Quantas vezes ao dia nos sentimos vítimas de abuso? Estamos
condicionados a entender o abuso, principalmente, quando ligado a abusos físicos/
sexuais. Na verdade, sofremos abusos num âmbito muito mais abrangente e
praticamente todo o tempo: pela falta de educação e civilidade das pessoas em
geral – os zangado, os arrogantes, os ansiosos, os apressados... É um “salve-se
quem puder”! Sofremos pelas deformações do nosso modelo materialista, que
privilegia o lucro a qualquer preço, a competição, a correria, porque “tempo é
dinheiro”, e a esperteza, que usa propaganda, mesmo enganosa, porque ela é a “alma
do negócio”! Sofremos abusos psicológicos, afetivos, pelas pessoas que amamos,
que nos ameaçam, sutilmente ou não, de desamor, de desvalorização, de rejeição,
de nos preterirem, caso não atendamos às suas expectativas! Sofremos abusos
desde a infância, uns mais, outros menos, com as ironias, os deboches, as
pancadas, em família ou não, como forma de domínio e poder, nos fazendo sentir
desvalorizados, humilhados, impotentes...
É cansativo,
desanimador, irritante, massacrante, termos que estar sempre vigilantes,
ameaçados e abusados de tantas maneiras, atacados de tantas direções, acuados
como animais num mundo que, assim, se nos afigura como uma selva perigosa! E o
mais terrível é que vamos aprendendo a reagir à altura, aprendendo a “dançar
conforme a música”. Tornamo-nos, então, sob variados aspectos, muitas vezes, os
que abusam, os espertos, os manipuladores, os agitados, apressados, agressivos,
violentos, covardes...
Não tenho o
poder de modificar as pessoas e nem o “Sistema”, mas não devo, e também não quero, tudo justificar como sendo
normal, repetindo: “é assim mesmo!”. Muitas vezes o normal não é o natural, não
é o correto, o justo e o ético; não é o que favorece sermos felizes. Preciso
estar em contacto íntimo comigo para “ver” o que acredito, o que quero, o que
posso. Preciso desistir de reagir, de “dar o troco”, de me adaptar ao que é tão
perverso! Preciso aprender a parar, pensar e agir com assertividade e generosidade. Desistir de reclamar em OFF,
lamuriando-me junto a outros agredidos e revoltados, e tomar uma atitude firme,
dentro das minhas possibilidades – fazer o que posso, fazer a minha parte,
pequena que seja. Isto me faz sentir atuante, com lealdade a mim e respeito a nós.
Não quero me deixar absorver e
passar a fazer parte de um Sistema abusivo e tão desumano. Esta seria minha
maior perda, o maior dano resultante desses abusos. Evitar
isso é minha responsabilidade!
Comentários / Contato : mariatude@gmail.com