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quarta-feira, 27 de maio de 2015

FACILITAÇÃO II




            É a necessidade compulsiva de “facilitar” a vida dos outros, interferindo, resolvendo e “dissolvendo” seus desafios, poupando-os sistematicamente de pequenas ou grandes tarefas, tomando decisões por eles, tentando poupá-los de erros e dores...Tentando viver suas vidas!  Mas por que, em nossas relações, familiares ou não, vamo-nos deixando envolver por essa “compulsão” de ajudar facilitando? 

            Fomos condicionados a acreditar que temos o poder e o dever, como familiares e bons amigos/cidadãos, de cumprir, com perfeição, nossos papéis de dirigir os outros, atender seus desejos, fazê-los “dar certo”, salvá-los, resgatá-los...  Acreditamos ser nosso dever fazer sua felicidade, ainda que isso seja uma expectativa e um dever irreal, ideal, ainda que seja, esta, uma missão impossível. Assim, tentamos e tentamos, por amor e com determinação! E acreditamos que, se cumprirmos com perfeição essas nossas obrigações, esses nossos papéis, seremos recompensados com nossa própria felicidade – seremos amados e valorizados.

            Na tentativa de realizar essa missão, precisamos controlar os outros e uma das formas mais sutis de tentar controlar é facilitar, cuidar de suas vidas, vivendo-as por eles. Para complicar, outras necessidades nossas interferem nessas crenças e vão distorcendo-as ainda mais.  Exageramos na “ajuda/facilitação”, fazendo o papel de Deus, tentando eliminar qualquer possibilidade de dor em seus caminhos, resolvendo seus problemas e desafios.   Também             gostamos de nos sentir poderosos, ao acreditar que os orientamos, salvamos, redirecionamos, que os modificamos.  E nos desdobramos nos papéis de vítimas heroicas, que se sacrificam para “ajudar/facilitar”.

            Acreditando ser esse o nosso destino, com dificuldades e ganhos, nem percebemos que, com essa Facilitação/Ajuda, vamos roubando as cenas do filme da vida do outro, as suas oportunidades de encarar seus desafios, de aprender com eles, de crescer... Quando fico facilitando, na verdade estou dizendo: Eu posso! Sei mais, sou mais forte! Você não pode, é fraco, precisa de mim! Querendo “cuidar”, vamos distorcendo papéis, uniformizando-os  sob nossos cuidados, transformando todos em “filhos”, em adultos infantilizados, dependentes... Facilitando, preenchemos nossas vidas carentes, dando a nós mesmos o prazer de fazer vontades e cuidar de quem amamos e afastamos o medo de vê-los errar ou de nos abandonar. “Não me custa nada!”   Mas custa ao outro, que não aprende, que se torna egoísta e se sente incompetente. 

Na verdade, estamos precisando de alguém que precise de nós!  Facilitando, criamos uma relação perversa de dependência onde abusamos e somos abusados... Onde, irritados e magoados, nos agredimos... Onde, desonestamente, nos manipulamos, uns mentindo e os outros fingindo acreditar... Onde estamos presos uns aos outros em lamúrias, manipulações, acusações e desculpas, num eterno e doentio jogo de culpas. E, quanto maior for o problema de um determinado “filho”, maior será a facilitação/ajuda e maior, também, essa  inter-dependência!

            Como sair desse jogo tão destrutivo?  Como abrir mão dessa missão absurda, irreal ,equivocada, de cuidar da vida do outro? Ou, como sair da prisão facilitadora que também os enreda e tão mal acostuma?

Continua...

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