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sexta-feira, 29 de maio de 2015

FACILITAÇÃO III




Continuação

            Qualquer mudança de comportamento requer que mudemos antes de tudo nossos pensamentos e as crenças de onde eles se originam. Se não mudar minhas crenças/pensamentos, não conseguirei novos comportamentos de modo duradouro.  
          
Quanto à Facilitação, preciso reconhecer, e crer, que não tenho poder de modificar qualquer pessoa, que somos impotentes para isso. Preciso reconhecer, e crer que aprender e se transformar com as experiências (boas ou más) da vida, é um direito inalienável de cada um, direito que nos foi dado com a vida por um Poder Amoroso Maior. Preciso entender, e crer, que temos a mesma origem sagrada, mas somos individualidades únicas em processo contínuo de crescimento e florescimento – eu sou um e o outro é outro, ainda que nos amemos e tenhamos escolhidos ser companheiros, pais, filhos, parceiros... Preciso entender, e crer, que facilitações devem ser só eventuais, leves, gentis... que não devem se perpetuar, acomodar e sufocar. Preciso estabelecer o respeito às minhas relações, guardar o espaço necessário para cada um Ser/Estar como escolher... e responder pelas consequências de suas escolhas . Preciso aprender a Cuidar de mim, ser responsável por mim e liberar os outros de minhas invasões e interferências.

Mas, mudar nossas certezas, crenças e hábitos, é tão difícil!  Estamos impregnados do modo de acreditar e agir antigo! As pessoas com quem nos relacionamos dessa forma adoecida também se acomodaram (mesmo reclamando) às nossas facilitações e ajudas. Muitas estão convencidas que não podem desistir das facilitações, que precisam dessas “muletas” que as seguraram, porque têm medo, porque ainda não aprenderam a caminhar sozinhas... Mas elas podem! Precisamos nos modificar, libertá-las, devolver-lhes seu próprio poder e dizer-lhes, afirmar-lhes, que elas também podem!

Eu acredito no poder sagrado de cada um de nós.Eu acredito em Grupos. Eu acredito na força acolhedora e transformadora dos grupos humanos. Nós, facilitadores aprendidos e treinados em constante exercício, precisamos nos reunir em mútua ajuda, em respeitosa parceria de sadia ajuda, para conseguirmos nos libertar desse equivocado fardo das crenças antigas e podermos reafirmar a escolha de nos relacionarmos de forma mais livre e real. Do compartilhar vem a descoberta, o entendimento, a força e a permissão para mudar, o enriquecimento de nossas possibilidades, a descoberta da beleza e complexidade de nossa humanidade.   Juntos, Um dia de cada vez, nos fortalecemos, nos permitimos fazer diferente e Viver e Deixar Viver!  


quarta-feira, 27 de maio de 2015

FACILITAÇÃO II




            É a necessidade compulsiva de “facilitar” a vida dos outros, interferindo, resolvendo e “dissolvendo” seus desafios, poupando-os sistematicamente de pequenas ou grandes tarefas, tomando decisões por eles, tentando poupá-los de erros e dores...Tentando viver suas vidas!  Mas por que, em nossas relações, familiares ou não, vamo-nos deixando envolver por essa “compulsão” de ajudar facilitando? 

            Fomos condicionados a acreditar que temos o poder e o dever, como familiares e bons amigos/cidadãos, de cumprir, com perfeição, nossos papéis de dirigir os outros, atender seus desejos, fazê-los “dar certo”, salvá-los, resgatá-los...  Acreditamos ser nosso dever fazer sua felicidade, ainda que isso seja uma expectativa e um dever irreal, ideal, ainda que seja, esta, uma missão impossível. Assim, tentamos e tentamos, por amor e com determinação! E acreditamos que, se cumprirmos com perfeição essas nossas obrigações, esses nossos papéis, seremos recompensados com nossa própria felicidade – seremos amados e valorizados.

            Na tentativa de realizar essa missão, precisamos controlar os outros e uma das formas mais sutis de tentar controlar é facilitar, cuidar de suas vidas, vivendo-as por eles. Para complicar, outras necessidades nossas interferem nessas crenças e vão distorcendo-as ainda mais.  Exageramos na “ajuda/facilitação”, fazendo o papel de Deus, tentando eliminar qualquer possibilidade de dor em seus caminhos, resolvendo seus problemas e desafios.   Também             gostamos de nos sentir poderosos, ao acreditar que os orientamos, salvamos, redirecionamos, que os modificamos.  E nos desdobramos nos papéis de vítimas heroicas, que se sacrificam para “ajudar/facilitar”.

            Acreditando ser esse o nosso destino, com dificuldades e ganhos, nem percebemos que, com essa Facilitação/Ajuda, vamos roubando as cenas do filme da vida do outro, as suas oportunidades de encarar seus desafios, de aprender com eles, de crescer... Quando fico facilitando, na verdade estou dizendo: Eu posso! Sei mais, sou mais forte! Você não pode, é fraco, precisa de mim! Querendo “cuidar”, vamos distorcendo papéis, uniformizando-os  sob nossos cuidados, transformando todos em “filhos”, em adultos infantilizados, dependentes... Facilitando, preenchemos nossas vidas carentes, dando a nós mesmos o prazer de fazer vontades e cuidar de quem amamos e afastamos o medo de vê-los errar ou de nos abandonar. “Não me custa nada!”   Mas custa ao outro, que não aprende, que se torna egoísta e se sente incompetente. 

