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quinta-feira, 2 de agosto de 2012

ENCANTO



              As frustrações, as desilusões, as perdas, que tanto valorizamos, remoemos e eternizamos, acabam por nos tirar o Encanto da vida. Vamos perdendo aquele doce encantamento que tivemos e que, já agora, só vislumbramos no olhar e no riso das crianças muito pequenas. Um olhar de novidade, de deslumbramento com paisagens e com os simples fatos corriqueiros do dia, do momento... O sorriso gratuito, espontâneo, às vezes ainda sobre lágrimas de alguma tristeza de momento, sorriso que revela o eterno desfrutar do Agora. O Encanto que demonstram na espontaneidade como reagem à música, à dança, aos presentes, às histórias... O Encanto que demonstram quando recebem do mundo adulto, atenção respeitosa, carinho... Encanto de quem simplesmente aceita, curte, se entrega, Encanto de quem ainda confia...

            Mas, logo, logo, em nome de “educá-las”, criamos expectativas sobre como deviam pensar, sentir e agir para serem aceitas e valorizadas. Preparando-as para um “mundo duro”, ensinamos a serem desconfiadas ou “espertas”, a lutarem para vencer, possuir... E, cada vez mais cedo, as crianças tornam-se “adultos” vividos, aguerridos, desonestos, magoados, ressentidos... Perdem o Encanto, o encantamento com a vida...

            E eu me vejo hoje um adulto “pé no chão”, amadurecido, sem expectativas idealizadas ou irreais, mas, também, sem muito Encanto! Tanto investi em aprender a lidar com as perdas, com a dor, que, desatenta, algumas vezes acho que perdi a espontaneidade, a capacidade de acreditar, de ver tudo de incrível e maravilhoso que existe à minha volta, mesmo num mundo tão duro e caótico. Desaprendi, o encantamento com a vida!
Eu me vejo tão séria! Sorrio menos, cada vez menos! E me assusto quando me reconheço tão “adaptada”, tão defendida nesse mundo doido, seco, árido de sorrisos e ternuras.

            Acho que tenho atentado pouco para a gostosura das coisas simples que me cercam; tenho perdido de vista a beleza implícita em tudo que me cerca: coisas, natureza, pessoas, relações... Entre tantas libertações que busco para mim, preciso me libertar da “seriedade” rígida, da atitude vigilante e fechada de defesa.

            Se quero ser feliz, não posso perder o Encanto de desfrutar a vida, a capacidade de me surpreender, de rir e me deleitar com seus mistérios, grandes e pequenos, acontecendo à minha volta, a cada momento.

            “Quem tem olhos de ver, que veja”... e se encante!

Comentários / Contato : mariatude@gmail.com