volta!

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