Na verdade, estamos precisando de alguém que precise de nós!  Facilitando, criamos uma relação perversa de dependência onde abusamos e somos abusados... Onde, irritados e magoados, nos agredimos... Onde, desonestamente, nos manipulamos, uns mentindo e os outros fingindo acreditar... Onde estamos presos uns aos outros em lamúrias, manipulações, acusações e desculpas, num eterno e doentio jogo de culpas. E, quanto maior for o problema de um determinado “filho”, maior será a facilitação/ajuda e maior, também, essa  inter-dependência!

            Como sair desse jogo tão destrutivo?  Como abrir mão dessa missão absurda, irreal ,equivocada, de cuidar da vida do outro? Ou, como sair da prisão facilitadora que também os enreda e tão mal acostuma?

Continua...

sexta-feira, 22 de maio de 2015

O TEMPO QUE PASSA...



           Mais um dia, menos um dia...  Aniversários, datas que  marcam o tempo que passou, o que está passando... O tempo que passou está perdido!   Será que foi perdido?  Ou foi um presente que ganhamos da vida? São tantos tempos diferentes... a cada instante, a cada fase de nossas vidas.  Cada um com suas alegrias e suas dores.


            O tempo da infância, sem o poder de decisão, sob orientações e cobranças sem fim, com amor/por amor e até mesmo sem amor! Tempos de medos, sustos, lágrimas rapidamente substituídas por risadas e risos, risos dos que apenas começam...  Tempos que nos remetem a campos em constante desabrochar!


            Tempo de adolescência, de inseguranças e de ousadias, mas de quem precisa gritar que tudo sabe, para dizer quem é, para espantar o medo de ser, num mundo novo, duro e assustador. Tempo de críticas e dos julgamentos inflexíveis dos pouco vividos. Tempo do desabrochar da sexualidade, da busca de companheiros, da capacidade de criar, de procriar, de frutificar... Tempo de gostosas desordens, de barulho, de movimento...


            Tempo da mocidade, de inícios mais intensos, da construção de família, de carreiras sonhadas ou apenas de luta, sem sonhos, de sobrevivência. Tempo de quem se sente dono de seus passos, que se deslumbra com a liberdade e tantas vezes se perde, atordoado, ao saboreá-la! Tempo de busca de segurança e bens materiais, de prestígio, de poder...  Tempo que nos faz sentir fortes ramos, prontos para a colheita dos frutos. Tempo de vitórias, de acertos e tantos desacertos! Tempos que vão deixando marcas, nos preparando para a maturidade...


            Tempo da maturidade, são tempos de um novo frutificar - de ideias e valores... Tempo da colheita dos acertos e desacertos, da experiência que ficou. Tempo da fortaleza de um tronco que apoia e sustenta os mais jovens. Tempo que nos traz melhor consciência de nossa humanidade, da humanidade de todos...  Tempo de questionamentos, que nos chamam para nós mesmos, para o mistério de quem somos, porque viemos, para onde será que vamos...


            Tempo da velhice, tempo já bastante longo dos mais vividos... Tempo de perda das forças, da beleza.  Tempo do desgaste físico, pelo longo tempo de uso (e abuso). Tempo de cada vez maiores limitações físicas/materiais, que parecem favorecer a busca do imaterial, do espiritual!  Tempo de abrir mão da prepotência e do controle e conhecer a humildade da aceitação. Tempos muito emotivos, de interiorização, do desfrutar de silêncios, do gosto pela ordem, de um gradual isolamento pela perda das “turmas”, dos amigos, dos amores mais queridos... Tempos dos que já perderam suas raízes e agora se sentem, eles próprios, as raízes das outras gerações. Tempo de revisão, de retrospectivas, de culpas, arrependimentos, perdões e aceitação... de mais tempo interior, de maior intimidade conosco mesmos e com o Poder Amoroso que nos originou. Tempos de novas considerações: Quando? Para onde? Como será? Tempos da busca e encontro de um sentido maior para o passar de todos esses tempos...

                O tempo passa e passando nos machuca, nos afasta de nosso passado, parecendo  nos roubar os pedaços mais queridos de nossa vida! Mas, mais do que nunca, é tempo de deixar o passado para trás, sabendo que ele vive intensamente em nós, no que somos no presente. É viver com intensidade esse presente, preparatório certo de um devir pleno da vida que jamais se acaba...  O tempo está passando, dia a dia, momento a momento, nos carregando e cumprindo sua tarefa de nos acompanhar na incrível aventura dessa passagem. O tempo é generoso porque se renova no aqui/agora  construindo e garantindo a eternidade para todos nós.


domingo, 17 de maio de 2015

SOMBRA E LUZ


            Sombra e Luz coexistem em nós.  E quanta sombra ainda trazemos!  Sombras do desamor, da luta, do ódio, do medo... Sombras detonadas por nosso instinto animal de sobrevivência e que permanecem sob um aspecto mais sofisticado, tecnológico e intelectual em nossa busca da posse material, afetiva, de poder. Sombras que desenvolvemos como nossas características, “colhidas” ao longo de experiências em vidas... São  sombras de orgulho, de raiva, de inveja, de luxúria, da mentira, da preguiça, da vaidade...

