É a
necessidade compulsiva de “facilitar” a vida dos outros, interferindo,
resolvendo e “dissolvendo” seus desafios, poupando-os sistematicamente de
pequenas ou grandes tarefas, tomando decisões por eles, tentando poupá-los de
erros e dores...Tentando viver suas vidas!
Mas por que, em nossas relações, familiares ou não, vamo-nos deixando
envolver por essa “compulsão” de ajudar facilitando?
Fomos condicionados a acreditar que
temos o poder e o dever, como familiares e bons amigos/cidadãos, de cumprir,
com perfeição, nossos papéis de dirigir os outros, atender seus desejos,
fazê-los “dar certo”, salvá-los, resgatá-los... Acreditamos ser nosso dever fazer sua
felicidade, ainda que isso seja uma expectativa e um dever irreal, ideal, ainda
que seja, esta, uma missão impossível. Assim, tentamos e tentamos, por amor e
com determinação! E acreditamos que, se cumprirmos com perfeição essas nossas
obrigações, esses nossos papéis, seremos recompensados com nossa própria
felicidade – seremos amados e valorizados.
Na tentativa de realizar essa
missão, precisamos controlar os
outros e uma das formas mais sutis de
tentar controlar é facilitar, cuidar
de suas vidas, vivendo-as por eles. Para complicar, outras necessidades nossas
interferem nessas crenças e vão distorcendo-as ainda mais. Exageramos na “ajuda/facilitação”, fazendo o
papel de Deus, tentando eliminar qualquer possibilidade de dor em seus
caminhos, resolvendo seus problemas e desafios. Também gostamos de nos sentir poderosos, ao acreditar
que os orientamos, salvamos, redirecionamos, que os modificamos. E nos desdobramos nos papéis de vítimas heroicas,
que se sacrificam para “ajudar/facilitar”.
Acreditando ser esse o nosso
destino, com dificuldades e ganhos, nem percebemos que, com essa
Facilitação/Ajuda, vamos roubando as cenas do filme da vida do outro, as suas
oportunidades de encarar seus desafios, de aprender com eles, de crescer... Quando
fico facilitando, na verdade estou dizendo: Eu posso! Sei mais, sou mais forte!
Você não pode, é fraco, precisa de mim! Querendo “cuidar”, vamos distorcendo
papéis, uniformizando-os sob nossos
cuidados, transformando todos em “filhos”, em adultos infantilizados,
dependentes... Facilitando, preenchemos nossas vidas carentes, dando a nós
mesmos o prazer de fazer vontades e cuidar de quem amamos e afastamos o medo de
vê-los errar ou de nos abandonar. “Não me custa nada!” Mas
custa ao outro, que não aprende, que se torna egoísta e se sente incompetente.
Na verdade, estamos precisando de alguém que precise de
nós! Facilitando, criamos uma relação
perversa de dependência onde abusamos e somos abusados... Onde, irritados e
magoados, nos agredimos... Onde, desonestamente, nos manipulamos, uns mentindo
e os outros fingindo acreditar... Onde estamos presos uns aos outros em
lamúrias, manipulações, acusações e desculpas, num eterno e doentio jogo de
culpas. E, quanto maior for o problema de um determinado “filho”, maior será a
facilitação/ajuda e maior, também, essa inter-dependência!
Como sair desse jogo tão destrutivo? Como abrir mão dessa missão absurda, irreal ,equivocada,
de cuidar da vida do outro? Ou, como sair da prisão facilitadora que também os
enreda e tão mal acostuma?
Continua...
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