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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

O OUTRO




          O Outro é qualquer pessoa à minha volta. Alguns são mais próximos, até muito próximos. Alguns são mais distantes e até de muitos deles só sei pelo noticiário.  Embora eu não perceba, qualquer desses Outros, assim como eu, tem uma história de vida, tem características próprias, defeitos, qualidades e potencialidades. Cada um é uma manifestação do Sagrado e traz em si uma centelha da Luz Original, ainda que, em alguns, esteja muito encoberta e em outros, já menos velada. Embora com a mesma origem, enfrentamos desafios da vida de modo único, particular – acertando ou tropeçando.

            Não levamos em conta que somos diferentes quando julgamos uns aos outros com base em nossos valores, nossas experiências únicas, nossos gostos, nossas expectativas...  Tratamos o Outro conforme nossas necessidades emocionais, materiais, profissionais –  meu familiar ,minha empregada, meu cliente, meu paciente...  Os relacionamentos tornam-se superficiais e ,com a pressa de nossos dias, tornam-se descartáveis, facilmente substituíveis.

            Tudo se complica quando, em nome do amor, nos “apoderamos” do Outro e ele se transforma em nosso Objeto querido: meu filho, meu marido, meu pai... E jogamos sobre o Outro o peso dos nossos desejos, dos sonhos de maior importância e nossas expectativas mais ansiadas e agoniadas. Recebemos deles a mesma carga, e assim nos angustiamos todos, nos invadimos, nos deixamos invadir, mentimos e cobramos todo o tempo. Tudo porque esquecemos o que o Outro quer, o que o Outro pode, o que o Outro É. Irritados, magoados, confusos... lutamos o tempo todo com o Outro que tanto amávamos!   Nessa dolorosa confusão, a saída é nos lembrarmos de que somos duas pessoas diferentes, não importa o quanto nos amemos e sejamos próximos.

 Não sei, realmente, quem é o Outro!  Não tenho nenhum poder sobre ele. Não posso modificá-lo. Não tenho o poder de fazê-lo feliz, nem de fazê-lo infeliz, não posso ser responsável por atender suas expectativas, nem ele por atender as minhas. Preciso respeitar sua unicidade, seus limites! Preciso me lembrar sempre – Ele é um mistério. Ele é o Outro!

E eu? Eu também sou um mistério! Ainda um mistério, até para mim! Preciso me ocupar comigo mesma para ir-me  desvelando:  Qual minha história? Quem sou eu? O que posso? O que quero? Preciso que respeitem, também, o meu espaço, a pessoa que sou! É minha responsabilidade conhecer e estabelecer meus limites, comunicá-lo ao Outro e honrar-me, me respeitando.  Só então, poderei, realmente, me amar e aceitar o outro. Quando estiver difícil a relação, não vou me magoar. Vou apenas guardar meu espaço e lembrar-me:   o outro é o Outro!

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