            No entanto, nossa Luz Interior Original, ainda que ignorada, nos mobilizava e chamava!  Aprendemos, então, a não vê-la e a não ouvir a persistência de seu chamado. Aprendemos, também,
 a esconder e justificar nossa sombra para melhor “defendê-la”, “explicando” sua existência para nossa própria defesa, ou  para promover “o bem” de todos!  Para tanto, usamos fortes e coloridas máscaras, às vezes tão brilhantes que até parecem luz! Negamos nosso orgulho, vaidade, ódio, intolerância... sob o pretexto arrogante de “salvar  ou lutar pelos diferentes e infelizes”!  Muitas vezes acabamos por acreditar nesse brilho artificial e nos tornamos prisioneiros dessa luz de mentira, acorrentados à nossa sombra negada e escondida.

            Preciso da coragem que vem da nossa dimensão de Luz para encarar e aceitar essa Sombra que faz parte de mim. Preciso acolhê-la, sem justificativa, apenas acolhê-la como parte da minha realidade, para poder transmutá-la, aos poucos, em Luz. Nessa nossa Luz, que está sempre presente, é sempre paciente, mas firme, clara, verdadeira e amorosa. Nossa Luz não precisa brigar, lutar contra, exorcizar, execrar ou exterminar a nossa Sombra! Ela vai, apenas, acolhendo-a, iluminando-a, transformando-a...

Quanto mais confio e me entrego ao Amor que emana de minha Luz, centelha divina em mim, mais vou clareando meus porões sombrios. Ante a chegada da Luz, as sombras se “entregam” para serem iluminadas: Orgulho, inveja, mentiras, disfarces, cobiça, vaidades... todo esse meu  interior escuro e, ainda tão humano, vai-se rendendo à beleza e “gostosura” de um viver iluminado e aquecido pela Luz que emana das faces do Amor.

            O processo é lento porque as Sombras são poderosas e muito antigas, mas a Luz, Original e Divina, que antes ignorávamos ou nem ouvíamos, cada vez mais, vem se chegando e fortalecendo, se fazendo ouvir e “ver”, tornando-se mais viva e brilhante - para nós e em nós!

Sem desistir, com paciência e perseverança, iremos levando essa nossa Luz, em sintonia crescente, ao encontro de sua Origem e Destino – a Luz Maior! Esta é uma certeza sagrada!      

segunda-feira, 11 de maio de 2015

DATAS FESTIVAS EM FAMÍLIA





            Páscoa, Natal, Casamentos, Dia dos Pais, Dia das Mães...  Esses dias de comemoração em família são muito estranhos! Eles trazem o peso de grandes contrastes afetivos: alegria/tristeza,  sonhos/decepções, agora/ontem, o que foi bom e o que não foi... 

            Trazem sempre uma expectativa!  Há uma excitação no ar : preparativos, presentes, gulodices, convites, obrigações, agrados, reencontros, reconhecimento, agradecimento, gratidão... Trazem, então, tudo isso para um dia especial de encontro familiar, quando Família torna-se algo muito maior do que laços consanguíneos. São palavras, beijos e abraços,flores, músicas, lágrimas...

 São dias de obrigatória romaria pelos muitos ramos da família e amizades, romaria cheia de alegrias e cansaços.    Às vezes, são dias de ansiosas esperas, de frustradas expectativas e de magoadas retrospectivas da história de cada um, quando achamos  que fomos muito, quando muito esperamos e, então, nada acontece...

São dias, também, de doídos vazios pela distância, pelas perdas, pelo esquecimento, pela perda de utilidade e de valor... Dias que marcam a “fila que anda” das gerações – umas chegando e as mais velhas se isolando, já não acompanhando, quase não pertencendo aos novos ramos da família. Velhas gerações sentindo-se, cada vez mais, serenas, profundas, fortes e algo entristecidas raízes.  Dias e datas que revelam tão bem o passar do tempo, o caminhar da Família.    Para os jovens, marcantes festejos que parecem prometer um futuro só de alegrias... Para os mais velhos, o peso das lembranças de outras alegres festas em contraste com as atuais, cada vez mais isoladas e silentes.   Para os festejados, muita alegria. Para os esquecidos, só mágoa e tristeza... Para os mais idosos, uma suave nostalgia...

            E o dia seguinte?  É o vazio depois de tantas emoções e já traz as saudades!    Dia de “rescaldo”, dia de rever o de ontem, de filosofar e continuar à espera de novas datas, novos encontros, novas emoções!